— É claro que não sabíamos. Só saímos para dar uma volta, e acabamos parando ali.
— Então não sabiam que estavam invadindo?
Nós encharcávamos o carpete de água, visto que nem sequer havíamos tido tempo para secar direito. O homem sentado na cadeira à nossa frente nos encarava com uma expressão desconfiada, enquanto mexia no bigode grosso, nos encarando seriamente. Alice tremia ao meu lado, não sabia se pelo frio das roupas íntimas que ainda estavam molhadas por baixo, ou pelo medo de talvez nunca ter estado em uma delegacia antes.
— Não fazíamos ideia que era propriedade privada. — reafirmei — Tínhamos bebido um pouco demais, e estávamos seguindo os vagalumes.
— Pelo que o policial descreveu, vocês pareciam saber muito bem o que estavam fazendo lá. — o delegado deu uma olhada fugaz por trás do meu ombro, observando furtivamente o policial atrás de mim, que deu uma risada disfarçada de tossida.
Respirei fundo, dosando as palavras antes de responder.
— Como disse, nós tínhamos exagerado no limite do álcool. As coisas saíram um pouco do controle. — por um segundo, algo me pareceu curioso — Aliás, como souberam que estávamos lá?
Ele parou para pensar por um momento.
— Tenho certeza de que deve ter havido, no mínimo, uma denúncia. — comentou, mas olhou novamente por cima do meu ombro, para encarar o policial que se mantinha atrás de mim, no aguardo.
— Sim, senhor. Um civil avistou na hora que as duas entraram. — a voz falou, grave. Era a mesma voz que nos havia interceptado na cachoeira.
O delegado assentiu, antes de virar-se novamente para mim.
— Sabe que havia uma placa de "entrada proibida", não é? — falou.
— Não senhor, a placa ficava lá do outro lado, nós entramos por trás. — Alice me cortou antes que pudesse falar e eu a encarei de lado, como se a fuzilasse.
Ele repuxou um sorriso vitorioso nos cantos dos lábios. Porque ela havia dado exatamente o que ele queria. Uma confirmação de que não estávamos tão inocentes assim.
Ela me olhou com uma expressão de quem se desculpa e eu balancei a cabeça negativamente, respirando fundo mais uma vez antes de me voltar ao delegado, que dessa vez já tinha uma postura ligeiramente irônica.
— Parece que vocês não estavam tão inconscientes assim, não é mesmo?
— Nós estamos apenas acampando no vilarejo. — mordi o canto do lábio — Voltaremos ao Rio pela manhã. Não tem nada que o senhor possa fazer por nós?
Ele ergueu uma das sobrancelhas, me encarando meio surpreso. Mas no final, apenas soltou uma risada baixa, balançando a cabeça negativamente.
— Vocês dois podem nos dar licença? — ele falou novamente por sobre o meu ombro.
Olhei para trás por um momento para notar que os dois policiais se entreolharam antes de sair pela porta, nos deixando com o delegado que continuava a nos encarar com a mesma expressão séria.
— E então? — encarei-o.
— Eu diria que a situação de vocês é um tanto complicada. — começou a falar, e foi a minha vez de repuxar um sorriso no canto dos lábios.
— Como assim?
— Vocês foram pegas em flagrante. — explicou.
— E não tem nada que o senhor possa fazer? — Alice cortou novamente, demonstrando até um certo desespero na voz, e eu segurei seu pulso delicadamente.
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Consequências
RomanceEu a olhava como se de alguma forma conseguisse absorvê-la e, enquanto a observava, lembrava de todo o passado que ambas trazíamos nos ombros. A encarava numa tentativa débil de decifrá-la, e me questionava como alguém tão pequena, de certa forma, c...