Chapter Thirty Nine.

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Eu nunca vou te contar isso. Tu nunca vai saber. Mas eu tenho uma blusa aqui em casa, e ela é linda, uma das minhas preferidas. Eu sempre tomo o maior cuidado e carinho com ela, quase como se ela tivesse vida própria. Sempre tento deixar o mais limpa e cheirosa possível, sabe? Ela é branca, quase cor de neve, delicada, mas tem o tecido pesado. É toda tricotada e os buracos entre um ponto e outro são bem espaçados, então quando a coloco, é como se ela me vestisse, mas ao mesmo tempo deixasse meu corpo todo à mostra.

Livre. Solto.

Tu não comprou essa blusa para mim, não me deu de presente. Ela não era tua, não tem teu perfume, nem teu formato. Tu nunca nem sequer tocou nessa blusa. Mas ela é tua. É a tua cara.

Eu usei essa blusa na praia, enquanto conversava contigo, tu aí e eu daqui. Quando a gente não podia se ver, e tu me dizia para olhar a lua e fechar os olhos para te sentir próxima. Eu sempre obedecia. Às vezes ainda obedeço. Mesmo tu não me mandando mais. Mesmo tu nem querendo mais. Olho para a lua e depois fecho os olhos. Usei algumas outras vezes também, quando procurei refúgio nas tuas palavras, quando buscava ouvir tua voz. Ela me lembra de ti, sempre carrega memórias tuas nos fios.

Essa blusa é o mais próximo que tenho de ti. Ela me abraça. Envolve meu corpo. Me aquece. Me deixa até mais bonita. Me cobre. Me protege. E ela é minha, mas é tudo que tenho teu. É tua, mas sempre será só minha.

— Eu não estou acreditando nisso. — respirei fundo, apertando meus olhos enquanto encarava o tecido da blusa branca, passando as pontas dos dedos pelos fios — Todo mundo sabia? Todo mundo? — encarei Angélica pelo canto do olho, depois fui passeando os olhos pelo quarto, avistando Gabriel e Diego em seguida — E eu estava aqui sofrendo complexo de corno manso, pagando de palhaça?

— Não fica brava, Ali. Foi para o seu bem. — Gabriel suspirou — Nós pensamos que, se você não soubesse, ficaria mais fácil para... Você sabe, seguir em frente. — coçou a nuca — Nem ficar se magoando, sabe?

Trinquei os dentes, enquanto absorvia. Gabriel adentrou em um monólogo sobre os passos para a superação, e literalmente entrava por um ouvido e saía pelo outro. Eu não conseguia prestar atenção em nada, nada do que ele dizia.

Diego se recostava à janela do canto, olhando a vista do quintal, enquanto Angélica estava encostada à penteadeira, olhando na nossa direção. E eu só conseguia pensar que havia sido a última a saber.

— Faz quanto tempo que ela voltou? — perguntei de repente e senti Gabriel travar em seu monólogo, e logo em seguida olhar para Angélica, que me olhava com expressão apreensiva.

—Bom, a gente não sabe ao certo quanto tempo faz que ela voltou. — mordeu o lábio — Só ficamos sabendo há pouco tempo que...

— Faz quanto tempo que vocês sabem? — cortei.

— Oi? — falou de repente — É, bom... Já tem um tempinho.

— Um tempinho quanto?

— É... — Gabriel gaguejou de novo.

— Pelo amor de Deus, Alice. — Diego se meteu — Já tem quase um mês que nós sabemos.

— "Nós". — repeti — Então realmente todo mundo sabia há um tempão. — desviei meus olhos de Gabriel para a silhueta de Angélica encostava na penteadeira — Até você, Angel?

Ela recolheu o corpo em um gesto de timidez, e eu já sabia a resposta.

— Todos vocês acompanharam meu estado nesse meio tempo, e era engraçado me deixar desse jeito?

ConsequênciasOnde histórias criam vida. Descubra agora