Chapter Four.

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O problema é que me perdi, e não sei aonde me achar. Passei por tantos lugares, vi tantas pessoas e, com isso, não sei dizer o momento exato em que me deixei de lado, que me deixei afastar, que permiti que ela entrasse e me carregasse. Fiquei aqui tão pobre de mim e tão cheia dela; eu sempre adorei estar cheia dela, mas quando ela me deixou aqui sem identidade, apenas com digitais que não eram as minhas, eu não soube mais ser eu... mas também não quero mais ser ela.

Quero me olhar no espelho e não ver mais o nome dela em meus olhos, sentir o gosto dela em minha boca e ver suas marcas em minha pele. Eu a quero fora de mim.

— Você não veio de carro? — Juliana perguntou, talvez pela quinta vez, enquanto eu checava novamente se o preço dinâmico do aplicativo de carros particulares, havia abaixado.

— Eu te disse, deixei o carro em casa. Vim com a Marina.

— A essa hora da madrugada, quem que está pedindo tantos carros particulares por aqui?

— Ju, é a última semana de férias. Da grande maior parte das pessoas. Você acha mesmo que fomos as únicas a vir para uma festa hoje? — encarei-a de canto.

— Não... mas possivelmente somos as únicas que tivemos a festa encerrada mais cedo por ter passado mal. — ela me cutucou, abrindo um sorriso — Por falar nisso, você está melhor?

Pude sentir sua mão passeando pela minha nuca enquanto acariciava a raiz de meus cabelos.

— Sim, a cabeça passou. A água de coco acabou fazendo realmente bem.

Nós duas nos viramos para batidas baixinhas na porta. Gabriel, pela primeira vez, botou só a cabeça pela fresta da porta, sem se anunciar antes de entrar.

— Desculpem meninas, não queria atrapalhar. — abriu um sorriso largo — Mas nós pedimos pizza. Por que vocês não vem comer alguma coisa com a gente?

— Já estamos nos arrumando para ir embora.

— Isso se conseguirmos pedir o carro. — Juliana cutucou e eu revirei os olhos.

— Pronto. Está decidido. Vocês descem para comer, e é o tempo do carro chegar.

Eu não sou obrigada. Não sou obrigada a descer e fazer cara de paisagem enquanto assisto todo mundo brincando de casinha como se nada acontecesse, e finjo estar sã.

— Por mim, pode ser. — Juliana respondeu, antes que eu pudesse sequer piscar.

— Fechado. Vocês gostam de pizza de palmito?

Ergui uma sobrancelha.

— Sério?

Ele riu.

— Não, é brincadeira. Comprei de frango também. A de palmito é só para a Angélica.

Juliana estava mais do que feliz em me puxar pela mão, enquanto caminhava atrás de Gabriel, guiada pela promessa de pizza de frango. Parecia que, de alguma forma, eu estava atada a garotas que tinham um fraco por comida. E isso não havia mudado.

Não lembrava a última vez que havia vindo na casa de Gabriel, mas já parecia bem diferente de como estava no começo da noite. As luzes estavam acesas, e onde antes havia uma enorme pista de dança, próximo à escada, agora se encontravam dois grandes sofás de couro caramelo, separados por uma mesa de centro, um na frente do outro. Toda a decoração da sala havia voltado ao seu lugar de origem, e me perguntei em que momento isso foi feito. Ou se eu passei realmente tanto tempo inconsciente assim.

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