46 || Broken Halos

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03:00 da manhã. Assim marcava no visor do celular, Moose estava deitado na pequena cama de solteiro junto comigo, com sua cabeça sobre meu estomago. Ele não havia dormido, e muito menos eu. "Garoto, eu vou me levantar e tentar escrever algo, ok? Você tente descansar", digo dando um beijo em sua cara, e me levanto indo até a escrivaninha acessa. O labrador sumiu na escuridão do quarto, mas seu barulho de indignação, me deixava saber que ele ainda estava ali, alerta. 

Me sentei na cadeira e liguei meu notebook. Iria tentar escrever um pouco, porque sabia que com essa apreensão que eu estava, não pregaria o olho até que o dia amanhecesse e John estivesse dentro de casa.  Assim que o note terminou de ligar, abri o arquivo do livro e voltei no paragrafo onde tinha parado de escrever:

"Há vezes que eu olhava para Walter, e me perguntava 'O quanto esse homem consegue esconder por de traz dessa mascara de alguém que tudo suporta?' e a maioria das vezes eu não tinha resposta para essa pergunta. Ele se escondia demais atrás de seus fantasmas, quase nunca deixava eu entrar, e quando deixava, as coisas saiam fora dos trilhos... 

Ele me disse algo uma vez, que me deu um breve deslumbre do quantos ele esconde... 'A crença é uma bela armadura, mas ataca a mais pesada espada', ele quis dizer oque com isso? Boa pergunta. Eu tenho uma ideia sobre... A de que você acredita no que vê, mas ao tentar indagar se o que está vendo, é realmente o que você acha que é, esquece que você não é o único tentando entender tudo. 

Quando o indaguei certa vez, sobre algo que não me lembro com clareza agora, Walter me disse ' A distância faz uma mulher querer ouvir, eu te amo, mais de uma vez', e isso me colocou para pensar, que agora que ele partiu em sua longa jornada, eu gostaria muito de ouvi-lo dizer que ama, mais de uma vez se possível..."

Moose se mexe na cama, e eu acabo me assustando. Talvez escrever não seja boa ideia, exige muito foco e concentração, e qualquer barulho no meio dessa tensão me assusta. Decido voltar a deitar na cama e tentar descansar um pouco. Eu precisava dormir, eu tinha trabalho no dia seguinte. Me sentei na cama, peguei o celular e mandei mensagem a John avisando que tentaria descansar, não obtive resposta depois que enviei, então desliguei a tela, e me deitei. O labrador preto ao meu lado deitou sua cabeça novamente meu peito, e mais enquanto olhava pela pequena janela de vidro, senti o sono vir... E apaguei. 



[♥]



Fui acordada na manhã seguinte pela claridade entrando pela janela, queimando meus olhos com os primeiros raios de sol da manhã. Moose já não estava mais deitado na cama, me espreguicei na cama, e esfreguei meus olhos. Deveria ser muito cedo, mas eu já sentia muito calor.  Me virei para levantar da cama, mas a figura de John sentado na cadeira com o chapéu que ele costumava usar em Montana, cobrindo parte de seu rosto, enquanto ele dormia, praticamente me fez saltar da cama. E acabei rindo por ter me assustado com ele. Andei devagar para não fazer barulho no assoalho, e levantei seu chapéu, havia um corte em sua boca, e escoriações ma região da bochecha perto dos olhos. O que me leva a crer que ele andou brigando com alguém... Toquei o rosto dele com carinho, e o chamei. "Johnny?", ele apertou os olhos, e os abriu devagar. "Ei, Mama", ele me puxou imediatamente, praticamente me puxando para seu colo. Me fazendo dar risada. "Alguém sentiu minha falta", ele ri. "Sempre sinto sua falta, por isso te trouxe para Connecticut comigo", ele aperta os braços ao redor de minha cintura. "Há quanto tempo você está aqui e porque não me acordou?", beijo sua testa. "Há uma hora, mais ou menos. E não te acordei porque você teve uma noite turbulenta", encosto minha cabeça em seu peito e me aninho ali. "Eu liguei para biblioteca e disse que você não iria essa manhã, ok?", ergo minha cabeça com a sobrancelha erguida em desaprovação. "Annie, eu passei duas noites fora, alguém estava rondando essa casa, e você estava sozinha. Tenho certeza que você dormiu mal. Ainda mais aqui em cima", eu queria discutir, mas ele tinha razão, eu tive uma péssima noite de sono, só queria descer para o quarto e me deitar naquela cama fresquinha. 

Que é exatamente o que fazemos no minuto seguinte, sair daquele sótão quente e abafado. O mais engraçado disso tudo, é que mesmo cansado e com sono, John desceu primeiro as escadas, e quando eu estava descendo ele, esticou os braços em minha direção e me pegou no colo como se eu fosse uma criança. "Eu posso andar. Você está cansado", ele nega com a cabeça. "Apenas coloque suas pernas ao redor da minha cintura, e pare de ser chata", dou risada. "Você vai acabar dando mal jeito nas costas fazendo isso. Só estou cuidando de você!", resmungo. "Cuida de mim no banho!", ele entra comigo no quarto indo direto para o banheiro, e só lá ele me coloca no chão. "Você quer que eu te dê banho? É isso mesmo?", ele faz que sim. "Quantos você tem, homem? 3?", ele gargalha. "Eu só quero ficar com você na banheira, ok?", dou de ombros, e começo a encher a banheira enquanto ele tira sua roupa, e como o cara organizado que é já as coloca dobradas dentro do cesto. Começo a tirar meu pijamas, mas ele me interrompe para ele mesmo tirar, e quando me deixa apenas de calcinha, me dá uma conferida de cima em baixo, e sorri. "Vem", diz segurando minha mão enquanto entra na banheira e ajudando a sentar no meio de suas pernas. "Eu achei que eu fosse te dar banho", ele apenas me abraça. "Eu só quero ficar assim com você por uns instantes, sim?", faço que sim com a cabeça, mas não deixo de perguntar. "Está tudo bem? Você está esquisito, e esta com o rosto machucado. Posso perguntar o que houve?", ele solta um longo suspiro, coloca meu cabelo de lado e beija meu pescoço. "Está tudo bem, Annie. Não tanto, mas não quero falar sobre agora, ta bom?", sua voz é suave, entristecida. O que me faz virar para olha-lo. "Você parece triste,  querido. Tem algo que eu possa fazer?", ele faz que sim. "O que?", ele me abraça, beijando minha bochecha, "Apenas sendo você... Eu... Ai Marie, eu não quero que você volte para Montana.", prendo a respiração com a revelação inesperada e me viro totalmente para ele. "Como assim?",  ele joga água no rosto e molha os cabelos com as mãos. E então olha para mim com uma intensidade, que faz meu coração disparar. "Marie, você me achou quando eu tive minha aurela quebrada. Apesar de nunca ter sido nenhum santo... Eu sempre gostei de pensar que era um cara legal. Mas quando fui a Paradise Valley, fui porque precisava de um tempo para entender o que se passava em minha mente, e procurar ajuda. E encontrei você, querida, Marie", ele toca meu nariz com seu longo dedo. "Você foi uma anjo que Deus enviou para me ajudar a entender o que se passava comigo mesmo. E e eu aprendi tanto com você... Você não faz ideia...", 

Conte a ele, Marie. Conte antes que seja tarde...  Ouço uma voz dizer no fundo de minha mente e a calo mais uma vez. Eu iria contar, mas não nesse momento. 

"John, eu não posso simplesmente mudar para cá, assim, do nada. E meus avós? Como ficam?", ele revira os olhos. "Como assim do nada? Vai me dizer que você não sente vontade de ficar aqui comigo?", abraço meus joelhos. "De verdade? Não", há confusão em seu rosto. "Como não?", me levanto da banheira e puxo um roupão pendurado por ali. "Eu amo você, John. Realmente amo, mas... Minha vida inteira está em Montana. Meus amigos e minha família. Eu não tenho nada aqui em Fairfield!", termino de amarrar o roupão e saio da banheira, saindo do banheiro, seguida por um John muito enraivecido e de tolha na cintura.  

"Você não tem nada em Fairfield? É serio isso?", fico em silencio. "Eu te fiz uma pergunta, Marie Annie", dou de ombros. "Eu, não conto? Ter a mim, não conta em nada, é isso?", respiro fundo. "Não foi isso que eu disse, Johnny!", ele passa as mãos no cabelo. "Foi exatamente isso que você disse. Que não tem nada aqui. E se não tem nada, quer dizer que eu não conto!", ele diz praticamente gritando. "Não. Quer dizer que, não é o suficiente!", eu berro de volta. E me arrependo no mesmo momento de ter dito aquelas coisas, no momento em que elas saem da minha boca. "Não foi o que isso que eu quis dizer...", ele levanta a mão. "Foi exatamente o que você quis dizer. Eu achei que a gente estivesse na mesma pagina, mas vejo que não. Me desculpe.", ele se vira troca de roupas mais rápido do que de costume, e caminha para sair do quarto. 

"John?", chamo uma vez mais ele não olha para traz. "John, espera!",  mas não há resposta. 

E eu apenas me sento na cama com a cabeça entre as mãos, tentando entender porque é que disse aquelas coisas, se não são o que eu verdadeiramente sinto? Ouço a porta da frente ser batida, e a voz dele chamar por seu cachorro, e novamente sou deixada sozinha, nessa casa.

"Eu realmente não tenho sorte", digo alto dentro do quarto.

"Você não faz ideia!", olho para trás, e tudo fica escuro...



DEAR MARIE [JM] 1Onde histórias criam vida. Descubra agora