Chapter Twenty Seven.

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— Então a namoradinha é famosa?

Respirei fundo ao ouvir a voz daquela detenta novamente. Realmente já estava me dando nos nervos.

— Cara, você não tem mais o que fazer? — apertava a cânula do meu nariz entre o polegar e o indicador, enquanto mantinha meus olhos fechados. A testa franzida.

— A vida dos outros acabou virando um esporte.

— Espero que não apoie suas esperanças de vida nisso, então.

Ela continuou balbuciando coisas que não dei ouvido. Alice tremia, encolhida contra mim, e abracei mais o seu corpo, puxando-a na minha direção.

Por mais preocupada que estivesse, meu corpo esquentava cada vez mais de raiva daquela situação toda.

— Ei! — quase pulei na cama ao ouvir o chute nas barras, fazendo com que ressoassem em um tinir agudo — Como disse que se chamavam mesmo?

— Carmem e Aline. — mordi o canto do lábio.

— O delegado está esperando.

— Você conseguiu o médico? — observei-o de canto.

— Acha que isso aqui é o quê? Um spa? — ele ergueu uma das sobrancelhas — Uma coisa de cada vez, anda logo.

Dei uma última olhada em Alice, tocando seu ombro de leve.

— Eu vou falar com o delegado, está bem? — sussurrei perto de seu ouvido — Evite fazer esforço, eu volto logo. Vou tirar a gente daqui.

Ela assentiu, sem conseguir falar muito, e me afastei devagar, soltando seu corpo, e indo em direção à grade que ele destrancava.

— Pode deixar que eu cuido bem dela. — a detenta cutucou e eu trinquei os dentes, apenas a olhando de lado.

Passei lentamente pela porta assim que o policial a abriu, fechando e voltando a trancar logo em seguida.

— Não tente nenhuma gracinha, heim? — me olhou firme nos olhos, antes de indicar com o queixo para que eu passasse na frente.

Por gracinha, ele se referia a fugir? Como se eu fosse tentar ir a algum lugar, com Alice daquele jeito.

A porta da sala se abriu, proporcionalmente à expressão de surpresa na cara do delegado, que me observava. Não soube dizer ao certo se ele realmente atuava muito bem, ou se estava de fato surpreso, ou melhor, completamente alheio ao que havia acontecido ali.

— Você de novo? — perguntou, e eu apenas abri um sorriso amarelo, nada forçado.

— Voltamos à estaca zero.

— Agressão física a um policial? — ergueu uma das sobrancelhas — E você pareceu tão sensata enquanto conversava comigo.

— Sensatez tem limites.

— Não deveria. — ele escrevia alguma coisa, enquanto olhava para baixo — Onde está a sua amiga?

— Na cela. E necessitando de um médico.

— Ouça, é Carmem, não é?

— Na verdade, delegado, eu posso falar com o senhor em particular?

— Dessa vez não, mocinha. — rabiscou mais alguma coisa no papel, que não consegui ler — Tudo o que tiver de ser dito, você pode falar, que está entre gente de confiança.

Olhei por sobre o ombro mais uma vez, erguendo uma sobrancelha, ao observar o policial que me olhava com ar curioso.

De confiança, não é?

ConsequênciasOnde histórias criam vida. Descubra agora