22|| Say what you need to say

64 4 17
                                    

"O que você está lendo?", pergunto tentando espiar o que ele lia. "Para de ser irritante, e vai ler o seu livro ai, Annie!", ele tenta esconder o que lia. Estávamos no avião a caminho de Connecticut. Nós fizemos uma escala em Charlotte, e agora seguíamos nosso destino final. Eu teria dormido por quase três horas inteiras, se John não tivesse me acordado para comer alguma coisa, antes de fazermos a escala. O que me fez perder o sono e agora estávamos cada um lendo um livro. eu lia Apenas Amigos, da Christina Lauren. Mas ele não queria me deixar ver o que estava lendo. "Para de ser irritante! Deixa eu ver o que você está lendo!?", fecho meu livro e tento pegar o dele. "Tira a mão!", ele da um tapa de leve na minha mão, e eu recolho no susto. "Quem é que está sendo irritante, agora?!", ele ajeita o óculos de grau. "Porque você não quer me deixar ver o que está lendo?! Eu te mostrei o livro que estou lendo, oras!", John faz cara de tédio, respira fundo e finalmente fecha o livro, e então eu consigo ver a capa. "Augusto Cury, O código da inteligência.", leio em voz alta. "Auto ajuda, serio?!", ele me olha com o óculos pendendo em seu nariz e arqueia uma sobrancelha. "Desculpa! Não estou julgando, só acho clichê demais ler auto ajuda em viagens longas.", dou de ombros. "Falou a garota lendo romance clichê ao meu lado!", mostro a língua a ele. "Vem cá.", ele diz tirando o livro da minha mão, e colocando do outro lad, entre a poltrona e a janela do avião, para me abraça. "Você está se sentindo bem?! É uma viagem bem longa. Como está seu ouvido?!", me aninho em seu peito e olho para ele. "Esta doendo menos. E por enquanto estou bem, eu acho.", dou de ombros, e sinto ele beijar o topo da minha cabeça. "E você? Está bem? Menos tenso e irritado, pelo menos?!", ele tira os óculos, olha pela janela e respira fundo. "Marie, me desculpe por ontem. Eu acabei descontando em você... Fui estúpido. Me desculpe.", coloco meu dedo indicador em seu queixo virando seu rosto para mim. "Está tudo bem. Eu entendo. Todos nós acabamos descontando nos outros quando estamos irritados. É da natureza humana.", beijo seu queixo e sinto os pelos de sua barba que estavam começando a crescer, fazerem cosquinhas em meus lábios. "O que eu vou fazer com você, Annie?! Você é muito doce!", ele beija meus cabelos incontáveis vezes me fazendo rir. " Você está esquisito hoje... O que está acontecendo com você?", pergunto. "Eu? Estou normal, acho que é só a nostalgia de estar indo para casa.", ele dá de ombros, e eu bocejo sentindo o cansaço da viagem começar a bater. "Durma, querida. Quando chegarmos em Westchester, eu te acordo.", apenas concordei fechando os olhos. 


                                                                                     》



"Fairfield é uma cidade no Condado de mesmo nome, no estado de  Connecticut , Estados Unidos. Faz fronteira com a cidade de Bridgeport e as cidades de Trumbull , Easton , Weston e Westport ao longo da Gold Coast de Connecticut . Até à data do recenseamento 2010 , a cidade teve uma população de 59.404. Em setembro de 2014, a revista Money classificou Fairfield como o 44º melhor lugar para se morar nos Estados Unidos e o melhor lugar para morar em Connecticut.", Bom... era isso que dizia o Wikipedia. E sim, é claro que eu estava olhando no google sobre a cidade enquanto o nosso taxi seguia para o endereço de John. Ele, que desde que colocamos nossas malas no carro, não disse uma palavra. John parecia estar apreensivo. Ele olhava pela janela do carro observando a cidade com o olhar perdido... acho que em lembranças ruins. Deve ter sido aqui que Kathryn foi assassinada, e creio que isso o fazia revistar um lugar escuro em sua alma. E não sei se gostava de ve-lo assim... Tão distante. O taxi parou em frente a uma casa de cor branca e detalhes em preto. Tinha uma árvore de cada lado no quintal da frente, e entre elas uma passarela até a porta. A casa parecia abandonada... Ou apenas não habitada há algum tempo. Peguei minha mala e minha mochila do bagageiro e dei uma boa olhada ao redor enquanto caminhava em direção a casa. Uma garoa fina começava a cair, deixando a cidade escura, apesar de ser pouco mais de 7 da manha. John suspirou fundo antes, de enfiar a chave na porta e abri-la. "Bem-vinda á minha casa...", ele diz de maneira estranha, apontando com o braço para dentro do corredor com a mão. Dei alguns passos com muito receio, e luzes foram ligadas, me fazendo olhar para cima e enxergar um lustre. Havia uma escada que levava para o andar de cima, o corrimão era de madeira escura. Na verdade, era a unica coisa escura ali, todo o resto era bastante claro, as paredes eram em um tom muito sutil de salmão, e o teto era em gesso branco. "Pode subir, Annie. Os quartos são lá em cima." , Eu não respondi, apenas comecei a subir as escadas em silencio, ouvindo o barulho de minhas botas na madeira das escadas enquanto subia. John estava logo atrás de mim. Assim que terminei de subir o ultimo degrau, me virei para ele, e antes que eu perguntasse para que lado ir, ele me indicou a esquerda, e eu segui o corredor onde havia uma porta branca no final dele. Coloquei minha mala no chão e abri a porta com cuidado, pegando a mala novamente. As paredes do quarto eram todas num tipo de madeira caramelo, e quando eu ascendi a luz, a cores da parede e da lampada pareciam uma coisa só. Coloquei minhas coisas em cima de uma poltrona perto da cama, e John fez o mesmo, me observando em silencio. Atravessei o quarto e puxei uma cortina, que um dia já foi branca, mas que estava amarelada pela poeira. Atras dela uma porta de madeira e vidro surgiu, e eu abri, dando numa varandinha pequena com vista para entrada da casa.

Segurei na sacada de madeira e inspirei fundo o cheiro de chuva. Quando me virei para dentro do quarto John estava sentado na cama com a cabeça entre as mãos. E algo na maneira como sua postura estava, me dizia essa casa o trazia memorias muito dolorosas. "John?", chamo. Ouço ele respirar fundo, antes de me olhar, apoiando o cotovelo em uma das pernas, e a cabeça na mão. Ele não disse nada, apenas ficou ali me olhando como se precisasse dizer alguma coisa. Então me aproximei dele, que me estendeu, a outra mão sem mudar a posição que estava. "Me diz o que precisa dizer, John... O que te perturba?", ele abre sua perna, e me guia para sentar em seu colo. Ele ajeita sua postura, e afasta meus cabelos do meu rosto, colocando algumas mechas atras de minha orelha, mas continua sem dizer nada, e então olha para fora da janela, o que faz eu puxar seu rosto de volta para mim, e me inclinar um pouco tentando achar o que havia de errado na imensidão de seus olhos castanhos. "Conversa comigo, querido. O que foi?", afasto seus cabelos de sua testa. Ele havia tirado os óculos de grau, o que fazia seu olhar ser mais intenso. Ele limpa a garganta. "Essa casa... Foi... a casa que eu comprei para morar com Kathryn... Ela chegou a vir aqui uma vez, comigo... E havia adorado a casa porque, não era gigante, era pequena e aconchegante....", ele ri sem humor. "Dai uns dias depois, comprei a casa, e iria dizer a ela, que iriamos nos mudar de Bridgeport, mas... ", ele da de ombros e desvia o olhar. 

Aquela era a casa que ele teria morado com ela, se ela não houvesse sido assassinada. Agora fazia sentido... A casa estava fechada desde sua morte. Por isso parecia abandonada. Coloquei meus braços ao redor do pescoço dele, e senti seus braços se apertarem ao redor de minha cintura. "Sinto muito, John.", digo baixinho. "Não... Está tudo bem... É que faz tempo...", ele diz com o rosto afundado em meu pescoço. "Eu imagino, querido. Está tudo bem, viu?", ele concorda com a cabeça. "Se você quiser falar sobre, estou aqui.", ele nega com a cabeça. "Não quero falar sobre.", ele se afasta e me olha. "Vou ligar para minha mãe, e pedir a ela para mandar alguém para limpar essa casa ok?", faço que não com a cabeça. "De jeito nenhum. A gente pode arrumar sozinhos... Mas não hoje.", ele ri. "Como você quiser.", ele me abraça de novo. 


Depois daquele pequeno momento, ajudei ele a trocar as roupas de cama do quarto, e as cortinas. Porque se iriamos dormir ali, aquele quarto precisava ser limpo, porque havia muita poeira. Depois que fizemos isso. Ele tomou banho primeiro, dizendo que iria ver como estava a situação do banheiro, e quando foi minha vez, notei que ele havia lavado para eu usar.  Tomei meu banho, e coloquei meu pijama de moletom cinza. Quando deitei ao lado dele na cama, passava das 9hr da manhã, mas eu estava tão exausta da viagem que pouco me importei que iria perder o resto dia dormindo. "Marie?", ele me chama, e me fazendo virar na cama, para olha-lo. "Sim?", respondo. "Obrigado por vir comigo.", ele diz, e eu me aproximo dele, ajeitando minha cabeça no travesseiro. "Eu tinha que vir. Se não viesse, me conheço o suficiente, para saber o quanto me arrependeria.", ele ri. "Descansa. Vou tentar levar você em um lugar a noite.", fico curiosa, e ele percebe. "Sossega. Você só vai saber quando chegarmos lá.", ele me avisa e eu faço bico. "Vou apenas te dar uma dica.", ele diz de um jeito brincalhão. "O lugar foi construido em 1916.", franzo o cenho. "Mas isso é muito vago!", ele ri, se aproxima de mim, e me beija me pegando de surpresa, me fazendo rir. "Vá dormir.", ele me dá outro beijo, e eu me viro de costas para ele, ajeitando minha cabeça no travesseiro, e sinto seu braço em minha cintura, e sua pele contra a pele das minhas costas. Ele afasta meu cabelo para o lado, e beija meu ombro, fazendo a minha pele se arrepiar. E então cantarola uma musica que eu nunca ouvi antes, mas dizia "Faça isso com o coração bem aberto...", eu não sei se entendi o que ele quis dizer, mas a melodia me fazia sentir segura. 

Ah, John... O que você está fazendo comigo?

DEAR MARIE [JM] 1Onde histórias criam vida. Descubra agora