52: Um Dia Após O Outro

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     - Você está bem? - Barkley perguntou.

     - Olha, eu ainda tenho muito o que melhorar, mas eu precisava disso, precisava por um fim nisso. Que acha de nos encontrarmos semana que vem?

     - Lucy, eu não acompanho mais você, agora tem alguém mais capacitado.

     - Você é o mais capacitado. E não estou falando de consulta, estou falando de um almoço, chame sua mulher.

     - Ah, isso é muito bom, com certeza eu vou.

     - Você não sabe o quanto me ajudou, velho. Você é muito importante para mim, não é mais meu médico, mas é meu amigo agora.

     - Que bom, você foi uma paciente muito importante para mim, Lucinda. Fez eu aprender muito sobre o meu trabalho e sobre a vida.

     - Uma paciente incomum?

     - Quem está usando bordões agora? - ele provocou.

     - Você vai correr atrás de outros pacientes agora? Invadir a privacidade deles? Esquecer da palavra "ética"?

     - Nunca fiz isso com outra pessoa que não fosse você. Seria muita falta de ética, já pensou? Quero continuar com meu emprego.

     Aquilo me surpreendeu. Eu ri.

     - Por quê?

     - A ajuda que você precisava ia além de terapia, no final das contas, a minha contribuição foi a menor, eu só precisava saber que pedras atirar.

     Eu fiquei calada por alguns segundos.

     - Você acredita em Deus, Barkley?

     - Não poderia exercer minha profissão se não acreditasse. - ele sorriu.

     - Então...

     - Você não tem uma luz? - ele me encarou e eu sorri. Eu tinha uma luz. Da mesma forma que Charlie, eu tinha uma luz. E era das fortes.

     Barkley terminou sua visita e foi embora. Tive uma conversa com os policiais, apenas protocolo, nada demais. No fim da tarde, Dr.Cooper assinou os papéis da alta e eu fiquei livre para ir embora. Gabriel me ajudou e tirar a roupa do hospital e colocar minhas roupas. Depois me levou para casa, para nossa casa.

     Quando chegamos lá, ele me puxou até o terraço, eu entendi porquê, era hora da nossa conversa séria, a conversa que era necessária termos antes de seguirmos adiante.

     Dali era possível ver Seattle anoitecendo e as luzes surgindo, estava frio e um vento corria pelo terraço. Era possível avistar o Space Needle ao longe, era a mais perfeita visão da cidade.

     - Você sabe que eu te amo, não é? - ele falou e eu assenti. - Então precisa confiar em mim.

     - Aprendi da pior maneira a fazer isso.

     - Eu fiz algumas coisas no tempo em que estive fora.

     Ele ficou com outra, tudo bem, ia ser difícil, mas eu poderia superar aquilo, eu podia seguir em frente.

     - Está tudo bem, Gabriel. - falei amargamente.

     - Eu não quero mais esconder nada de você, por isso preciso que saiba de tudo que eu fiz.

     - Eu não preciso de detalhes.

     - Você já sabe o que é?

     - Gabriel, eu falei que podia superar isso antes, e posso superar isso agora. Eu posso entender como estava se sentindo.

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