Chapter Forty.

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Esses dias eu percebi que talvez a minha vida funcione como meu rosto. É isso mesmo que você leu. Talvez toda e qualquer influência ou escolha que eu faça depois é estampada bem no meio da minha cara, como uma forma da vida falar "toma aí, otária, não foi isso que tu quis?".

Eu sou um ser vivo pacífico na maior parte do tempo, não forço nada. E grande parte das coisas, eu engulo. E olha que eu sou magra demais. Mas é justamente isso. Meu corpo absorve tudo numa rapidez que não é desse mundo. E por eu sempre tentar enterrar meus problemas na escuridão do esquecimento, naquele velho "vai pela sombra", enquanto fico maquinando planos para dissolvê-los no silêncio, eles acabam se refletindo na minha pele, nesses pontos de erupção vulcânicos.

Se eu durmo angustiada, irritada, explodindo numa névoa de energia negativa, na manhã seguinte está lá o problema estampado na minha cara, dizendo: "oi sumida, rs". E aí é que está. A coisa engraçada da história. Minha vida funciona da mesma forma. Vou confessar uma coisa: antigamente, no auge dos meus 13 para os 15 anos, quando nascia uma espinha nova no meu rosto, minha reação não podia ser mais adulta: eu me escondia debaixo do travesseiro e chorava. Chorava, me odiava, não aceitava de jeito nenhum que o meu rosto nem oleoso era, e estava aquele monstro ali.

Hoje em dia isso não acontece mais (É SÉRIO!), mas eu ainda erro na mesma coisa. Muitas vezes eu não encaro a vida com tanta maturidade, meu maior erro é ser sentimental demais ao invés de sensível demais. E o pior é que eu tento esconder isso do mundo. Às vezes com sucesso, mas a maioria das vezes sem nenhum. E hipocrisia a gente vê por aqui, porque meus conselhos são ótimos para o mundo todo, mas se eu for tentar seguir minha própria lógica, me afogo.

Quando o monstro aparecia, depois de secar o rio jordão em lágrimas no meu travesseiro, eu ia e tentava ignorá-lo. Tentava colocar uma máscara em cima dele e ressaltar os olhos, a boca, com maquiagem. Colocava alguma roupa que eu me sentisse mais segura, mais bonita (que eram poucas, já que a grande maioria fazer parecer que eu tinha menos peito do que realmente já não tinha). E aí é que está, eu não cobria a falha. Não cobria, nem dava para cobrir, então o que eu fazia era aumentar o valor de outras coisas para tentar compensar.

No final das contas, quando também não funcionava muito bem, ao invés de tentar me acertar com o monstro, para que ele se fosse no tempo dele sem deixar marcas, eu mesma tentava melhorar as coisas forçando-o a ir embora, espremendo, empurrando, quase batendo com a vassoura. O que na realidade, até podia melhorar um pouco na hora que finalmente conseguia, depois de ter quebrado tudo. Mas tudo o que fazia, era forçar algo que não devia vir à tona naquele momento, e de maneira completamente bruta. Além de machucar, também deixava marcas.

E ainda continua sendo um dos meus maiores erros.

— Como você está?

— Enjoada.

Diego me olhava de lado vez ou outra, enquanto o motorista do carro vez ou outra olhava pelo retrovisor.

— Quer conversar...

— Não. — cortei, e em seguida respirei fundo — Eu só queria conseguir dormir.

— Tente apoiar a cabeça no banco, quem sabe não consegue descansar?

Mas eu não conseguia. O eco na minha cabeça era forte demais.




— Já chega. — falou rudemente.

— Mãe...

ConsequênciasOnde histórias criam vida. Descubra agora