JANE - 07

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JANE

O visível entusiasmo de Gabriel na manhã seguinte, fez com que fossemos pela primeira vez na piscina daquele lugar, que era imensa por sinal.

Enquanto descíamos as escadas, notei que duas empregadas cochichavam e mesmo não querendo escutar a conversa, consegui escutar que o Srº Michel havia chego de viagem.

Interesse de conhecê-lo? Eu não tinha nenhum.

Enquanto Gabriel pulava e dava inúmeros mergulhos naquela imensa piscina, eu ficava zapeando pelas minhas redes sociais e em alguns momentos o observava.

Eu tinha muita sorte de ter um filho como ele.

Um filho que não me dava trabalho era sensato e tinha uma maturidade sem tamanho.

Um filho que pedi a Deus mesmo que tenha vindo em um momento inoportuno.

Recordar-me da importância de Gabriel em minha vida, faz com que automaticamente me lembre dos terríveis dias em que passei na ausência de Michel, dias estes que com as lembranças, doem até hoje mesmo após oito anos.

Mas a vida segue e eu preciso manter o foco que no momento é ter um pouco mais de estabilidade financeira, ser uma confeiteira profissional e ser ainda mais feliz ao lado do meu pequeno grande rapaz.

>>> ♥ >>>

Enquanto terminava de enviar uma mensagem à Jason, escutei a voz de Vera ao longe, pelas minhas contas ela estaria nos passando o cronograma do concurso hoje.

A observei de longe e ao seu lado um homem de camisa social, de costas para mim, mas aparentemente forte, conversava com uma das participantes que sorria abertamente.

Eu tinha quase certeza que poderia ser o Sr.º Michel.

Imaginando que Vera pudesse apresenta-lo a mim, ajeitei meu cabelo e minha roupa que era quase inexistente em meu corpo já que estava na área da piscina e usava somente uma saída de praia por cima do biquíni.

Cerca de dez ou quinze minutos depois, a voz dela foi se aproximando do local que eu estava.

Abaixei os óculos de sol e a vi chegando, enquanto o homem estava de cabeça baixa mexendo em seu smartphone.

— Bom dia Jane. - Vera diz sorridente. — Este é Michel, o dono da casa e consequentemente meu patrão. Sr.º Michel, esta é a Jane, uma de nossas participantes do concurso.

E então ele bloqueou o celular colocando-o no bolso.

E tudo o que aconteceu a seguir, foi estilo câmera-lenta.

Seus olhos encontraram-se com os meus e automaticamente minha boca ficou entreaberta, em seguida, os mesmos olhos arregalaram-se.

Vera fazia anotações em sua prancheta.

Eu sabia que um dia aquilo poderia acontecer, mas não imaginava ser tão breve mesmo já se passando oito anos.

Michel, o homem que me deixou no altar, o pai do meu filho não era nada mais ou nada menos do que o dono disso tudo aqui e agora estava frente a frente comigo, aparentando estar tão surpreso quanto eu.

— É um prazer conhece-la Jane, boa sorte. - estendeu a mão.

Notei então que a mão que me estendeu estava levemente trêmula, enquanto Vera nos observava, não pude deixar transparecer nenhuma emoção, então a apertei.

Estava quente como sempre.

— Obrigada. - respondi.

— Jane este é cronograma do concurso. Hoje teremos uma espécie de prova, onde os participantes deverão preparar uma receita de ''avó'', sabe aquelas que apenas nossas avós fazem na nossa infância? - Vera diz.

Assinto.

— Então é essa. Só preciso saber quais ingredientes serão necessários você usar para que eu possa mandar comprar, essa informação você pode me dar até o final da tarde.

— Certo muito obrigado.

Peguei o papel que me foi estendido e Gabriel saiu correndo da piscina por pouco caindo em cima de mim.

— Mãe eu estou morrendo de fome.

Michel o encarou.

— Que falta de respeito filho, não cumprimenta Vera com um bom dia sequer? - o repreendi.

— Desculpe. Oi dona Vera bonita, oi rapaz que eu não conheço, oi mãe linda podemos comer?

Vera sorriu.

— É seu filho? - Michel pergunta.

Pensei em não responder, mas Vera com certeza notaria que tinha algo de errado conosco.

— Sim. - respondo simplesmente.

— Tem um doce delicioso na geladeira, que tal irmos comer Gabriel? - Vera oferece enquanto meu coração falta sair pela boca com a ideia de que ela irá me deixar sozinha com o monstro.

— Eu adoraria e você é uma ótima companhia. - disse galanteador à ela.

Vera era uma mulher linda de aparentemente trinta e poucos anos.

Sorriso bonito, postura de gente rica e extremamente encantadora. Seus olhos fechavam-se totalmente a cada sorriso que dava.

— Se importa de ficar um pouco aqui Srº Michel? Volto logo.

— Vera não é necessário levar Gabriel para comer, estava o esperando sentir fome mesmo para que pudéssemos entrar.

— Não se preocupe querida. Converse um pouco com o Srº Michel a respeito do concurso, ele sempre gostou de conhecer um pouco melhor os participantes. Não irei demorar.

E assim ela saiu de mãos dadas com Gabriel, deixando-nos a sós e aquele com certeza estava sendo um dos piores momentos da minha vida, pois me fazia relembrar de tudo.

— Quantos anos tem seu filho? - perguntou curioso.

— Achei que deveríamos conversar sobre o concurso e não sobre meu filho ou qualquer espécie de vida pessoal. - respondi na defensiva.

Ele sorriu.

O mesmo sorriso de sempre.

Michel não havia mudado nada desde que nos vimos pela última vez, exceto o visual e consideravelmente a idade. Antes ele não era tão forte quanto agora e não se cuidava tanto como aparenta se cuidar agora e a diferença é que no passado ele não era nada e hoje aparentemente tem muito status.

— Não seremos idiotas, você sabe aonde quero chegar. - diz com os braços cruzados.

Pego meus pertences em cima da mesa.

— De verdade? Não sei aonde quer chegar e tampouco faço questão de saber Michel, muito obrigada pela conversa sobre o concurso. - respondi disposta a sair dali.

Eu até sairia, mas ele fez questão de dar um passo para o lado e não permitir minha passagem.

— O seu filho é meu filho? - perguntou com a sobrancelha arqueada.

— Definitivamente não! Ele é meu filho, diria que único e exclusivamente meu então não ouse chegar perto dele ou eu acabo com você.

— Já entendi tudo. - disse com um sorriso fraco. — Gabriel é nosso filho, fruto do nosso amor.

Agora foi a minha vez de sorrir, porém de forma muito irônica.

— Amor... Você realmente sabe o que é isso Michel? Poupe-me e nos poupe vai. Amor é o caralho, isso aqui é tudo menos amor e sim infelizmente não pôde escolher o pai do meu filho e acabou sendo você mesmo para nossa total infelicidade, mas te adianto e repito: Fique longe dele.

Após dizer isso sai o empurrando.

Em minha cabeça e coração passava-se uma mistura de sentimentos relacionados ao medo de que ele se aproximasse do meu filho e o fizesse sofrer assim como fez comigo, a dor e a mágoa por lembrar-me tão claramente dos perrengues que passei.

Mas aquilo não me abalaria.

Eu era mais forte do que qualquer sentimento e destruiria Michel se por acaso ele ousasse fazer mal ao meu filho.

RECOMEÇO POR AMOROnde histórias criam vida. Descubra agora