Chapter Fifteen.

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Eu a encarava enquanto ela levava as torradas calmamente à boca. Contei pelo menos cinco, enquanto permanecia em silêncio. Vez ou outra ela levantava os olhos na minha direção, e depois voltava às torradas. Quase como se sentisse culpada de alguma forma.

— Você se lembra de alguma coisa, de ontem à noite? — perguntei enquanto a encarava.

Ela riu, o rosto se avermelhando um pouco.

— Olha, eu me lembro de muita coisa sobre ontem à noite.

— Não é sobre isso que estava falando. — soltei uma risada ligeiramente nervosa — Você se lembra de termos conversado de madrugada?

— Nós conversamos de madrugada? — ela uniu as sobrancelhas — Eu lembro de ter ficado tão exausta, que acho que peguei no sono. — riu sozinha — Como sempre.

— Hm.

— Mas por quê?

Eu encarava a expressão de Juliana enquanto me olhava, aparentemente confusa. Ela realmente parecia não fazer a menor ideia sobre o que eu estava falando. E não sabia dizer até que ponto isso seria bom.

— Nada demais. Eu estava pensando sobre o que conversamos ontem. E também queria te pedir desculpas por não ter comentado nada. — desconversei — Não devemos explicações uma à outra, mas também não foi certo não falar nada. Ainda mais se você gosta de Alice.

— Quem gosta dela é você. — soltou as palavras no ar e eu a encarei, apenas arqueando uma das sobrancelhas — Desculpe. Foi sem pensar.

— Eu vou para o estúdio, Ju. Mais tarde nós conversamos.

Eu entendia, em partes. É realmente complicado você estar com alguém que mantem um contato frequente com o ex, ainda mais se esse ex ainda significa alguma coisa. Não que ela tenha a mínima noção do que de fato Alice significava para mim. Assim, no passado mesmo, porque isso precisa acabar. Mais cedo ou mais tarde. Já que por bem, não tinha rolado até agora, então seria por mal, mesmo.

— Olha como ela está chique! — Angélica me recebeu com um abraço que estranhei, na porta do estúdio — Teu amorzinho já chegou, e ele é um fofo!

Logo em seguida já parei de achar estranho. Sabia que era o jeito dela mesmo.

— Meu amorzinho? — uni as sobrancelhas.

— É, mulher. O menino que vai gravar contigo. — saiu adentrando comigo pelos corredores — Ele é colombiano, talvez tu demore um pouquinho para se acostumar com o sotaque, mas ele veio com uns exercícios de entrosamento que eles fazem por lá. É tua cara, tu vai gostar.

Dessa vez eu ri. Conhecia bem sobre os exercícios de entrosamentos que, no teatro, éramos obrigados a fazer. A arte do reconhecer-se no outro.

— Por que minha cara?

— Tu não é hippie? — perguntou e eu a olhei unindo as sobrancelhas, ela riu em seguida — Desculpa, é Alice que chama tu assim.

— Ela que é doida.

— Ela só é meio perdidinha, mas doida aí eu já... — ela começou a falar, mas de repente a voz dela se perdeu no ar.

Pude observar, bem no centro do setting, uma rodinha formada. Reconheci o garoto do baixo, que agora estava sentado sobre um cajon; reconheci também o baterista, o qual não sabia o nome, que vi de relance no outro dia; Alice estava sentada ao lado de Diego, e havia um rapaz no centro da roda, sentado no sofá. O cabelo era bem baixo, como se tivesse saído há pouco tempo de uma carreira militar, a barba mal feita e possuía um físico mediano, nem com os braços estrinchados, porém também não era magricelo. Ele segurava o violão com uma familiaridade linda de se ver, e enquanto dedilhava os acordes, podia notar as tatuagens que fechavam seu braço direito. Ele abriu um sorriso ao nos ver.

ConsequênciasOnde histórias criam vida. Descubra agora