MICHEL - 40

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MICHEL

Desde que subira para o meu quarto, estou escutando sermões de Vera por ter simplesmente enlouquecido e chamado atenção de todos que moravam ali, eu não me importava com nada e tampouco com alguém, estava com raiva e faria aquilo quantas vezes fossem necessárias para expelir a raiva de dentro do meu corpo.

Na noite de eliminação, minha cabeça doía tanto que chegava a latejar, mas por imagem e pela ausência de Gabriela, eu era obrigado a participar então fui e fiz o meu papel.

Quando o participante foi anunciado significando assim que o mesmo estava eliminado, corri meus olhos pelo local e vi Jane de longe com a expressão de frustração, ela não deveria estar feliz por não ter sido eliminada?

Caminhei até ela para que pudesse parabeniza-la por ter ficado, mas no meio do caminho fui parado por um conhecido para conversar e por conta disso a perdi de vista já que ao olhar para o lugar em que ela estava antes, a mesma não estava mais.

Conversei com um grupo de pessoas e também parabenizei pessoalmente os participantes que ficaram, exceto Jane que não sabia aonde havia se enfiado.

Andei pelo salão e encontrei Gabriel sentado no sofá jogando no celular.

Aproximei-me dele e tomei a liberdade de sentar ao seu lado, o que não deu muito certo já que ao me ver, afastou-se abruptamente, sentando do outro lado do sofá mantendo uma boa distância.

Aquilo doeu.

— Podemos conversar? – perguntei.

— Qual mentira você vai inventar? – respondeu com outra pergunta e deixou o celular de lado.

— Não tenho o porque de mentir para você.

— Não quero conversar, quero ficar sozinho então se puder sai daqui por favor.

Nunca achei que lidar com Gabriel fosse tão difícil, aquela criança amável que conhecia aparentava não existir mais.

— O que a sua mãe tem falado de mim para você? Que eu sou um monstro?

— Ela não precisa falar nada disso, porque eu já sei que você é. Minha mãe não perde tempo falando de você pra mim porque você é uma grande perda de tempo.

Áspero.

Como a mãe.

— Eu sinto muito por tudo ter acontecido Gabriel, não era para as coisas terem saído dessa forma. – sou sincero, ou ao menos tento transparecer sinceridade.

— Eu não quero saber. O mais legal é que você só sente muito depois que eu cresci, e quando eu era um bebê que dava um trabalhão para minha mãe? Quando era, você não sentia muito, né?

— Eu sequer sabia da sua existência.

— Você disse que não tinha o porque de mentir pra mim e olha só, já está mentindo. – disse levantando do sofá e saindo dali.

Dez a zero pra ele.

Fiquei por um tempo tentando assimilar a maturidade de Gabriel com sua pouca idade e cheguei à conclusão de que ele era um garoto precoce.

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Escutei um barulho vindo do lado de fora da casa e em seguida um choro.

Com certa preocupação de ser alguém ou até mesmo um assaltante, caminhei até ao lado de fora e encontrei Jane ao telefone chorando, que ao me ver pediu desculpas para a pessoa com quem falava e desligou rapidamente.

— Você escutou toda a conversa? – perguntou aparentemente preocupada.

— Eu deveria escutar? Se sim, não deu certo, a única coisa que escutei foi alguém chorando e vim ver o que estava acontecendo. Me surpreende ser você.

Ela ficou em silêncio.

— Desculpas por hoje mais cedo, não tinha outra forma de expelir a raiva se não fosse daquela forma, você não tem noção de como dói ser traído.

E ela abriu um sorriso visivelmente forçado.

— Você jura que eu não tenho noção da dor de ser traída? Fui deixada no altar querido, sei muito bem como funciona, mas você assustou Gabriel.

Dou de ombros.

— Ele já não quer saber de mim mesmo, um susto a mais ou um susto a menos, pouco importa. – respondi com desdém.

— Isso não é verdade. Gabriel está decepcionado com tudo o que aconteceu e você deveria entende-lo.

— Porque você estava chorando? – perguntei mudando o foco da conversa.

— E desde quando isso importa? Não importa o motivo. – respondeu na defensiva.

— Quero te ajudar... Pode por favor me contar qual é o motivo das suas lágrimas? – perguntei.

Ela arqueou a sobrancelha.

— Não tem como você me ajudar já que é o maior causador das minhas feridas e das minhas inseguranças.

E após dizer isso, deixou-me sozinho assim como Gabriel fez.

Tal mãe, tal filho.

RECOMEÇO POR AMOROnde histórias criam vida. Descubra agora