Chapter Twenty Six.

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Três coisas passaram na minha frente na hora. Em câmera lenta e em ordem consecutiva. A primeira coisa que eu consegui ver foi a expressão do policial, que passou da surpresa ao choque em questão de milésimos de segundos; a segunda coisa foi a mudança de cores da sirene que piscava em cima da viatura, o que talvez devesse ter me servido como um alerta, tipo uma "visão" de um futuro não tão distante, mas não interferiu em nada; a terceira coisa foi o rosto dela. De repente entrando na frente entre o meu rosto e o dele.

— Ei, ei, ei. Olha para mim! — senti suas mãos em meu rosto, e aos poucos consegui focalizar em sua voz, travando meus olhos nos seus — Isso, respira fundo, eu estou aqui.

Ela tinha a expressão atenciosa, os olhos próximos dos meus, porém com um toque assustado enquanto eu a observava. Meu corpo ainda ardia pela tensão presente. Mas suas mãos queimavam em meu rosto, forçando meu olhar a se manter fixo no dela, frente a mim.

— Vamos embora? — sua voz continuava macia enquanto olhava meus olhos — O sol daqui a pouco vai nascer e eu quero assistir com você.

Respirei profundamente no momento em que ela encostou a testa na minha, fechando os meus olhos em seguida. Me mantive quieta, enquanto ouvia sua voz ressoar mais uma vez, em um sussurro, enquanto nossas respirações se misturavam.

— Vem embora comigo, vem, amor. Não vale à pena!

Lentamente abri meus olhos, no momento em que senti uma de suas mãos envolver minha cintura. Meu corpo ainda travava um pouco, mas deixei que ela aos poucos me virasse na direção contrária, em direção ao acampamento. Mais uma vez respirei fundo, antes de forçar meus pés a acompanharem os seus em passos lentos. Sua mão se mantinha firme ao redor de minha cintura, enquanto obrigava os meus pés a se arrastarem.

Mas eles nem precisaram ir muito longe.

Antes que eu pudesse dar o quarto passo, ouvi a voz ressoar de trás de nós.

— Trate de colocar uma focinheira no seu bichinho.

Eu travei no mesmo lugar, repuxando um sorriso irônico no canto dos lábios. Ainda consegui sentir a mão de Alice apertar a minha. E pude sentir seu olhar sobre mim, por uma fração de segundos. Uma fração de segundos que durou tempo suficiente para eu sentir quase um olhar de suplica diante do meu. E depois não havia mais nada. Não havia ela, não havia ele, não havia luz, não havia nada. Nada além do impulso.


No final das contas, não há necessariamente uma dúvida. Há apenas uma suave e doce incerteza, que leva ao ponto de partida, fazendo questionar sobre o que teria mudado, e se de fato teria mudado, se a escolha tivesse sido outra. O que está feito, está feito. Aconteceu o que tinha de acontecer. Como disse Angélica: "as coisas são simples e se resolvem sozinhas". Cabe a você se expandir a cada erro cometido, e evitar cometê-los novamente. Ainda mais quando se há mais em jogo do que se possa contar.

— Me desculpe. — repeti novamente, talvez pela terceira vez, respirando fundo em seguida — Eu não costumo perder o controle dessa forma.

Para minha surpresa, ela riu.

— Você até que se controlou muito.

Alice estava deitada no colchão surrado, encarando o teto acinzentado. Eu continuava sentada no chão frio, enquanto a observava. Apenas uma luz fraca entrava pelas frestas da janela que ficava no canto da parede, no alto, por entre as barras de ferro.

— Não era para você estar aqui, sabe disso, não é? — falei, meio baixo — Você não tinha nada que ter ido para cima dele.

Ela virou o rosto lentamente na minha direção, os olhos encontrando os meus.

ConsequênciasOnde histórias criam vida. Descubra agora