Chapter Twenty Eight.

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— Onde estava com a cabeça? — a voz foi arrogante — Você tem noção do trabalho que eu tive para convencer aquele policial a retirar a queixa?

— Ele nem deveria ser policial, na minha opinião.

— E você acha que eu ligo para a sua opinião? Não importa. O juiz também não liga, a única coisa que importa é o ato de agressão em si, então da próxima vez pense duas vezes. — de repente pareceu se lembrar de algo importante — Ah, e pense duas vezes antes de mentir o seu nome também. Tem noção de quantas leis eu tive que infringir para poder livrar a sua cara hoje?

— Aposto que eles não tiveram dificuldades em ser comprados. — retruquei.

— Eu estou falando sério, Catarina. Que ideia foi essa?

— Eu não podia arriscar a carreira dela. — confessei — Se algum repórter soubesse de alguma coisa, ela estaria encrencada, e está apenas começando.

— E o que você tem a ver com isso? Não foi ela quem começou isso tudo? — foi rude novamente — A sua sorte é que ainda não haviam encaminhado a queixa ao juiz. Da próxima vez, você veja bem no que vai se meter.

Respirei fundo.

— Eu sei.

— Acho que não ouvi bem. — a voz foi mais firme e respirei fundo, já sabendo o que necessariamente havia errado.

— Não vai haver uma próxima vez. — me corrigi.

— Melhor assim. — retrucou — Vamos logo. Eu vou te levar para casa.

— Antes, eu preciso ir ao hospital.

Ele se virou rapidamente, na entrada da delegacia, e eu o encarei.

— Você está sentindo alguma coisa? — foi direto.

— Não.

— Então o que tem que fazer no hospital?

— Eu não posso deixa-la sozinha.

— Você me pediu um médico, eu consegui um médico. Pediu discrição, eu fui discreto. Ela já está sendo tratada, onde deveria estar. — ele respirou fundo — Você foi algemada, presa, arriscou a sua carreira e até mesmo a sua vida. O que mais você quer arriscar por conta dessa menina, Catarina?

— Eu preciso vê-la, pai. Preciso saber que está bem, só isso.

— Eu não quero saber. Entre no carro.

Diferentemente da minha mãe, meu pai possuía a mente fechada. É como se, para ele, eu não tivesse valor nenhum dentro da sociedade. Eu nasci e renasci várias vezes ao longo de duas décadas, e nunca esperei que ele entendesse, ou que ninguém entendesse, mas doía. Dói porque eu conheço o quanto evoluí como pessoa ao longo desse tempo, me assisti tornar uma versão melhor de mim mesma. Dói porque só eu conseguia enxergar as minhas próprias melhorias, e de como me desenvolvi para ser exatamente quem eu queria ou deveria ser agora, e sempre anseio por transformações cada vez mais complexas e evoluídas de mim mesma.

Eu não o culpo, porque ele não podia saber. Na verdade, ninguém poderia saber. Não havia como saberem quantas vezes eu precisei morrer e acordar na manhã seguinte, ou de como dói destruir meus próprios ossos e fazer com que voltem a crescer. Mas tudo bem. Porque eles não sabem. E eu entendo. Cada um enxerga e leva a vida da forma que quer, da forma que precisa e se encaixa. E minha mãe até tenta entender, de alguma forma.

Na verdade, ela tenta me analisar de todas as formas. E depois desiste. Mas ele insistia em me fazer sentir um lixo só porque eu não estava propriamente inserida em uma propriedade capitalista que ele considerava digna. A diferença é que nós dois depositávamos nossas energias em estruturas diferentes. Eu buscava muito mais minha evolução interna do que externa. E ele não aceitava isso. Por ele, eu estava no topo da empresa, ao lado dele, fazendo rios de dinheiro. Mas isso nunca havia feito parte dos meus planos. E ele nunca aceitaria isso.

ConsequênciasOnde histórias criam vida. Descubra agora