Capítulo 122

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Termino de vestir o camisão em um azul bebê tão claro que em contraste com a cor dos meus cabelos molhados ficou bem estranho. Andrew insistiu em me esperar terminar o banho para que pudesse o acompanhar até a porta e lá está ele, sentado em minha poltrona com os cabelos molhados em sua bagunça matinal e as pernas abertas, os braços esticados ao lado do corpo e a cabeça apoiada no couro cor de rosa.
O garoto especial dos Grayson's.
Os olhos fechados, a respiração calma.
Deixo a escova sobre a penteadeira e me aproximo sorrateiramente, andando na ponta dos pés. Estico uma das pernas e a jogo por cima da perna direita de Andrew, me sentado com cuidado para não o acordar e repetindo o processo com a minha perna direita.
Ajeito o corpo e me inclino para frente, tocando os lábios na face quente e meio rosada do garoto. Beijando as maçãs do rosto, as bochechas, o meio das sobrancelhas e a ponta da nariz por fim, conseguindo arrancar um riso baixo do safado que estava fingindo dormir.
- você esqueceu uma parte. - a voz rouca e baixa.
Ele abre os olhos e aquela imensidão verde com pontos em um castanho imenso começam a me fitar. Mordo o lábio e me ajeito sobre seu colo, puxando o camisão para esconder minha parte íntima.
- e qual seria ? - pergunto encarando suas belas órbitas esverdeadas.
Como alguém pode ser tão belo ?
Terrivelmente belo !
- posso te dizer ou te mostrar, qual você escolhe ?
O lábio preso em meio aos dentes superiores e inferiores, a bela camada de pele macia e rosada molhada.
- você precisa ir amor.
- e você precisa responder minha pergunta.
- eu te respondo se você descer comigo, combinado ? - lhe estendo a mão direita.
- hum, combinado ruiva. - a mão direita, branca e forte, aperta a minha com delicadeza.
- então vamos.
Saio de seu colo e me viro vestir as meias coloridas que deixei em cima da cama, puxo Andrew pelas mãos para ajudá-lo a se levantar e rio quando ele me puxa para si. Tocando meu peito com o seu, me solto dele, o puxando para fora do quarto e o arrastando pelo corredor, tentando não fazer nenhum barulho.
Descemos a escada com cuidado e ao chegarmos na sala vejo Charlie dormindo tranquilamente sobre o sofá de dois lugares, as patas esticadas e o rabo encolhido.
- esse gato é estranho, o bicho só dorme. - Andrew resmunga quando eu o empurro a caminho da porta.
- não, ele ainda é um filhote amor, claro que vai dormir bastante. - giro a chave e a maçaneta gira devagar.
- obrigada por ter me feito falar, já estava me sufocando guardar tudo aquilo. - apoio a cabeça em seu peito e sorrio.
- não precisa agradecer Andrew, você tem que saber que pode contar comigo em todas as situações. Okay ? - ele enfia o nariz em meu cabelo e respira profundamente.
- okay, sempre tão cheirosa.
- agora vá, vá antes que meu avô acorde para conferir se você já foi embora.
- tudo bem ruiva, até amanhã. - um beijo rápido é depositado em meus lábios quando retiro a cabeça de seu peito.
- tchau.
- tchau ruiva.
E assim ele se vai, levando não só a camisa na qual eu sentia seu cheiro mais também um pedaço do meu coração.

" "

Me deitei de barriga para cima e abri o livro que ganhou meu coração com todas as forças.
Romeu e Julieta.
Apoio a cabeça em uma das almofadas e estico as pernas, enfiando os pés debaixo da coberta fina e felpuda. A luz amarelada do abajur banha as páginas um pouco velhas do antigo exemplar enquanto meus olhos vagam pelas linhas, lendo as pequenas letras e acompanhando a trágica história de amor e morte.
Se os Montecchios e os Capuletos tivessem entrado em um consenso ao descobrirem a paixão entre os herdeiros das casas, talvez a história não teria um final tão arrebatador e triste. Mas de certa forma eu acho que esse era o objetivo de Shakespeare ao criar um trama desse estilo, talvez a ideia de um final feliz e cheio de pétalas de rosa seja clichê demais e não deixaria o mundo todo atordoado com a morte do jovem casal.
William Shakespeare e Andrew Grayson tem algo em comum : os dois  me fazem pensar em todos os detalhes possíveis de como tudo poderia ser diferente se o final fosse outro.
Deposito o livro, com o marca páginas enfiado no meio do exemplar, em cima do criado mudo da esquerda e cubro o corpo com a coberta, sentido um leve arrepio quando o tecido toca minha pele eriçada por conta do frio. Retiro os óculos, os deixando ao lado do abajur e do celular, e encolhi as pernas aí sentir algo andar sobre elas. Levanto a cabeça brevemente, voltando a colocá-la sobre o travesseiro depois de ver Charlie se alojando entre a dobra dos meus joelhos. Inspiro fundo o tecido cor de rosa e sorrio ao sentir o cheiro de Andrew, o cheiro amadeirado de seu perfume impregnado em meus lençóis e o de sua pele em minha coberta.
Como pode ser tão cheiroso assim ?
Molho os lábios com a ponta da língua e me remexo na cama, sentindo o gato em minha perna se mexer e dar um miado baixo de repreensão. Jogo os cabelos para cima e deixo os dedos penetrarem os fios lisos, sentindo a sedosidade do cabelo a cada vez que desço as mãos, os penteando com as pontas dos dedos.
Observo o teto do quarto ao pensar no que Andrew me contou a momentos atrás, se Anthony Grayson pode ser tão bonito por fora, com toda a certeza do mundo, pode ser podre por dentro. A história parece ser mais longa do que parece e realmente, eu acho que Andrew ainda não me contou tudo, mas apenas o suficiente para entender a raiz do problema entre eles. E ainda sim, eu preciso saber mais sobre essa relação conturbada entre os filhos dos Grayson's, preciso saber o que Anthony pretende com a sua volta, já que praticamente Richard foi obrigado a lhe dar o controle da empresa em Milão para proteger o filho mais novo.
Mas o que mais me preocupa é :
Até onde Anthony está disposto a ir por conta de poder e dinheiro ?
Além de querer provar aos pais que é mais responsável e capacitado que o irmão para controlar a empresa e a fortuna da família.

GraysonOnde histórias criam vida. Descubra agora