11|| Não estou obcecada.

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Os últimos dias em Paradise Valley, haviam sido de muita chuva, e nenhuma estiada. Hoje, apesar do frio, o dia estava ensolarado e nublado. Meu bloqueio havia sumido, e finalmente eu tinha voltado a escrever o tempo todo. Talvez fosse porque eu também estava passando mais tempo que o necessário com John. Nós viramos amigos de verdade, nos últimos dias. O primeiro dia depois de eu ter voltado de seu rancho foi bem engraçado. Eu não consegui voltar á cavalo, então Thor teve que ficar lá. Mas no dia seguinte John o trouxe em baixo de chuva. Chegou aqui ensopado, e eu o fiz ficar. Ele me contou mais sobre sua vida, sobre Katy. E sobre como ela era um ser humano incriável e determinado. Tudo oque ela queria ela corria atras e agarrava com as duas mãos. Ele me contou também que teve um período na vida dos dois, em que ambos queriam coisas distintas, ela queria cuidar de sua cabeça, e tratar a depressão com mais responsabilidade, mas que ele não enxergava que tinha problema com alcoolismo. Então por um tempo, eles ficaram longes um do outro, e ela quase casou com outro cara. Mas no fim das contas, o amor dos dois era incondicional, e eventualmente, eles acabaram ficando juntos, mas que ela foi tirada de sua vida muito cedo. 

John tinha esse semblante de "um homem com uma missão", quando assunto era Katy. Ele queria descobrir o que havia acontecido com ela, pois tinha certeza de que ela havia sido assassinada como um aviso do seu passado, ele só não sabia quem podia ter feito isso. Ele estava fazendo isso, até ser afastado, após seu parceiro ter sido assassinado em uma tocaia, que ele não explicou muito bem o que ocorreu. Apenas disse que seus superiores pediram seu afastamento porque na visão deles, John estava "paranoico e obcecado", e estava colocando em risco colegas de trabalho. Na verdade, a mensagem foi, "procure ajude profissional e trate de seus demônios pessoais, antes que eles te engulam".  Pelo menos foi isso que ele me contou. 


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Depois de almoçar com meus avós, decidi que iria ficar no celeiro com roupas mais quentinhas e confortáveis possíveis, e escrever mais um pouco da minha nova historia. A fumaça do café quente em minha caneca, flutuava suavemente sobre ela. Lá fora a chuva havia voltado a castigar, e suas grossas gotas de água, escorriam pelo vidro da minha janela. 

Não vou negar, eu amava dias assim, mas excepcionalmente hoje, gostaria que estivesse fazendo sol, para eu poder estar sentada sob a arvore do meu lugar favorito, enquanto escrevia e assistia meu cavalo pastar... Sim, eu sou bem garota do campo mesmo. Eu amo tudo em Paradise Valley, não trocaria minha Montana por nenhum outro estado ou Condado. Minhas raízes estão aqui, se eu as abandona-las, para ir para outro lugar, não teria nada, nem ninguém. E até onde eu sei, raízes só vingam em terra fértil.  Bebo do meu café, e abro a janela do word em meu notebook, e aqui vamos nós dar continuação a historia....

"John disse, que se achava um caso perdido... E como todo caso perdido, ele nunca percebia os erros que cometia, então precisava que as pessoas dissessem a ele quando ele estava errando, para ele tentar se encontrar. Eu acho que como todo homem, solteiro/viúvo, ou mesmo como pessoa, você se perde no meio do caminho, e muitas das vezes não sabe o que fazer ou para onde ir com sua vida, acaba te levando a cometer erros atras de erros. E no mundo em que vivemos hoje em dia, errar era inaceitável. O mundo vai te cobrar por mudança. Vai te exigir isso, mas quando você o fizer, eles iram ressuscitar os segredos mais sujos do seu passado e usa-los contra você para mostrar o quanto você é um ser humano de merda. Eu acredito que a humanidade está fadada ao fracasso. Porque ela não sabe perdoar. Ela cobra a mudança, cobra o perdão, mas não os aceita quando os tem. E ao meu ver, é muito difícil prosperar desse jeito. O mundo vai te cobrar pelo teus erros, sem saber o quanto você mesmo já se cobra por eles. John também disse, que alguns meses antes de sua esposa ser assassinada, que ela disse a ele, que ele sempre seria um cara de coração partido. Porque ele carrega muitas magoas dele mesmo, por tudo o que já fez ou falou. Ele não consegue se perdoar. E acho que com a morte dela, isso só piorou. Porque consigo ver o peso que ele carrega nos ombros, quando fala dela. Ou quando se abre um pouco sobre sua vida. Sabe... Acho que uma pessoa que foi machucada tantas vezes, acha que não há mais nada que possa acontecer com ela. E também acha que toda sua solidão e o fato de ela ser sempre sozinha, é porque a vida o amaldiçoou de alguma forma. Mas de verdade? Eu acho que não é nada disso... Acho que a vida nos reserva tantas coisas... Você apenas precisa parar e ouvir o vento soprar na direção correta... Se permitir viver a vida por um todo, sem achar que de alguma forma Deus está castigando você pelas coisas que você aprontou no passado. Deus nos deu o livro arbítrio por um motivo, então cabe a você usa-lo com sabedoria. Sua auto-punição, é porque no fundo você sabe, que fez errado, e não Deus punindo você! Eu disse isso a John, e ele me respondeu que eu e ele víamos a vida de maneira diferente. E que ele gostaria de ter o otimismo que eu tinha. Eu respondia ele, que não era otimista, eu só gostava de pensar que a vida nos reserva coisas boas, basta apenas a gente correr atras delas. O mais engraçado, é que mesmo agora, dias depois dessa conversa, eu consigo ouvir o som de sua risada."

DEAR MARIE [JM] 1Onde histórias criam vida. Descubra agora