A madrugada trazia uma certa paz. Talvez fosse a forma com que a vida ia se despertando calma e serenamente junto aos primeiros raios de sol. As folhas das árvores balançavam lentamente enquanto eram ninadas pelo vento. Os passarinhos começavam a ecoar cantigas ao longo do horizonte à medida que o sol ia clareando a relva mais alta das árvores.
Mas essa paz só durou, é claro, enquanto a vida ainda estava adormecida.
— Gabriel, o que você está fazendo? Era para ter virado ali. — Diego gritava dentro do carro, como uma velha ranzinza — Você vai atrasar o cronograma todo, o próximo retorno fica a mais de 15 km.
— Eu não sei ler mapas, sou só o motorista — Gabriel se defendeu — O copiloto é você. Deveria ter avisado antes.
— Agora a culpa é minha?!
— Que culpa, gente? Para que culpa? Ninguém tem que ser culpado não, bora se acalmar, bora? — Angélica tentava apaziguar a situação.
— Você não está seguindo o GPS. — Diego acusou novamente, ignorando Angélica completamente.
— Que GPS, cara? Nem tem sinal de celular, como vou usar o GPS?
— Deveria ter na cabeça! — acusou novamente.
— Por Diós, calma-te. — Martín se intrometeu também, com a voz cheia de sotaque.
A discussão continuou por alguns minutos, e eu me perguntava como Alice conseguia estar calma e quieta, até notar que tinha um pote de sanduíche no colo. Parecia já estar no terceiro.
— Você não para nunca de comer? — Juliana ecoou meus pensamentos — Pelo amor de Deus, para onde vai isso tudo?
Alice a encarou sem a mínima vontade, mostrando uma das bochechas cheia, enquanto mastigava.
— Eu como quando estou nervosa. — explicou.
Juliana riu baixinho, mas revirou os olhos discretamente, depois voltando a olhar para a janela.
— Gente, vai demorar muito para chegar ao próximo posto? — perguntou.
Eu a encarei, unindo as sobrancelhas.
— Por quê?
— Preciso ir ao banheiro.
— Não dá para segurar? — Diego virou para trás por um momento.
— Não gente, eu também quero. Vamos dar uma paradinha no posto, mesmo. — Alice também falou.
— Para quê posto? — Gabriel falava enquanto olhava a estrada — A gente para aqui no encostamento. Fazemos um paredão e vocês vão aqui no mato.
— Ah, mas para você é muito fácil, é só colocar o negócio para fora. — Alice retrucou — A gente tem que tirar a roupa e abaixar no chão.
— Por isso eu falei do paredão. — Gabriel explicou.
— Mas não é questão de alguém ver. — Alice falou e eu a encarei de lado — Vai que, do nada, aparece um bicho, bem ali no meio?
— Alice, não fala em bicho! — Juliana se arrepiou ao meu lado.
Eu me sentia como um iô-iô, rodando a cabeça de um lado ao outro.
— Mas vê, é sério. Imagina só: você está lá bem tranquila fazendo o que tem de fazer, e aí do nada aparece um bicho e morde o teu negócio?
— Ave, credo! Pois tá bom, a gente para no posto. — Angélica entrou na fala, e quase soltei uma risada devido à expressão de "derrota" de Gabriel — Bom que eu aproveito e vou também.
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Consequências
RomanceEu a olhava como se de alguma forma conseguisse absorvê-la e, enquanto a observava, lembrava de todo o passado que ambas trazíamos nos ombros. A encarava numa tentativa débil de decifrá-la, e me questionava como alguém tão pequena, de certa forma, c...