Capítulo 44

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Me encolhi na cama quando ouço batidas fracas na porta, com um dos olhos abertos foco na janela aberta e o vento frio balançando as cortinas.
- Mia, posso entrar ? - tinha esquecido dele por um instante.
- claro vô. - cubro meus braços com o edredom e me sento na cama.
Ele entra com as roupas de sempre, camisa azul clara dobrada até os cotovelos, calça social preta e seu colete de crochê cinza. Seu olhar é preocupado, os óculos meio abaixados escorados no nariz mostram isso.
- você está bem ? - ele se senta na beirada da cama.
- sim, só um pouco deprimida. - coloco meus óculos.
- o menino Sam não foi a escola hoje ?
- não vovô, mas não é por isso.
- Grayson tem alguma coisa a ver com isso ? - seu tom de voz se torna mais grave.
- nos tivemos uma briguinha, eu acho que é coisa boba mas parece que ele levou a sério. - confesso.
- olha Mia, brigas fazem parte de todo tipo de relação seja amizade ou namoro. E esse é o motivo do amor existir, nos ajudar a superar as barreiras e defeitos do outro. Eu não vou muito com a cara do Grayson mas aceitei ele dentro da minha casa e por você, mas acho que esse tipo de situação só pode ser resolvida por uma conversa entre vocês dois.
- não quero ver ele hoje.
- então que seja amanhã, quanto mais adiar essa conversa para colocar os pingos nos "is " mais vai ficar deprimida e aborrecida.
Vovô passa os dedos em minha face e eu fecho os olhos para absorver o carinho.
- obrigada vovô, eu amo o senhor. - olho em seus olhos.
- eu também te amo Mia, mais do que a minha própria vida. - ele sorri fraco - e se esse garoto de fazer chorar mais uma vez ele vai ter que se ver comigo.
- tudo bem vô, o que vai fazer pro jantar ? - mudo de assunto.
- não sei, pensei em jantarmos fora naquele restaurante de comida japonesa que você gosta.
- eu acho perfeito.
- se arrume então, saímos às oito.
Vovô da dois tapinhas em minha perna esquerda e se levanta, fechando a porta ao sair. Me descubro e evito de olhar meu pulso, me levanto da cama e vou até a janela para fechar a mesma. Olho em direção a casa de Andrew pela fresta que ficou e lá está ele, sem camisa apoiado pelos cotovelos no batente de sua janela. Os olhos vidrados nos próprios dedos entrelaçados e os cabelos tão escuros como a noite bagunçados.
Por que você tinha que bagunçar a minha cabeça desse jeito ?
Mordo meu lábio e respiro fundo, fecho a janela e pego meu celular o retirando do modo avião e esperando as notificações chegarem.

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Andrew realmente quer mesmo falar comigo mas ainda não sei se consigo deixa lo chegar perto o suficiente de novo. Deixo o celular sobre a cama e vou até meu closet, escolhendo um vestido preto curto de mangas compridas, uma meia fina preta e minhas botas de cano curto. Entro no banheiro e tomo uma ducha rápida sem molhar o cabelo, faço uma maquiagem simples com um esfumado marrom, rímel e um batom vinho. Visto minha roupa por cima de uma lingerie fina de renda preta e faço uma trança embutida lateral no cabelo, deixando alguns fios soltos e passando mousse capilar para os deixar com fracas ondas.
Voltando para o quarto encontro Charlie deitado sobre minha cama ao lado do meu celular, suas orelhinhas levantadas o deixam tão fofo ao ponto de eu querer mexer nelas até ele acordar.

Enquanto deixo vovô escolher os pratos observo o ambiente, várias mesas cheias, as pessoas conversando baixo e civilizadamente, casais trocando flertes ou brigando com discrição, poucas crianças na área infantil, os garçons andando de um lado para o outro pegando e entregando pedidos.
Tão chato.
- que tal alguns bolinhos e aquela barca média ? - ele abaixa o cardápio ficando os olhos quase dourados brilhando de expectativa.
- seria ótimo.
Ele chama o garçom e faz nosso pedido, mordo meu lábio e começo a sentir uma leve pontada na cabeça peço licença a vovô e caminho devagar até o banheiro feminino. Duas mulheres ajustam a maquiagem e os sutiãs em frente ao grande espelho, passo por elas que se me olham estranho, talvez por ter atrapalhado sua conversa acalorada e entro em um dos Boxes.
Retiro um pequeno compartimento do bolso lateral do vestido e ali pego uma pílula para dor, engulo a seco e me sento sobre a tampa do sanitário.
Desbloqueio meu celular e acabo por abrir um dos torpedos de Andrew.

Hey, eu sei que peguei pesado com toda aquela situação maisncedo, eu sinto muito por isso. Quando Daniel me disse que você o havia perdoado eu fiquei sem entender, todas as cenas daquele maldito dia vieram a minha mente. Ele não deveria ter tocado em você, não deveria sequer pensar que tinha o direito de receber seu carinho sem sua permissão. Eu sei que isso não é uma desculpa para a minha atitude mas eu realmente me sinto mal com isso e cada mensagem ou ligação que você ignora só me mostra o quanto eu ainda preciso melhorar para merecer o seu amor.
Espero que possamos conversar e nos entender .
Eu realmente não sei o que ... Fazer pra te mostrar que eu me importo e que eu não quero ficar sem você.
Andrew ❤.

Vou deixar a janela destrancada, esteja no meu quarto antes das três da manhã. Precisamos conversar.
M.

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