47 || Feet don't fail me now

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Tive o sonho mais estranho ontem a noite... Sonhei que John havia chego em casa, e brigamos porque não queria me mudar de vez para Fairfield. E então ele saiu, me deixando sozinha em casa, e alguém tinha me deixado inconsciente. Aperto os olhos, deitada na cama, e tento me mover, e descubro que não consigo fechar os braços ou pernas. Que porra é essa?  Puxo mais uma vez, e nada. Minha cabeça dói, e parece estar molhada.  Tento focar minha visão e quando consigo, vejo o vislumbre de alguém de cabelos longos loiros. Tento me mexer de novo, e então olho para meus pulsos amarrados nas duas extremidades da cama por uma corda, levanto a cabeça e olho para meus pés amarrados da mesma forma. Eu estava vulnerável, amarrada como o desenho de Leonardo Da Vinci. "Me solta!", grito. E só consigo ouvir a gargalhada da pessoa. Eu conheço essa risada... "Você é tão patética, Marie... Que, uau! Como você é idiota!", eu realmente conheço a dona dessa voz... Era Lolita. Mas eu  achei que John tivesse cuidado dela... "Por que você está fazendo isso, Lolita?!", ergo a cabeça e a vejo se levantar da poltrona, mexendo algo que parecia ser um canivete ou uma faca. Não sei dizer ao certo. Ela caminha até onde estou, e encosta a lamina do que eu acho ser um canivete, no meu pé, e a medida que ela vai se aproximando da cabeceira da cama, ela deslizava a lamina pela extensão do meu corpo. 

A sensação da lamina fria sendo deslizada sobre minha pele me causava arrepios. Eu estava com medo, muito mais medo do que senti quando fui atacada pelo coiote em Paradise Valley. 

"Você sabe que John tem câmeras espalhadas por essa casa, certo?", digo a ela. "Imaginei que tivesse, por esse motivo eu desliguei o gerador de energia. Eu posso ser loira, mas não sou burra. Não como você é", eu não entendia, porque Lolita estava fazendo isso? Ela se aproxima de mim e passa a lamina do que agora consigo identificar — um canivete borboleta —, no meu rosto e eu tento afasta-lo de seu toque, e ela o segura com força. "Você vai ficar bem quietinha, porque senão eu vou abrir um sorriso nessa sua boca igual o do Coringa!", ela empurra meu rosto com força no travesseiro. "Você achou mesmo, que depois do que aconteceu... Você se veria mesmo livre de mim?  Por sua causa, John me sedou e me levou contra minha vontade pra sanatório em Encinitas! Tudo para proteger a garota camponesa dele!",  Lolita pressiona a lamina do canivete na pele da minha bochecha, e eu consigo sentir ela começar a cortar minha carne. "Lolita, me escuta. Eu vou voltar par Paradise Valley, ok? Nós brigamos hoje por isso, porque eu não quero ficar. Eu vou embora e você não vai precisar se preocupar mais comigo, o que você acha?", ela se levanta abruptamente e coloca as mãos na testa. "Ele ama você, sua idiota! Você acha mesmo que ela vai deixar você ir embora assim da vida dele? Marie você não conhece nada mesmo do John! Ele é capaz de mover montanhas quando está apaixonado. Ele só vai seguir em frente de você, se você não estiver mais nesse planeta....", ela se senta de novo na cama, ao meu lado. "Você não vai me matar, Lolita. Se fizer isso, vão mandar você direto para ala psiquiátrica da prisão máxima, você nunca mais vai ver ele. É isso que você quer?", ela me observa, e acho que com isso, consegui a atenção dela. Não havia como eu tentar me soltar com ela ali em cima de mim, eu precisava enrolar ela, para que ela confiasse em mim. "Pensa bem, não seria bem melhor, se eu fosse embora do país, talvez mudasse para um bem distante... Eu nunca mais voltaria, e você teria ele só para você...", o que acontece a seguir me pegue de surpresa, ela esbofeteia meu rosto com as costas de sua mão livre, e o estalo causado pelo impacto ecoa dentro do quarto fechado. "Cala a porra da boca! Você acha que eu não sei o que está fazendo? Você está tentando me enrolar!", mexo a cabeça discordando desesperadamente, quando ela faz menção de furar uma de minhas mãos. "Não! Lolita, me escuta. Eu não estou tentando te enrolar. É verdade, eu quero ir embora de Connecticut. Eu quero ir para minha casa!", ela pressiona o canivete na palma de minha mão esquerda. "Eu mandei você calar a boca!", ela abre um talho na minha mão, me fazendo berrar de dor. "Por favor, Lolita. Não faz isso!", ela ri. "Você definitivamente é uma menina do campo indefesa. Esperando que algum príncipe em um cavalo branco a salve. Katy nunca implorou, ela ao menos tentou lutar comigo!", Lolita fecha o canivete e o guarda no bolso. "Bom, eu vou descer e revirar essa casa a procura do seu notebook, porque não achei ele em nenhum lugar desse quarto. Depois, vou enviar todo o conteúdo para John, e mostrar para ele que a princesinha dele, só estava o usando para escrever seu próximo livro. Ela sai batendo e trancando a porta do quarto. "Lolita? Lolita volta aqui!!!"

MERDA!

Pensa rápido, Marie, você precisa se soltar dessas cordas. Tento soltar minhas mãos mais uma vez, e percebo que há uma folga. A minha mão esquerda queimava de dor, mas algo passou em minha mente... Talvez se eu conseguisse sujar a parte de fora da minha mão o suficiente... Talvez o sangue fizesse minha pele deslizar pela folga do nó.  Aperto minha mão fazendo sair mais sangue do talho e ele começa a escorrer pelo meu ante braço. Quanto mais mexo a mão, mas sangue escorrer, me fazendo ter vontade de vomitar com o cheiro. Puxo a mão com gestos desesperados, mas a corda não cede. E não consigo conter as lagrimas de correrem pelo meu rosto. 

Eu não quis dizer que John não era suficiente para mim... Ele só me assustou com aquela historia de querer que eu não volte para Montana. Minha vida toda esta lá, eu não posso simplesmente dizer que vou ficar aqui, sem ter uma conversa com as pessoas que eu amo. Sem contar que falei todas aquelas coisas baseada no meu medo de não os ve-los mais. Eu não tive intenção  de magoa-lo. Aperto minha mão em punho mais uma vez, e a corda cede da amarração na cabeceira da cama fazendo um estalo. Mesmo com dificuldade consigo soltar a outra mão, e os meus pés, e então me levanto da cama depressa, e acabo caindo no chão. Meus pés estavam formigando por causa do aperto das cordas terem prendido a minha circulação sanguínea. "Vamos pés, não falhem agora", digo a mim mesma. Caminho do jeito que consigo até a porta da varanda do quarto e tento abri-la, mas não consigo, e ela faria muito barulho. 

Abro uma das gavetas da comoda de John a procura de sua arma, mas sem sucesso, não estava lá. Meu celular tinha ficado no sótão, eu não conseguiria ligar para ninguém. A unica saída, era a bascula do banheiro. Corri até ele, tranquei a porta por dentro e empurrei um dos armários, para segurar a porta. Então, esvaziei a banheira e abri a bascula, o vidro ficava aberto meio a meio, eu tinha duas opções, cair de cabeça ou de bunda. Optei por ir de cabeça, me apoiei na janela como deu, e fui passando minha cabeça para o lado de fora dela, e notar que havia um telhado, eu sairia no telhado traseiro da casa. 

Quando já estava em cima do telhado, ouvi os gritos de Lolita ao perceber que eu havia fugido. Começo a correr pelo telhado até o outro lado onde tinha uma escada na lateral, assim que consegui chegar lá, desci as escadas o mais depressa o possível e corri quintal a fora sem olhar para trás, e ser derrubada por Lolita. "Você não vai fugir, Marie!", me debati de baixo dela, que tentou segurar meu pescoço, mas eu consegui chuta-la e me desvencilhar de seu aperto, fazendo ela cair na grama, sai correndo rua fora, desesperada, gritando ajuda, até enxergar a figura de John e Moose. Não pensei duas vezes antes de correr em sua direção e me jogar contra  ele tremendo e chorando. "Marie, o que está acontecendo?", eu tremia apavorada. "Lolita...Ela...", ele me abraça, e sei que ele já entendeu. Ouço ele falar com alguém no telefone, então se volta para mim. "Ben vai vir buscar você. Ele vai te levar para casa dos meus pais. Eu te encontro lá assim que resolver isso.", nego com a cabeça. "Não me deixa sozinha, John. Eu... Eu...", volto a chorar.  Ele me abraça e beija meu cabelo algumas vezes. "Se acalma. Não deixar você sozinha.", Sua voz era calma e suave, mas sei que não era assim que ele se sentia. "Vem, se agache aqui atrás desse carro.", faço o que ele disse, mas acabo me sentando, eu tremia muito, não conseguia ficar só agachada. "Escuta, Mama, eu preciso entrar na casa, e conversar com ela. Fica aqui com Moose, sim?", faço que não. "Marie, por favor.", esfrego meu rosto, e me dou conta de que estou apenas de roupão na rua. "Não.", um carro encosta, e John me ajuda a levantar, vejo Ben sair do volvo preto, com uma cara apreensiva. "Ela surtou de novo?", ele pergunta quando se aproxima, e John afirma que sim. "Leve Marie e Moose para casa de praia. Eu vou entrar na casa.", tento segurar o braço dele para que ele não me deixasse, mas não obtive sucesso. Ele segurou meu rosto em suas mãos, e beijou meus lábios, como ele deveria ter feito antes da briga. "Eu amo você, mesmo que você não queira morar comigo.", balanço a cabeça discordando do que ele disse. "Não é isso...", ele me cala com o dedo indicador. "Falamos disso depois. Vá com Ben, descanse, ok?", olhei para ele suplicando com os olhos para que ele não entrasse na casa por que eu só conseguia chorar, meu emocional estava abalado e em panico. "Se acalma, sim? Eu vou resolver isso.", Ben coloca a mão em minhas costas e me guia até o carro. "Vamos, moça. O dia já tem sido muito longo, não acha?", não respondo, apenas concordo com a cabeça.

Assim que saímos dali, encosto minha cabeça na janela fria do carro, e deixo as minhas emoções escorrerem pelo meu rosto. Minha vida em Paradise Valley era tão simples... Como é que eu fui me apaixonar pelo o azar?

DEAR MARIE [JM] 1Onde histórias criam vida. Descubra agora