50 || No ordinary love

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Eu queria que tudo o que aconteceu no dia anterior fosse um terrível pesadelo, mas não era, o que tinha acontecida era bem real, e vivido na mente, tão vivido que me manteve a noite inteira acordada, enquanto John dormia pesaroso á meu lado. Ele estava visivelmente abalado, e psicologicamente também, passou a noite chorando enquanto dormia, tentei me desprender dele algumas vezes durante a noite, mas ele resmungava e pedia "Não me deixa, Marie", o que me deixou em pedaços, e só fez com que eu não conseguisse dormir mesmo. Passei a noite em claro com medo de fechar os olhos e reviver aquilo tudo de novo. 

Quando o dia finalmente amanheceu, depositei um beijo na testa de John, e desci com dificuldades para o andar de baixo. Todo mundo dormia, e a casa silenciosa, fazia com que se fosse possível ouvir o barulho da agua batendo no deck. Era uma manhã fria de setembro, o verão estava indo embora, e com ele o calorzinho gostoso da manhã. Assim que consegui descer as escadas, segui o saguão até entra na enorme cozinha branca de Margareth, tomei a liberdade de colocar café na cafeteira para fazer e me sentei na bancada olhando para a janela com vista para o mar. Observei enquanto as ondas batiam fortes na madeira, espalhando espuma marítima para tudo quanto é canto. Algo no barulho que água fazia, trazia certos sentimentos a tona, me fazendo abraçar a mim mesma e respirar fundo. 

Sentimentos são como a agua, as vezes claros como cristais, as vezes turvos como o céu em uma noite tempestuosa. Temos a mania, de fingir não saber o que exatamente sentimos, de fingir que os sentimentos são todos turvos, quando na verdade estão bem claros. É que as vezes nos custa muito assumir o que sentimentos, então sujamos a "agua", quando não há motivo para isso. Medo de amar? Por que? Por achar que sentimentos podem te machucar mais do que qualquer coisa? E por isso você vai se fechar na sua concha para o resto da vida? Uma vida sem amor, é uma vida desperdiçada. 

Sabe, eu passei minha vida inteira vivendo dentro de uma concha, e por mais que desde que John entrou na minha vida, coisas bizarras tem acontecido, eu não mudaria nada. Porque todos os caminhos me trouxeram até aqui, até ele. E sendo inesperado ou rápido demais, que seja, eu amo cada parte de te-lo conhecido. Só gostaria que depois do que aconteceu ontem, as coisas não mudassem...

O barulho da cafeteira avisando que o café estava pronto, faz eu ter um sobressalto. Olho ao redor, só em caso de eu ter acordado alguém com o barulho, mas eu ainda estava sozinha. Levantei me escorando na bancada, e caminhei mancando até a cafeteira, peguei um copo de uísque que estava na pia, porque eu não fazia ideia onde ficavam os copos dessa casa e não iria sair fuçando nos armarios com meu pé nesse estado, até porque eu não tinha altura suficiente, e esses armarios parecem terem sido feitos apenas para John e seus irmãos alcançarem. 

Coloquei um pouco de café no copo, o adocei, e segui com ele até onde eu estava sentada antes. Se esse copo estivesse cheio, eu já teria me queimado, mas como não está, o meu mancar não fez com que eu o derramasse. Fiquei ali sentada contemplando os primeiros raios de sol entrarem pela grandes janelas, até sentir braços envolverem minha cintura, e reconhecer as tatuagens de John neles. " Porque não me acordou, Annie? Eu teria te ajudado a descer as escadas, você vai piorar esse tornozelo", ele diz com a voz rouca de sono, e ele me vira rodando o assento do banco. John afasta meu cabelo do rosto, e passa o polegar no corte em meu rosto. "Eu odeio isso. Odeio que ela tenha machucado o meu anjo", diz pesaroso. "Está tudo bem. Estou bem", ele nega com a cabeça. "Não você não está. Nós ainda não conversamos sobre o que aconteceu naquela casa. Eu gostaria que você se abrisse comigo assim que possível, porque vou precisar tomar seu depoimento. O que aconteceu foi serio, Marie. Vou ter que levar você a New Haven, depois que leva-la ao medico", concordo silenciosa com ele. "Eu sei, só não me olha assim, ta bom? Você tem me olhado assim desde ontem, e eu não gosto disso", ele junta as sobrancelhas. "De que jeito?", fecho os olhos e respiro fundo. "Desse jeito. Como se você fosse me deixar", ele encosta sua testa na minha. "Marie...", nego com a cabeça. "Não fala nada. Apenas me beije", seguro o rosto dele com as mãos. "Me beija, John". 

DEAR MARIE [JM] 1Onde histórias criam vida. Descubra agora