45 || Bitter Sweet Symphony

32 3 16
                                    


Ficar esses dois sozinha na casa de John, tendo como companhia apenas seu cachorro, me trazia uma inquietação estranha. Eu não conheço tantas pessoas aqui, mas as poucas que fiz alguma amizade, eu ainda não conseguia me abrir 100%. Mas eu conseguia abrir meu coração para meu livro, o que estava escrevendo com peso na consciência porque talvez fosse muito errado eu usar a vida de John como base para minha historia. Mas talvez fosse certo...Quem é que sabe verdadeiramente. Eu quero que as pessoas saibam o quanto alguém pode ser incompreendido, e ter suas ações julgadas de maneira erradas. 

Nem tudo o que sai da sua boca é o que você realmente sente. Nem tudo o que você deixa transparecer  é o que você realmente está sentindo. Pelo menos, é assim que eu gosto de pensar. 

"Terra chamando, Marie Annie.", a voz de Lizze me assusta. "Onde sua cabeça estava? Estou a um tempão tentando chamar sua atenção.", ela diz saindo de trás da prateleira de livros. "Pensando na vida.", ela faz uma careta engraçada. "Isso é bem vago, MA.", dou risada. "Eu sei. O pensamento também era.", dou de ombros. "Como estão as coisas nesses dias que você passou sozinha?", respiro fundo. "Não sei. Me acostumei com a presença dele. Não sei se gosto de ficar sozinha numa casa em um lugar onde não conheço ninguém.", ela me oferece chocolate, e eu aceito, abrindo a embalagem e mordendo um pedaço. "Porque você não liga para suas amigas em Montana? Talvez te faça sentir menos sozinha, não?", balanço a cabeça pensando na ideia. "É... Acho que você pode ter razão.", ela ri. "Então meu trabalho aqui está feito. Vou voltar lá para baixo, ainda tem alguns livros que preciso etiquetar."

Eu sei que parece loucura, mas depois que comecei a trabalhar na biblioteca da cidade, todas as vezes que fico sozinha enquanto os outros funcionários estão fazendo suas obrigações ou ainda estão para chegar, andar pelas sessões de livros, era estranho. A biblioteca é enorme, mas quando se está colocando novos livros dos gêneros: terror/suspense/drama nas prateleiras, algo na bizarrice que as vezes cerca esses gêneros, deixam toda a sessão com essa aura pesada. Era como se de alguma forma eu tivesse sendo observada... Ou talvez  o fato de John ser do FBI, fazia com que eu me sentisse paranoica a ponto de achar que estou. De qualquer forma, era assim que eu me sentia. Enquanto empurrava o carrinho cheio de livros, olhei por entre as prateleiras a procura de alguém, mesmo que eu soubesse que estava apenas sendo paranoica, e acabei enxergando um par de olhos, gritei assustada e esbarrei derrubando alguns livros do carrinho. Então respirei fundo para me acalmar, e abaixei para pegar os livros que haviam caído, quando olhei para prateleira me dei conta que os olhos que tinham me assustado estampavam a capa de um livro. "Você está paranoica, Marie.", digo a mim mesma. 


{♥}

"Eu não sei... Acho que eu apenas sinto falta de estar em Paradise Valley...", digo me jogando de costas na cama enquanto segurava o celular na orelha. Estava em ligação com Tegan e Molly. "Annie, você nunca passou tanto tempo fora de casa. É normal sentir saudades de casa.", respiro fundo. "Talvez vocês tenham razão.", dou de ombros. "Mas me conta, como anda aquele livro? Escreveu mais alguma coisa?", me sento na cama, e olho para câmera. John provavelmente me escutaria se eu falasse abertamente sobre o livro, então novamente teria que falar sobre isso no banheiro, que era onde eu sabia que não tinha câmeras de vigilância. Me levantei da cama e entrei  no banheiro fechando a porta. "Bom, eu cheguei na reta final do livro. Devo finaliza-lo nos próximos dias, e enviar para editora", coloco uma mecha de cabelo atrás da orelha. "Ele sabe sobre o livro, Annie?", Molly pergunta. "Ainda não, mas pretendo contar em breve", há um silencio na linha, e eu fico pensando se as duas estão cochichando algo ou se a ligação caiu mesmo. "Gente? Ainda estão ai?", "Sim!! Desculpa Marie, eu e Tegan vamos ter que deligar agora, falamos com você depois, ok?", que estranho. "Tudo bem, até depois então."

Esse foi o fim de uma ligação mais estranho que aconteceu nos últimos tempos. Elas ficaram chateadas por eu ainda não ter contado para John sobre o livro? Eu quero contar, e vou contar assim que ele estiver finalizado, porque quero que ele leia tudo pronto, e se ele disser que não quer que eu publique, eu jamais publicarei. Será apenas um livro que eu escrevi para mim, e tudo bem, eu tento escrever outra coisa. 

Depois de um tempo sozinha em casa, eu preparei uma sopa,e  me sentei no sofá para assistir alguma coisa na TV. Moose estava deitado no sofá com a cabeça no meu coloco, e dormia. Fazia carinho nele uma vez ou outra quando percebia seus desconforto no sono. Acho que assim como eu, ele também sentia saudades de John. Suspiro fundo. 

Moose levanta a cabeça de repente e se levanta do sofá indo para porta. "O que foi, garoto?", ele continua a olhar para porta e abanar o rabo enquanto late. Não pode ser, John ele só chegaria amanhã... Meu celular vibra em cima da mesa. E vejo o nome do homem no visor, atendo logo. "É você do lado de fora?", pergunto antes de qualquer coisa. "Não. Ainda estou a caminho. Estou te ligando por que recebi alerta das câmeras de vigilância. Tem alguém rondando a casa", meu coração dispara no mesmo instante. "Como assim? Quem?", digo apressada. "Não importa quem é. Apenas me escute, eu quero que você vá para o sótão, e se tranque lá! Leve Moose com você. Vou mandar alguém checar a casa, e fazer vigilância noturna ai na porta. Mas por enquanto o sótão é o único lugar onde vocês dois estarão seguros. Vá. Mas vá agora!"

Ele desliga a ligação, e eu chamo Moose para me seguir até o andar de cima. Subimos as escadas correndo, eu entro no quarto rapidamente, pego meu notebook, e uso o ferro que John, me disse que puxava a escada do sótão, quando ela desceu fiz o cachorro subir primeiro e subi levando comigo o ferro e o notebook. Assim que escada subiu, fiz questão de trava-la por dentro, e corri para acender uma das luzes da escrivaninha. Sentei na cadeira e esperei que John ligasse de novo. O que ele fez instantes depois. "Você pode me ver aqui?", pergunto. "Não. Por isso liguei, imaginei que vocês já tivessem no sótão. Tem uma cama de solteiro ai, acho que cabe você o Moose." sorrio nervosa. "Como se eu ou ele fossemos conseguir dormir, né, homem!?", ele ri. "Certo. Só saiba que eu te amo, e que não vou deixar nada acontecer com você, ok?", era tão bom ouvir ele dizer aquilo... Eu não sei, a maneira como John dizia que me amava, fazia eu me sentir tão bem... "Também amo você, Johnny. De verdade. Agora vá trabalhar, eu te ligo se algo der errado", ele faz um ruido de desaprovação. "Não. Você me liga a cada 15 minutos. Ou me envie mensagem de texto. Nada vai acontecer com você, ok? Confia em mim. Não deixaria minha garota favorita sozinha na cidade se não tivesse pessoas para tomar conta dela!", Ah, bom! Então eu realmente estou sendo vigiada. Acabo rindo. "Vai descansar, Mama", balanço a cabeça. "Você também, homem. Tente relaxar", vou até a cama de solteiro no canto do sótão e me sento ligando um abaju empoeirado. "Eu vou, quando você estiver segura nos meus braços. Agora é serio, preciso desligar. Até depois", "Até, Johnny". 

Desligo a ligação com a sensação de que essa será uma noite longa....



DEAR MARIE [JM] 1Onde histórias criam vida. Descubra agora