Capítulo 32

69K 4.9K 1.1K
                                    

- como dever de casa eu quero que vocês escrevam uma síntese sobre seus sentimentos, quero no mínimo dez linhas. - a senhorita Rubin diz animada enquanto seus saltos extremamente altos fazem barulho ao andar. - é para a próxima aula e valerá vinte e cinco por cento da nota semestral. Coloquem sua alma nessas poucas linhas e me mostrem que nem todos tem os cérebros fora do lugar.
Fecho o caderno e anoto na agenda o trabalho de literatura, guardo meus materiais e aguardo a saída de todos os alunos.
- Senhorita Rubin, posso te perguntar uma coisa ?
- claro Mia. - ela se senta em sua cadeira e abre uma pasta.
- como decidiu o que queria fazer da vida ? - jogo a mochila nos ombros.
- eu não escolhi Mia, a literatura me escolheu. Você sente quando é a coisa certa a se fazer quando pensa no bem que aquilo pode trazer a você e as pessoas a sua volta. Eu sempre amei todo tipo de livro, lia desde ficção científica a documentação bibliotecária. A profissão te escolhe quando vê que você já está madura o suficiente para exerce lá com dedicação e amor. - ela me encara com seus lindos olhos castanhos e sorri.
- obrigada senhorita Rubin, ajudou muito.
Sorrindo fraco ajeito os óculos e saio da sala com o celular nas mãos, vou até a sala de matemática avançada e me sento na primeira mesa do lado da janela.

Sammy, cadê você ?
M.

Ah desculpa morango, o carro pifou aqui e tive que ficar para ajudar meu pai a arrumar.
Amorzinho 😍.

E nem me avisa ?
M.

Não deu tempo, o carro quebrou no meio do caminho e eu esqueci o celular dentro da mochila.
Amorzinho 😍.

Tá tudo bem com você ?
Amorzinho 😍.

Tá sim, depois da escola ou quando você terminar aí passa lá em casa.
M.

Passo sim morango. Agora preciso terminar de limpar o carburador, beijos.
Amorzinho 😍.

Beijos Sammy.
M.

A falta de Sam está justificada, agora é a vez de Andrew. Observo os alunos entrando e mando a mensagem enquanto o professor não entra na sala.

Andrew, você está bem ?
M.

Sim, não pude ir hoje por que estou na empresa com o meu pai.
Andrew ❤.

Desculpa não ter avisado.
Andrew ❤.

Não tem problema.
M.

Preciso ir, eu passo pra te ver depois. Beijo
Andrew ❤.

Beijo.
M.

Guardo o celular na mochila e espero a boa vontade do senhor Will de entrar na sala e dar a minha matéria favorita.

" "

No estacionamento da escola vejo quantos carros caros tem ali, são muitos jeeps, vários esportivos, algumas motos e uns carros antigos mas bem cuidados, assim como o meu Fufu. Tudo tão material, tão destrutível.
Entro no meu Fusca e me encosto no banco do motorista, jogando a mochila no banco do passageiro e abrindo o porta luvas para pegar um chiclete de uva. Ligo o carro e me coloco no caminho de casa, rezando para chegar logo e fazer minha carta de admissão. As ruas estão movimentadas, pessoas indo buscar seus filhos nas escolas ou voltando do trabalho, ou apenas dando uma volta no fim da tarde. Vovô sempre faz uma caminhada antes de eu chegar da escola, o médico lhe aconselhou a fazer isso a alguns anos.
Estaciono o carro na garagem e abaixo o portão para fecha lá, abro a porta da frente e ao entrar em casa sinto um alívio.
Esse foi um dia diferente.
Subo direto para o meu quarto e pego meu notebook, abrindo o arquivo da carta. Ajeito os óculos e retiro os tênis, cruzando as pernas e colocando o notebook sobre uma almofada em minha frente.
Não sei quanto tempo se passou desde que comecei a escrever, o dia já não é mais dia e eu me sinto esgotada. Sammy não apareceu e nem Andrew, vovô deve estar fazendo o jantar ou na casa do John conversando sobre pesca. John tem seus quarenta e dois anos muito bem vividos, seus gêmeos estão na faculdade, Josh faz direito e Natan faz Ciência e Engenharia Computacional, os dois em Harvard. Vovô desde que nos mudamos se tornou muito amigo de John e sua esposa, Margareth. Os três sempre almoçam juntos e John sempre sai para pescar com vovô aos fins de semana além de o acompanhar ao médico algumas vezes. Eu gosto de John e Margareth, os dois são um exemplo vivo de que o amor pode durar mais que um verão.
Salvo meu arquivo e coloco o notebook para carregar em cima do criado mudo, pego o celular e encontro uma mensagem, mas não é de Sam ou de Andrew.

Estou caminhando com o John e Margareth no parque do centro da cidade, chego em casa no máximo até às sete.
Se tiver fome comprei frutas pra você, estão na gaveta da geladeira e algumas estão sobre a mesa.
Te amo.
Vovô 💗.

Te amo. Não precisa se preocupar.
M.

Amarro meu cabelo em um coque no topo da cabeça e sigo para o banheiro, refiro a roupa e a coloco no cesto ao lado da privada. Ligo o chuveiro na água quente e começo a me lavar.
São tantas questões, tantos medos e tão louco tempo pra resolver.

Espero que esse tempo seja suficiente.

GraysonOnde histórias criam vida. Descubra agora