Capítulo 71

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Enquanto analiso a pintura que acabei de terminar, penso em como a vida pode ser idiota e confusa, aquele que sempre me odiou acaba me dizendo que gosta de mim, ganhei um carro novo antes do meu aniversário e meu namorado está com uma pessoa não confiável em casa. Tudo bem, eu também estou, no momento, com Daniel, mas vovô só foi pegar um pouco de água. A figura branca e realista na tela me encara, os olhos verdes luminosos e os lábios avermelhados, os cabelos negros com algumas mechas soltas.
Tão diferente, mas tão parecido.
Retiro a tela do cavalete e a coloco, no meu campo de visão, em frente a Daniel. Toda a face e a expressão ficaram idênticas, o peito apertado pela camisa também é realmente impressionante, coloco a tela em seu lugar e a viro na direção da janela, deixando com que o vento ajude a tinta a secar.
- precisa de ajuda. - pergunto retirando o avental.
- não Mia, estou bem. - ele sorri rápido e volta a se concentrar na tela.
A testa franzida , os olhos azuis como o oceano focados no trabalho e os lábios apertados. Daniel consegue ser muito bonito, mas o destino não nos concedeu a melhor das situações. Pego meu celular e retiro uma foto do retrato dele, mandando para Sam.

O que achou ?
M.

Quem é esse Deus grego ? 😲
Amorzinho 😍.

Adivinha .
M.

O Andrew não pode ser, seria o Daniel ?
Amorzinho 😍.

Exato, acha que alguém vai acertar durante a exposição ?
M.

Com esses olhos e esse cabelo eu acho difícil, mas o rosto é igual morango, não duvido que muitos acertem.
Amorzinho 😍.

Que nota eu mereço ?
M.

Um dez obviamente.
Amorzinho 😍.

Vou ver se Daniel precisa de ajuda, depois me conta como vai o trabalho com a Lindsey.
M.

Claro, vai lá. Claro que conto, essa vadia é louca 😂.
Amorzinho 😍

Beijos Sam.
M.

Beijinhos vaca.
Amorzinho 😍.

- você quer alguma coisa Daniel ? Um copo d'água, algo pra comer ? - pergunto deixando o celular sobre as coxas.
- acho que só um copo de água está bom Mia. - me levanto e coloco o celular sobre a banqueta.
Saio da sala de jantar e encontro vovô voltando com uma bandeja aonde estão dois copos de suco.
- eu estava levando isso pra vocês agora. - ele me entrega a bandeja com cuidado. - mas como você veio atrás, pode ir na frente.
- tudo bem.
Coloco a bandeja com calma sobre as palmas das mãos e me viro para voltar à sala de jantar.
- aceita um suco no lugar da água ? Vovô acabou de espremer. - sorrio.
Daniel desvia o olhar da tela para mim e sorri de lado, deixando o pincel sujo de tinta alaranjada sobre a paleta e estende a mão para pegar um copo do suco cítrico. Pego o copo que restou e deixo a bandeja sobre os lençóis em cima da mesa, observo vovô indo se sentar em sua cadeira com um livro nas mãos e mordo meu lábio inferior ao pensar se conto ou não a minha nova descoberta para Andrew. Tomo um gole do meu suco e sinto o líquido gelado descendo pela minha garganta, o clima não está tão quente mas é refrescante. Deixo o copo ainda na metade sobre a mesa e ajeito algumas tintas dentro da caixa de papelão enquanto Daniel se mantém concentrado em seu trabalho. Olho para vovô e vejo que o mesmo acabou dormindo sem completar sua leitura, pego o livro de suas mãos e o deposito sobre seu colo.
- terminei. - a voz suave de Daniel anuncia e eu me viro para encarar sua face.
- eu posso ver ? - pergunto.
- claro.
Ele se levanta e retira o avental, dobrando o perfeitamente e o deixando sobre a banqueta. Dou três passos até ele e fico de frente para a tela. As cores em tons de vermelho, amarelo, laranja e âmbar dançam freneticamente no que seriam os cabelos, o rosto virado para o lado em uma pele perfeitamente bem desenhada, os olhos em um tom de verde e mel quase escondidos pelas pálpebras quase fechadas, o nariz delicado, a boca vermelha e saudável, a pele das costas sendo escondida por pouco pano branco, deixando os ombros a mostra.
- é assim que você me vê ? - pergunto, olhando fundo em seus olhos azuis.
- é assim que eu consigo te descrever. - ele sussurra com os olhos fixos em mim, a confusão e o medo estampados nas pupilas dilatadas.
- é lindo. - volto a olhar para o quadro e me controlo para não tocar a tela ainda molhada.
- para um pintor de primeira viagem, não é nada mal, não é ?
- você é muito bom, deveria frequentar mais vezes as aulas do senhor Scott.
- vou pensar com carinho nisso. - Daniel ri e eu pego o cavalete, ainda com tela, para colocar perto da janela ao lado do meu.
- eu ajudo com isso. - Daniel pega a tela com cuidado e sem querer, acabo tropeçando em um jornal mal esticado no chão.
O pincel com tinta que estava no cavalete acaba indo para na camisa de Daniel, manchando o tecido branco com um ponto enorme laranja, coloco a mão na boca e tento me aproximar para limpar com a bainha da minha camiseta.
- oh meu Deus, me desculpe. Droga, por que eu tinha que ser tão desastrada. - praguejei baixo, esfregando o tecido claro da minha camiseta na camisa dele.
- espere, não precisa de tudo isso. - ele deixa a tela sobre a mesa e pega em minhas mãos, fazendo com que eu pare de esfregar o tecido e olhe em seus olhos - não precisa Mia, é só tinta.
- não posso deixar você ir embora assim, vem comigo.

GraysonOnde histórias criam vida. Descubra agora