27|| Let it go, paint my body gold

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Era um daqueles dias... Daqueles que eu não gostava de ter. Fazia algum tempo que não os tinha, mas acho que uma semana fora de Paradise Valley, e por ser o dia que é, algumas lembranças por conta da saudade, me deixara triste. John ainda dormia. Ele estava virado de bruços, agarrado ao travesseiro. Um desses ortopédicos- antiácaro, que ele comprou, e eu gostei tanto que ele acabou comprando uns 4. Sim, ele é um homem exagerado. Já viu o tamanho dele? 

Há uma hora atrás, eu havia levantado e aberto a janela do quarto, mas não afastei as cortinas — agora brancas, porque compramos novas —, e voltei para cama. Olhei a hora no celular e o relógio marcava 10:19 da manhã, fazia 16º, segundo o app do tempo. O vento entrava pela janela, um pouco mais frio, apesar do sol que fazia lá fora. Cobri o corpo de John com o cobertor, por extinto, ele estava sem camisa, apenas com a calça florida de seu pijama, e estava ventando um puco essa manhã. Aquilo era engraçado, em muitos níveis. Como um homem dá idade dele usava pijamas desse estilo? Ele tinha vários! Alguns eram ridículos, outros eram lindos. Eu gostava do preto de cetim, era de designe japonês, e lembrava essas roupas de Kung fu. Era muito bonito. 

John algumas vezes me fazia lembrar de meu pai, e isso me assustava muito. Porque meu pai era um amor de pessoa, comigo e com minha mãe, com todo resto, tirando também os meus avós, ele era mais rude, era aquele cara duro, que as pessoas respeitavam, mas que por muitas vezes parecia distante. Muitas vezes penso nas vezes que vi meu montar em Thor quando eu era criança, pelo campo de centeio. Ele gostava de ficar sozinho com seus pensamentos. Na época eu não entendia, ma agora, acho que entendo. As vezes nós só precisamos de um tempo com nós mesmos. Acordei pensando muito nos meus pais hoje, e em como a vida teria sido se os dois estivessem aqui. Nós ainda seriamos uma família feliz? Ou será nós já teríamos mudado de Montana para qualquer outro lugar? Talvez Saskatchewen, no Canadá? São muitas perguntas, que eu gostaria de ter alguma resposta, mais sei que é apenas a minha criança interior que de alguma forma se sente "abandonada", de alguma forma. Mesmo que não seja esse o caso, porque os perdi num acidente de carro. Mas imagina, você ter estado com seus pais á três horas a trás, e de repente... nunca mais estará?

Dói sabe? Pensar que aos 8 anos, tão de repente, uma hora eles estavam lá, e do nada não estavam mais. Não foi assim que eu sonhei minha vida. Eu fui uma criança solitária, uma adolescente solitária, e continuo. Bem... Não tanto mais, olho para John quando ele se mexe na cama, e se vira para mim. Eu estava sentada na cama, escorada na cabeceira, abraçada aos meus joelhos. Quando ele abre um dos olhos, e coça o outro. "A quanto tempo você está acordada, linda?", a voz profunda carregada de sono, me faz sorrir. "A tempo suficiente.", respondo com um sorriso triste. Ele esfrega os olhos, puxa a camiseta branca, pendurada na cabeceira, passa as mãos no cabelo, esfrega o rosto. "Você está triste... O que foi?", nego com a cabeça. "Deixa para lá...Você acabou de acordar.", ele se levanta dá cama. "Eu preciso ir no banheiro. Mas quando eu voltar, você vai me contar seja lá o que for que te deixou assim, ok?!", faço bico. "Desfaz esse bico. Eu quero saber.",  ele pisca para mim e me manda um beijo antes de entrar no banheiro. 

Ontem quando estávamos nos preparando para deitar, John me arranjou uma de suas camisetas, de quando ele esteve em Tokyo. Ela era branca, e tinha Tokyo e um circulo vermelho, logo abaixo. Agora, eu me pergunto... O que esse homem foi caçar em Tokyo? Me levantei da cama, e caminhei devagar em direção do banheiro, que estava com a porta aberta, eu só me aproximei quando ouvi o barulho da descarga, e dele abrir o espelho do banheiro. Quando ele o fechou, minha imagem apareceu nele, e ele sorriu, e me chamou com a mão com a escova de dentes na boca. Me sentei no balcão da penteadeira, com um enorme espelho, e me escorei ali o olhando de lado enquanto ele terminava sua higiene pessoal. Eu sei bem que não somos um casal, apesar de agirmos como se fossemos as vezes, mas eu gostava dessa intimidade que construímos um com o outro, me fazia sentir menos intrusa em sua casa. Ele lavou o rosto, e o secou, e passou daqueles cremes que ele sempre passava, e eu fiquei ali o admirando, até ele perceber que o estava sendo observado. John sorriu, molhou a ponta da toalha, pegou o pequeno pote de creme facial, e veio até mim. "Vira para mim.", pediu ele, quando consertei minha postura, e me virei para ele, que se colocou entre minhas pernas.

DEAR MARIE [JM] 1Onde histórias criam vida. Descubra agora