Hall

49: Nossos Amigos.

     - Vai, Charlie! Vai! - gritei.

     - Acaba com eles! - Jill gritou ao meu lado.

     Era a primeira corrida de Charlie na NASCAR, eu e Jill tínhamos animação que nem uma das pessoas naquela arquibancada tinha, eles apenas ficavam ali, com seus fones protetores como se tivessem vendo um vídeo no YouTube. Eu nunca pensei que Charlie estaria correndo contra Kyle Bush, mas ele estava, e estava ganhando, com seu carro na frente na 189° volta.

     Em certo momento, eles pararam para o pit stop.

     - Nossa, acho que se vier com frequência a essas corridas, vou ficar surda. - comentou Jill.

     - É melhor você comprar seu protetor de ouvido. - falei. - Vai ser sempre assim, é o que causa mais de 40 motores V8 supercharged a mais de 200 quilômetros por hora. Eu vou comprar uma água. - anunciei.

     - Não se preocupe, vamos trazer para você. - disse o cara ao meu lado e depois deu ordem para o que estava ao lado dele.

     Já fazia mais de uma semana que eu havia melhorado. Voltei para o apartamento, todos concordaram que, com devida segurança, era mais seguro que a mansão, eu também quis assim, era mais seguro para minha família. Agora haviam policiais e seguranças onde quer que eu estivesse, e eu me sentia mais segura assim.

     Depois que contabilizei quantos homens trabalhavam para o Monza e entreguei para a polícia, foi decidido que sempre teria mais que eles perto de mim. Naquele dia por exemplo, haviam seguranças e policiais no estacionamento, na porta do autódromo, espalhados pelas arquibancadas, e aquele círculo ao redor de mim, eu pedi que vestissem roupas mais sociais, mas não adiantou de nada, eram homens grandes com jeans, camisa polo, fone nos ouvidos e olhares descuidados. No apartamento eles ocupavam todos os lugares do prédio, desde a portaria, recepção, até a porta do apartamento.

     Houve toda uma operação para me fazer ir até Miami assistir o Charlie, e também toda um operação para convencer o Gabriel a me deixar vir ali, essa falhou, mas a decisão era minha e por isso eu vim. Era a primeira corrida do Charlie, eu não perderia isso por nada, nem Monza tiraria aquilo de mim.

     Ele saiu do pit stop e voltou à corrida. Minha água chegou.

     - E aí? Você encontraram um apartamento? - perguntei a Jill.

     - Sim, eu acho, ele disse que quer te mostrar primeiro, também vai querer comprar algo na Carolina do Norte.

     - Onde é a sede da Penske.

     - Sim, ele vive indo para lá, então acha mais fácil assim.

     Eu nem conseguia me acostumar com aquele Charlie, o piloto rico que saia por aí comprando imóveis, toda essa mudança em questão de um ano, eu estava impressionada e muito feliz por ele.

     A corrida terminou e, o que eu não fiquei nada surpresa, ele ganhou. Ainda assim eu gritei de felicidade e abracei Jill. Kyle Bush era um fera, e havia ficado em segundo lugar. As cores do carro, equipe e uniforme de Charlie eram preto e amarelo, simbolizando os tempos sombrios e os tempos alegres de sua vida. Seu número era o 16, data do aniversário de casamento de seus pais. Charlie saiu do carro em seu uniforme, tirou o capacete e começou a receber os cumprimentos da sua equipe.

     Eu fiquei olhando aquilo de longe e sorrindo, ele merecia aquilo, ele merecia toda aquela felicidade e toda aquela glória. Um vez Charlie me disse que não havia nascido para ser feliz, aquela era a maior mentira que poderia sair de sua boca, aquele ali era o Charlie, o cara feliz comemorando depois ganhar uma corrida. Eu podia sentir felicidade genuína por alguém, que eu tanto vi sofrer, finalmente receber algo de bom da vida. Pensava em Jill do meu lado sentindo a mesma coisa que eu. Eu estava feliz por ele ter encontrado alguém como ela, por ser ela quem ele escolheu, Jill era boa para ele, e o amou tão rápido quanto alguém deve amar o Charlie. Ela estava aqui por ele quando eu não estava, e eu ficava contente de saber que ela sempre estaria aqui por ele.