Chapter Twenty.

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A empolgação inicial da viagem em grupo, durou poucos minutos. Talvez só o fato de acordar cedo, por si só, já cause cansaço. O copiloto dormia caído de lado, com a cabeça apoiada sobre o vidro, na frente. Gabriel, sempre que podia, parava para cutuca-lo, mas ele só se mexia e voltava a dormir. Martín também estava com a cabeça apoiada na janela. Tinha os olhos fechados, como se tentasse dormir, mas sabia que ainda não dormia de fato, porque abria os olhos às vezes, quando Gabriel passava por algum buraco. Juliana não tinha demorado nem cinco minutos acordada, logo pegou no sono. Dormia com a cabeça apoiada no meu ombro. E Alice deitou um pouco o corpo para apoiar a cabeça na cadeira do banco.

— Tu também não consegue dormir?

Ouvi a voz de Angélica soar baixa dentro do espaço do carro, e quando a observei, vi que estava com o corpo meio de lado, o braço apoiado no encosto do banco, enquanto a cabeça estava encostada na janela. Parecia estar com as pernas em cima da cadeira vazia ao lado.

Sorri para ela, balançando a cabeça negativamente.

— Eu até estou com sono, mas meu corpo está alerta demais para conseguir dormir.

— Fica com medo não, Gabriel está até dirigindo melhorzinho. — se inclinou em minha direção para sussurrar.

— É mesmo? Pior que eu nem estava pensando nisso, mas agora que você falou...

— Vocês sabem que o carro não está se guiando sozinho, e eu estou ouvindo, não é? — ele alfinetou, fazendo com que nós duas ríssemos.

— Eita amor, tu está aí? Nem tinha te visto. — Angélica riu e o beliscou pelo canto — É brincadeira, palhaço.

Ele riu e voltou a se concentrar no volante, e Angélica voltou a me encarar.

— A gente ainda tem um tempinho antes do sol nascer. — se recostou mais ao banco, escorregando o corpo — Tu está parecendo bem cansada.

— Não consegui dormir à noite. — fiz uma careta — Ultimamente tenho tido insônia.

— Tu tem pensado demais na hora que deita?

Respirei fundo, mas quando percebi que Juliana se mexeu com o movimento dos meus ombros, soltei o ar lentamente para evitar acordá-la. Angélica levou a mão à boca para prender uma risada, e eu mordi o lábio para fazer o mesmo. Balancei a cabeça positivamente, em resposta à ela.

— Tu quer conversar sobre isso? — sussurrou com mais cuidado.

Dessa vez, balancei a cabeça negativamente.

— Acho que só preciso desviar minha atenção.

Ela assentiu, e virou um pouco o rosto, olhando para fora da janela.

— Eu gosto demais do céu nesse horário. Assim, quando está perto de amanhecer, sabe? Tudo fica mais escuro, mas lá nos cantos começa a dar uma clareada leve, enquanto a luz vai saindo de fininho. — abriu um sorriso — Se tu olhar atentamente, vai ver que o céu está sorrindo. Isso é muito bonito.

Eu achava lindo essa paz de espírito de Angélica. Esse jeito que tinha de enxergar beleza em tudo, e absorver essa beleza para si. Olhei para a janela de onde estava, mas não tinha a mesma visão privilegiada dela. Não conseguia ver direito.

— Há muito tempo eu não paro para reparar como as coisas simples são bonitas. Talvez o problema more por aí.

Ela desviou os olhos para mim de novo.

— O simples é completo, Cat. Tem uma coisa muito mágica nesses detalhes mais bobos, porque as coisas simples se resolvem sozinhas. — falou simplesmente — Tu já reparou que o universo a todo momento despeja elementos incríveis para ti? — eu ergui uma das sobrancelhas — Olha à tua volta, mulher. Se tu focar nos detalhes certos, tu sobrevive.

ConsequênciasOnde histórias criam vida. Descubra agora