Razão para viver

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Thais enfim entendeu o que sua irmã havia lhe contado sobre como o remédio de TDA (transtorno de deficit de atenção) foi como uma chave que havia ligado seu cérebro quando fora finalmente diagnosticada, já adulta e com duas filhas, e passara então a toma-lo.

Ela se sentia da mesma forma com o remédio passado pela Dra. Son, era como se sua vida houvesse voltado ao seu corpo. Porém, sabia que nem tudo era só mérito do remédio para depressão, a outra parte vinha da promessa que tinha feito a irmã no dia em que a mesma havia chegado na Coréia. Ela ia tentar melhorar e estava se esforçando realmente pra isso, apesar da dificuldade. As vezes a vontade era voltar pro fundo do poço, mas além da promessa feita a irmã ainda ecoavam na sua cabeça as palavras da obstetra, Dra. Lee:

-- Você decidiu ter a criança? Se a resposta for sim, você precisa ficar bem. E quando falo sobre ficar bem não é só o psicológico. -- Ela sabia sobre o tratamento psiquiátrico. -- Você precisa se alimentar, hidratar e exercitar bem. O bebê é totalmente dependente de você. Entendeu?

Thais lembrava de ter assentido a esse puxão de orelha e ter morrido de vergonha por recebê-lo na frente de PD Lee, que as acompanhou nas duas consultas. Mas após as primeiras consultas sua resolução estava feita. Ela não morreria, tinha decidido lutar! Apesar de alguns dias a luta ser somente um arrastar do corpo para fora da cama, depois de alguns dias com medicação e na companhia da irmã e da sobrinha, ela se sentia de novo como ela mesma. E agora elas estavam prestes a ir embora e era como se um bolo de medo estivesse se formando no estômago de Thais.

-- Vocês não podem ficar mais mesmo?

-- A passagem já está comprada Cabeça. Além disso, estou morrendo de saudade daqueles três doidos que eu deixei em casa. -- Luciana terminou de trocar a fralda da nenê e logo se virou encarando a irmã. -- Você está com medo de ficar aqui sozinha depois que os caras voltarem?

As vezes Luciana parecia que estava dentro da cabeça de Thais.

-- Você está com medo de ficar aqui sozinha. Só pela sua cara eu já sei. -- Luciana pegou Helena no colo e sentando na poltrona da enorme sala de estar começou a dar de mamar. -- Você pode voltar pra casa comigo.

-- Casa? Que casa? -- Thais começou a roer a unha do mindinho.

Luciana suspirou:

-- Uma hora você vai ter que perdoar a mãe. E ela também vai ter que te perdoar. Nunca pensei que vocês seriam tão cabeças duras assim. Até achei que a mãe teria um treco quando soubesse sobre a sua gravidez e pararia no hospital, mas nunca imaginei, nessa vida, que a reação dela seria fazer um post no Facebook sobre a sua situação.

O semblante de Thais descaiu completamente a menção daquele ocorrido.

-- Ai irmã, desculpa! Eu sempre falando demais!

-- Tudo bem Lu. Eu não posso fugir do assunto pra sempre. -- Enchendo a barriga de ar, Thais expirou lentamente, em um exercício para manter a ansiedade sobre controle, e continuou. -- Sabe que o que mais me deixou chateada nem foi o post do face, mas o que ela me falou por telefone quando liguei pra ela? Esperava isso do pai, mas nunca dela...

-- O que ela te falou mesmo? Desculpa irmã, sabe que tenho a memória horrível. -- Luciana perguntou, enquanto colocava a filha adormecida no bebê conforto.

-- Praticamente me comparou a uma prostituta.

-- Ai que exagero!

Don't Leave Me [EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora