Capítulo 99

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Sam e Brandon foram embora depois do almoço, que na verdade era lasanha que eu preparei de última hora. Andrew me abraça por trás e sinto seus lábios tocarem minha nuca, rio baixo para tentar esquecer o arrepio que surgiu em minha espinha e termino de enxugar minhas mãos.
- seu avô chega que horas ? - depois da pergunta seus dentes prendem o glóbulo da minha orelha direita, o soltando bem devagar.
- entre as cinco e às sete, são duas horas e quinze de viagem.
- ela não podia ter vindo aqui ? É meio longe para o seu avô ficar indo até lá e voltando.
- Megan é legal, mas não esconde seu desprezo por Jacksonville. - pendurei o pano no gancho e apanho a aliança em cima da bancada de madeira, colocando a no dedo anelar.
- ela é de onde ?
- Orlando.
- grande merda.
Megan sempre foi o mais próximo de prima chata que eu tive, quando éramos menores seus pais a deixavam aqui em casa para passar as férias e sinceramente, era legal conversar com alguém que não fosse Sammy. Megan costumava invadir meu quarto e usar minhas roupas, sapatos e até pegar meus acessórios para uma brincadeira que ela intitulava como o dia de beleza da Megan. Por mais que eu gostasse de sua companhia sempre sentia que Megan não era verdadeira comigo, e eu pude confirmar isso quando completamos quinze anos e infelizmente, fazemos aniversário na mesma semana. Ela quase surtou quando recusei fazer a tradicional festa, meu avô estava disposto a me dar um dia de princesa enquanto os pais dela mal podiam pagar as contas da casa, mesmo com meu avô pagando sua escola. Megan decidiu ser outra pessoa a partir daquele dia e eu entendi que o melhor era guardar as palavras dela apenas para mim e poupar meu avô dessa decepção com a afilhada.
- Megan tem seus defeitos, mas sei que ainda há alguma coisa de bom nela, bem no fundo.
- você sempre vê o melhor nas pessoas, espero que um dia isso não acabe te magoando Mia.
Ele coloca uma mecha solta de meu coque atrás da orelha e se inclina para me beijar, os lábios quentes sobre os meus ainda sem se mover.
- acho que já vou indo.
- tudo bem, me ligue mais tarde.
- vou ligar.
Lembrando me das peças em cima da bancada de mármore preto largo sua mão e volto para pegá-las, Andrew parece em duvida mas logo sua expressão se suaviza, provavelmente, se lembrando de quando deixou as roupas aqui.
- são do dia da chuva ?
- sim, eu esqueci no closet.
- obrigada por me devolver, estava sentindo falta delas.
Lhe entrego as duas peças ainda dobradas e me levanto para ficar na ponta dos pés quando me aproximo dele, molho os lábios com a língua e lhe dou um beijo casto no queixo.
- poderia ter sido mais para cima não acha ? - ele sorri cafajeste.
- infelizmente eu não alcanço sua boca.
- que sabe assim você consegue.
Um grito de surpresa é solto pela minha parte quando Andrew me pega no colo apenas com um braço, usando o outro para sustentar minha bunda e ainda segurando as roupas. Lhe alcanço a boca e lhe dou um beijo calmo, aproveitando cada segundo em que sua boca explora a minha com paixão. Seus dentes me mordem de leve e eu quase desmancho, pensando em como ele beija terrivelmente bem.
- agora eu vou. - ele corta o beijo e tenta morder a ponta do meu nariz.
- hey. - protesto saindo se seu colo.
- até mais ruiva. - sou puxada pela última vez e tenho um beijo na testa.
- até amor.
Ele sorri com o apelido e se vira devagar, indo até a porta e me mandando uma piscada antes de sair e fecha-lá.

" "

Enquanto a última foto tirada na praia é impressa mexo na prateleira recém preenchida de vovô, os livros, todos em capa dura, perfeitamente arrumados em uma ordem que eu não consigo entender. As letras estão misturadas e também não estão separados por autor, apanho um exemplar de Madame Bovary, de August Flaubert e paro em pé em frente a mesa de canto. O exemplar está em francês, vovô sempre compra algum livro em outra língua e o deixa perto do exemplar traduzido para o inglês, segundo ele eu preciso ter um relacionamento sério com a língua antes de tentar usá-la. Recolho as fotos com cuidado e devolvo o livro ao seu lugar, deixando a pequena biblioteca para trás e fechando a porta.
Com as fotos nas mãos penso em como minha vida mudou depois do início das aulas, meu último ano nem começou direito e já foi mais emocionante e assustador do que toda a minha vida. Balanço a cabeça tentando deixar as lembranças se esvairem e subindo as escadas devagar, me dando o trabalho de segurar o corrimão de madeira escura.
Deve ter algum álbum de fotos vazio lá em cima !
Entro no quarto e corro para abrir a última gaveta da cômoda rosa, retirando da frente alguns livros que costumava ler quando era mais nova e embaixo de um exemplar de o pequeno príncipe, encontro dois álbuns vazios. Um de capa preta e outro cor de rosa, pego os dois e me levanto para ir até a cama. Separando as fotos de Brando e Sammy no álbum de capa preta e colocando as minhas e de Andrew no rosa, aqui será o local aonde nossas memórias do último ano escolar serão guardadas e para sempre relembradas.
Deixo os álbuns dentro da terceira gaveta da cômoda e pego uma toalha para tomar um banho antes de meu avô chegar, espero que ele não encontre Josh no caminho e decida convidá-lo para entrar, o ar que ele respira é tóxico e a última coisa que eu quero é sem envenenada.

GraysonOnde histórias criam vida. Descubra agora