47: Ele É Um Assassino

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16 anos. Essa era a quantidade de tempo que eu não ia a igreja até aquele noite, a noite de Natal. A igreja era praticamente do lado então, mesmo no frio, nós fomos e voltamos a pé. Depois nós jantamos, mamãe disse, por causa religião, meus avós se importavam mais com o Natal do que com a Ação de Graças.

E aquilo era bom, porque eu concordava, Natal tinha um significado por trás, mesmo não tendo uma fé forte como outra pessoas, eu acreditava naquilo. Ação de Graças é um dia de hipocrisia, onde pessoas que vivem reclamando da vida, lembram de agradecer. Bem, isso é uma coisa boa.

Nós jantamos e depois todos foram ajudar a limpar as louças. Aproveitei esse momento para ir ver como meu irmãozinho que não tinha saido da cama naquele Natal estava. Lucas estava acordado, mas meio distraído de baixo de tantas cobertas, então demorou um pouco para me notar próxima à porta. E, quando o fez, tomou um pequeno susto.

- Feliz Natal! - Falei.

- Feliz Natal! - Ele disse com a voz tremida.

Eu fui até ele e sentei no chão próximo à cama.

- Sei que deve estar com raiva de mim...

Ele riu pelo nariz.

- Você consegue presumir isso?

- O sistema da Equipe já tomou conta de Seattle, o que deixa qualquer traficante de fora em segundo plano e difícil de encontrar. A Equipe não pode mais vender para você, e ninguém quer vender para o garoto que acabou com um esquema. Isso significa nada de drogas para você, provavelmente o que tinha acabou e agora... Eu sou a única que sabe que isso é abstinência? Lucas!

- Você pode, por favor, falar mais baixo?

Eu o obedeci e comecei a falar mais baixo.

- Eu...bem... Eu percebi que não estava fazendo isso da maneira certa, você é meu irmão, meu irmão mais novo e eu ignorei isso.

- Chama isso de ignorar?

- Não é o que eu estou querendo dizer, achei que estava só na cocaína, mas pela forma que sua abstinência está ocorrendo, você se viciou em heroína.

- Lucinda...

- Lucas, não é tão facilmente que uma pessoa se vicia, eu vivo nesse meio, a maior parte das pessoas que conheço que usam drogas, não são viciados, porque não é assim que funciona. Se você está assim, não foi só a droga, foi estresse ou outro tipo de peso. Então, por favor... por favor me diga o que está acontecendo, porque não é qualquer coisa.

Ele me encarou por alguns segundos e então suspirou e olhou para o teto.

- Sabe quando você acha que conhece alguém muito bem, mas descobre que essa pessoa é capaz de coisas impensáveis?

- De quem você está falando?

E então ele voltou a olhar para mim, e dessa vez com uma expressão a mais nos olhos.

- Ele é um assassino, Lucy.

Eu arregalei os olhos e engoli em seco.

- De quem está falando, Lucas?! - Falei mais enfaticamente.

Mas ele não pode responder, porque nesse momento, alguém entrou no quarto.

- Ei, vamos assistir um especial de Natal - Disse Aaron - Mamãe disse para eu ver se vocês vão assistir com a gente.

- Para mim, não dá - Respondeu Lucas.

- Eu já vou - Respondi.

- Certo - Ele se virou e saiu do quarto.

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