MICHEL - 08

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MICHEL

Podem passar-se dias, meses e até mesmo anos, mas aquilo que se torna pendente ou até mesmo deve ser seu em vida, sempre volta e hoje cheguei a conclusão disto.

Oito anos.

Noventa e seis meses.

Esse foi o tempo que fiquei sem notícia de Jane, até porque não fiz menção ou tampouco questão alguma de saber se estava bem ou por onde andava e cá estamos, hoje, a mesma encontra-se em minha casa, participando de um concurso criado por minha atual esposa, Gabriela.

Recordo-me com perfeição de tudo que nos aconteceu e de como resolvo tirar férias todos os anos em que chega a data que era para ter sido o nosso casamento.

Eu fui um monstro.

Éramos jovens quando nos conhecemos e por sermos tínhamos uma vida regada de sonhos e vontades e eu sempre soube que um dos sonhos de Jane era ter um casamento convencional, aquele em que as noivas usam véu, grinalda, fazem uma festa imensa aos convidados, joga buquê para as solteironas pegarem e afins.

Mas esse nunca fora o meu sonho de vida.

Eu sempre quis crescer profissionalmente, abri mão de muitas coisas para ter tudo que tenho hoje, sendo isto: Uma casa incrível para morar, alguns dígitos na conta bancária e uma empresa que me gera muitas coisas apesar do imenso trabalho.

Mas eu quis isso para minha vida e não abro mão.

Com Jane tudo aconteceu rápido demais, eu diria. Logo nos apaixonamos um pelo outro e engrenamos em um relacionamento.

Ela me fazia bem e extremamente feliz. Éramos o casal perfeito apesar do ciúme que ela sentia de algumas amigas que eu tinha.

Gabriela era uma amiga.

Mas sempre tem que ter algo ou alguém disposto a acabar com tudo e se não formos fortes o suficiente, tudo acaba como aconteceu conosco sendo o maior problema: A gravidez de Jane.

Após um tempo juntos ela acabou engravidando e eu estava no ápice de minhas conquistas e um filho naquele momento era algo inoportuno, não era bem-vindo, ao menos não para mim.

Não fui um monstro ao ponto de pedir para que ela tirasse o filho, pelo ao contrário, '' assumi'' a paternidade.

Não demorou para que viessem as cobranças. Os pais de Jane queria que nos casássemos de ''papel passado'', aquilo seria a garantia que eu não sumiria e que o meu amor por ela era suficiente.

Mas não era suficiente.

Eu não a amava ao ponto de nos casarmos, ao menos, não naquele momento, mas aceitei até porque um homem tem que honrar com seus compromissos.

E então, começou o vuco-vuco.

Experimenta terno de um lado, Jane vai ao médico do outro.

Corre com decoração de um lado, trabalha do outro.

Dinheiro indo feito água e eu não podia reclamar de nada.

Foi então que Gabriela aproximou-se de mim.

Ela me escutava, me dava conselhos amorosos porque apesar de tudo eu sentia falta de Jane que estava tão atarefada com as coisas do casamento que mal me dava atenção e prazer.

Gabriela era tudo aquilo que Jane não era pra mim, por mais que tentasse e então eu acabei me envolvendo com ela, tornando-a minha amante.

Não foi a melhor escolha a ser feita, obviamente.

Todas as vezes que estava com Jane, pensava em Gabriela e todas as vezes que estava com Gabriela pensava no que estava fazendo com Jane.

Até que então o dia do nosso casamento chegou.

Estava terminando de colocar o terno quando Gabriela apareceu de repente em meu quarto e soltou a seguinte frase:

— A partir de agora ou você escolhe viver uma vida medíocre ao lado de Jane, ou você escolhe viver uma vida próspera comigo para vivermos o nosso amor e enriquecermos juntos.

Gabriela era de uma família com muita influência e então optei por viver uma vida próspera ao seu lado, deixando tudo para trás, inclusive meu filho com Jane.

Fui embora da cidade com Gabriela no mesmo dia e a mesma ainda fez questão de passar em frente a igreja que estava decorada para meu casamento.

Senti o coração pesar na hora, mas sabia que seria o melhor a ser feito.

Ao menos para mim.

Durante os anos que se passaram, foram poucas as vezes que me permiti pensar em Jane.

Mesmo tendo crescido profissionalmente e tendo condições o suficiente para saber sobre ela, eu não quis.

Tive medo de sentir algo.

E agora o destino e a vida se propuseram a coloca-la frente a frente comigo.

Nosso filho, ou melhor, o seu filho como ela diz, é uma criança linda e extremamente saudável.

O sorriso é como o meu.

O formato e a cor dos olhos são idênticos aos meus.

São detalhes que com certeza pesam para ela já que seu amor por mim foi sempre suficiente e lindo, eu diria.

Jane mudou muito, seu semblante já não é mais de uma garota inocente e sim de uma mulher aparentemente muito forte. Seu corpo ganhou curvas que eram desconhecidas para mim. Seu cabelo mudou o tom e ela havia se tornado ainda mais linda e talvez um perigo.

Meu maior medo era sentir algo.

E sem querer eu senti: Insegurança ao estar ao seu lado.

RECOMEÇO POR AMOROnde histórias criam vida. Descubra agora