19|| Sweet Annie, can I stay with you a while?

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— John POV 🌺

A última vez que eu cortei meu cabelo, foi a dois anos atrás. E desde então eu parei de me preocupar muito com minha aparência. Fiquei desleixado. Mas ontem, depois do que eu tinha feito com Marie... Entrei no banheiro, olhei no espelho, o meu reflexo disse que eu podia ser melhor do que isso. Então peguei uma tesoura dentro do armário e o cortei. Nem preciso dizer que ficou uma bosta, porque se tivesse ficado bom, eu não estaria sentado nessa cadeira enquanto o barbeiro acertava meu corte. Marie estava sentada num sofá vermelho, atrás de mim, perdida nas páginas do jornal da cidade, e nem via que eu a observava pelo espelho a minha frente. Peguei o celular do bolso, e tirei uma foto, que pegasse o meu reflexo, e o dela, absorta nas páginas, e guardei o celular no bolso de novo.

Não demorou muito para o barbeiro consertar a cagada que fiz no cabelo, e deixar o corte simétrico novamente. Fiz a barba também, e quando estava finalmente pronto, olhei para Marie e ela cochilava com a cabeça no sofá. Tadinha, ela ficou entediada. Eu deveria ter deixado ela ficar no rancho com Moose, talvez com ela se divertisse mais com ele. Me inclinei sobre ela, e beijei sua testa. “Annie? Acorde, babe.”, ela aperta os olhos e os abre em seguida. Seus olhos azuis intensos, olham imediatamente para meu cabelo. “Olha só... Até que ficou bonito.”, ela diz passando os dedos em meu cabelo. Pisquei para ela. “Fiz a barba também.”, passo mão onde deveria ter barba, mas não tem mais. Ela segura meu rosto, e passa a mão nele, analisando tudo. Marie era muito curiosa, e crítica. E estava começando a adorar isso nela. “Eu não sei se desgosto ou gosto. Apenas sei que você fica bem assim.”, ela beija minha bochecha. “Podemos ir agora?”, ela pergunta, e em resposta estendo minha mão, que ela segura, e seguimos para fora da barbearia, mas antes agradeço a Chris, pelo seu serviço. E então saímos.

“Onde a gente vai agora?!”, Marie me pergunta com seu sotaque carregado. “Onde você quer ir?”, pergunto a ela. “Eu não sei... Vai parecer brega... Mas... Sei lá, como a gente veio de moto, seria legal se a gente não sei.. só rodasse de moto pela estrada próximo às montanhas... O que você acha?!”, subo na moto. E ajudo ela a subir na garupa. Balanço a cabeça pensando sobre. “Se é o que você quer... Podemos ir. Eu só tenho que encher o tanque da moto, primeiro.”

Estávamos em Livingston, uma cidade que fica a 8 minutos, —de carro—, de Paradise Valley. E se lá nós temos esse grande céu aberto, ao longo das estradas cercadas por montanhas roxas, — a temperatura bastante baixa, deixavam elas dessa cor —,  e gramas de cor âmbar. Em Livingston você praticamente parecia estar em um filme de faroeste. A cidade não só parecia velha, ela é. Para mim, e quero crer, para o resto do mundo, a cidade era um testamento vivo, do trabalho duro montanhês. Todo mundo em Paradise Valley, que não tem tanto dinheiro boara comprar um terreno de 40 acres, — ou de 15, que é quantos tem o meu—, eles estão aqui. Os pontos de comércios, todos eram com letras que remetiam ao passado. A cidade era muito bonita, e aconchegante. Uma rede de hotéis famosas aqui, tem esse hotel que ao mesmo tempo é assustador para algumas pessoas, — por ter cabeças de animais empalhados no hall e chifres de alces nas parede —, era bem aconchegante. Provavelmente, eu teria que pedir Tiana para vir comprar algo para abastecer a dispensa depois, já que preferi vir de moto, porque Marie parecia ter adorado, e eu gostava de ver o sorriso naqueles seus lábios rosados, quando olhava pelo retrovisor da moto. Enchi o tanque da moto, e pegamos a estrada de volta para Paradise Valley. Peguei uma estrada mais longa, porque a loira na minha garupa queria ver as montanhas. Quando pegamos a estrada aberta, e o vento ficou mais frio, Marie abraçou minha cintura, e encostou a cabeça em minhas costas. Ela estava com aquelas jaquetas que tem franjas nos braços, que serpenteavam ao vento. Marie era uma garota simples, e seu sotaque montanhês era uma graça. Ela olhava as coisas dessa cidade com olhos orgulhosos e carinhosos. Ela amava onde vivia. Amava o que tinha conquistado. Ela era... Eu não sei... Ela diferente. Um diferente normal... Faz algum sentido? Eu estava de capacete, e ela sem. O que me fez lembrar que preciso providenciar um para ela, porque não é seguro fazer o que estamos fazendo sem usar um capacete. Eu disse isso a ela como argumento antes de sairmos do rancho, mas ela ignorou, e disse: "Você parece meu avô, de tão chato.", Sério, Marie!? Avô!?. Lembrar disso me faz rir, e olhar para ela pelo retrovisor, eu só via seus cabelos loiros ao vento. Quando passamos pela extensão do rio Yellowstone, Marie levantou a cabeça e tirou seus braços de minha cintura, me fazendo sentir estranho pela falta de seu toque. Ela olhou de uma lado para o outro. Apreciando os rio e as montanhas, com um sorriso largo no rosto, —um sorriso que eu acompanhava pelo retrovisor—, e então ela abriu os braços enquanto fazíamos a a curva na estrada. Ela estava realmente amando a sensação de liberdade que andar de moto me causa. No momento seguinte ela voltou a me abraçar aos risos e encostar a cabeça nas minhas costas de novo. Querida, Marie, fico pensando o que você acharia, se soubesse de todas as coisas horríveis que já acontece comigo. Você continuaria a acreditar em mim? Eu quero acreditar que sim. Porque preciso de pessoas especiais em minha vida, e você com toda sua normalidade. É especial. Não sei porque, não consigo entender o que está acontecendo comigo... Mas é bom sentir isso. Essa sensação antes da paixão se concretizar, sabe?

Previsamos ser francos, nós sabemos quando vamos nos apaixonar por alguém. Não é algo que acontece do nada... Nós vemos o que acontece desde o primeiro momento em que aquela pessoa nos chama atenção. Você vai para casa e fica pensando nos detalhes do seus rosto, até se dar conta que está pensando demais numa pessoa desconhecida. E no dia seguinte quando você a vê de novo "sem querer", porque ok, você não sabe onde ela mora, mas sabe que por aqueles cantos, se é que você sabe mesmo, porque se vocês trocaram algumas palavras e você foi esperto e pegou se ela era dos arredores, meu caro, ponto para você. Enfim, mas quando você a vê de novo, se vê querendo conhece-la, ou faz de tudo para a tirar do sério para ver até onde ela te aguenta. E depois disso, é inevitável não conseguir frear o pensamento constante naquela pessoa. Daí já passou do curiosidade, e evoluiu para o que nós chamamos de 'crush', hoje em dia. Na minha época era interesse, agora é crush... Bem, depois que você parece criar afinidade com seu 'crush' e vocês conseguem passar mais que duas horas numa conversar inteligente, e nem se dão conta que entraram em assuntos pessoais, e daí ela vai para casa, e você fica com tudo aquilo que aprendeu com ela em poucas horas. Você pensa ' é, acho que eu gosto dessa/e garota/o.', e pronto. Você vai passar fazer de tudo para vê-la mais vezes, e você faz. Mas é depois de beija-la que você vê que não há mais volta. Porque percebe que está a ponto de saltar de cabeça num oceano Atlântico. E era isso que eu estava fazendo em relação a Marie, estava em queda livre.

Só que não sei, se essa relação trará bem algum a ela. A mim com certeza vai. Porque eu posso sentir aquela chama antiga se ascendendo em mim. Mas quando eu solucionar o que eu tenho para solucionar aqui ele Paradise Valley, vou voltar para Connecticut. E não sei se ela viria comigo. Ela já disse tantas vezes que não tem intenção alguma de deixar Montana. E eu não posso simplesmente abandonar meu trabalho e vir para cá. Até porque, só estou aqui, porque estou afastado por 3 meses. Um já havia se passado. E em breve, eu teria que voltar... Mas é Marie? Como é que fica?

Pensar nisso, faz minha cabeça doer. Eu não quero que ela ache que estou a usando, porque não estou. Me importo com ela, realmente me importo. Mas tenho trabalho a fazer. Não vim em Montana para me apaixonar por ela, é algo que está acontecendo. Vim para cá bpara soluciona um caso, com a desculpa de ter sido afastado. Marie só deu azar de me conhecer. E eu a sorte de conhece-la.

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Quando chegamos no rancho, era passavam das 9 da manhã. Deixei Marie na cabana com Moose, pois ela disse que queria escrever e subi para o chalé na colina. Mostrei poucos espaços a ela quando a trouxe aqui em cima ontem, e agora eu estava numa sala que ela não sabia a existência, a que eu chamo de 'sala de conclusão'. Havia uma parede com fotos, é um barbante fazendo conexão sobre a pessoa que eu procurava. Um quadro branco onde eu escrevia algumas teorias com as informações que tinha. Uma mesa com um notebook aberto, onde duas caixas com arquivos antigos do caso de Katy estavam abertas. Num copo ao delas, havia uísque. O que eu vinha tomando com frequência quando subia para cá. Landon Bloomberg... Quem é você? Peguei meu copo de uísque e observei a foto do rapaz por um momento. Não era alguém que eu lembrava. Ou era alguém que eu conhecia mas nunca prestei muita atenção... Meu telefone vibrou no meu bolso, eu o peguei, atendendo a ligação de Jackson. Meu supervisor.

“Fala.”, digo de mau humor.

“Você achou o que procurava, Mayer?” bufo. “ Já faz um tempo já que não temos noticias suas. Só estou ligando para saber.”, bebo o resto do meu uísque, e vou até a bancada de bebidas e me sirvo mais um pouco antes de responder. “Estou chegando lá, Jackson. Em breve estarei de volta.”, digo a ele. “Bom, eu queria saber, se você poderia voltar essa semana. Temos um caso aqui, que seria legal ter alguma ajuda. E é sua especialidade.”, me sento na cadeira. “Assassino em série.”, um sorriso vitorioso aparece em meus lábios, mas some rapidamente com o que ele diz a seguir... “Não estou dando o caso a você, mas posso usar sua consultoria.”, bebo o resto do líquido do copo, e o jogo com força contra a parede do outro lado. “Consultoria, Jackson!? Sério?! De investigador criminal, eu fui rebaixado ao "cara que dá pitaco" no caso dos outros!? Que porra é essa!?”, ele fica em silêncio. “John, tenha paciência! Você ainda não está pronto para voltar de vez, é para o seu próprio bem!”, aperto os lábios. “Para o meu bem, minha bunda! Você me liga para pedir minha ajuda, apenas como consultor, e acha que está me fazendo um favor, e não ao contrário! Jackson, vai se ferrar!”, desliguei o telefone, e desci colina abaixo de volta para a cabana.

Pronto. Acabou minha paciência.

DEAR MARIE [JM] 1Onde histórias criam vida. Descubra agora