5: Querida, Jill!

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Ponto de Vista de Jill Massey.

Eu estava terminando de fazer o almoço quando Charlie chegou da sua consulta.

- O cheiro está bom. - ele falou.

- Como foi lá? - perguntei.

- Normal. - ele sentou em um dos bancos do balcão. - E a Lucinda?

- Ela disse que ia almoçar com a Florence e o Elliot, e depois iria direto para a pista ver o Gabriel.

- Eu também vou para lá daqui a pouco, tem reunião com os supervisores.

- Charlie... - eu me aproximei do balcão - Posso te perguntar uma coisa? - ele assentiu - Você não sente mais vontade de correr?

Ele me encarou poe uns segundos, eu sabia que Lucinda ainda não tinha feito aquela pergunta a ele, provavelmente ninguém fez. O que ele passou com Jace foi um grande trauma, e ninguém queria voltar àquilo.

- Não, não sinto. - ele respondeu simples.

- Por que?

- Eu corri tanto, e ganhei de tantas pessoas, e matei tantas pessoas. Eu acho que estou saturado. Quando eu estava correndo para o Jace, eu lembrei de quantas vezes adorei sentir aquela adrenalina, e a cada corrida, a cada vida, eu me arrependi de querer esse sentimento. Tudo que eu pedia era que eu pudesse parar, que nunca mais tivesse que estar em uma corrida, e agora que eu posso tomar essa decisão, eu acho que não quero mais, Jill.

- E por que você não fala a verdade para a Lucinda?

- Eu não sei, tudo com ela sempre é mais complicado. Ela sempre me apoiou tanto em relação às corridas.

- E vai continuar te apoiando no que quiser fazer. Eu acho que não quer contar para ela porque quando fizer isso, vai ser definitivo. - ele apenas me encarou porque sabia que eu tinha razão. - Mas não precisa ser, Charlie, pode ser apenas um tempo para você, e então poderá decidir se quer continuar ou não.

- É, você está certa.

- Eu sempre estou. - eu me gabei e continuei preparando o almoço.

Eu não conhecia Charlie há muito tempo, mas já o via como um amigo. Decidir morar com Naomi acabou me trazendo bem mais coisas do que eu esperava, bem mais coisas mesmo, e a principal era a amizade de Lucinda. Eu voltava a lembrar de tudo que já aconteceu desde o dia que ela veio morar comigo e com a Naomi.

□ □ □

2 ANOS ATRÁS...

Eu finalmente consegui parar de chorar e me sentei em um dos bancos. Naomi apareceu falando com uma colega de estágio, a amiga continuou o caminho e ela sentou ao meu lado.

- Eles deram algum sedativo para ela, só vai acordar amanhã. - explicou.

- Você já ligou para a família dela?

- Já.

- Naomi. - eu virei para ela. - O que aconteceu? Você me disse que ela tinha problemas com ansiedade, mas aquilo... aquilo não é normal. O modo como ela gritava e chorava, era como se ela tivesse certeza absoluta de que morreria em instantes. Ela gritava para nós ajudarmos, ela estava tão desesperada que eu consegui sentir sua dor.

- Eu sei - ela olhou para as mãos - Foi horrível, entendo mais agora porque ela perece ter tanto medo disso. É angustiante.

- Foi uma ataque de pânico? - perguntei.

- Não o que você conhece. É diferente para ela, Aaron me explicou. Ele disse que ela e o pai dela acabaram nomeando os três tipos de crise que ela tem. Um é a crise ansiedade, é o mais leve, porém pode ou não evoluir para um ataque de pânico, que foi o que vimos hoje, ela acredita que vai morrer, a respiração falha, o peito dói, é como uma sensação de infarto que não para, é constante, e o medo é triplicado. E tem o surto de pânico, que é o que as pessoas conhecem também por ataque de pânico, no qual ela cria na cabeça dela que está em perigo, e busca todos os meios para se proteger.

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