Andrew está sentado comigo em duas mesas de distância da mesa do time de basquete, as mangas da camisa puxadas até os cotovelos e o olhar pensativo enquanto cutuca o pedaço de pizza em seu prato.
- está tudo bem ? - pergunto notando seu pensamento em outro planeta.
- só pensando. - ele deixa o garfo de lado e levanta o olhar.
- eu posso saber em que ? - coloco um pedaço de pudim na boca.
- você não entendeu o que Kevin quis dizer né ? Com eu estar melhor do que ele ?
- sinceramente, não.
- eu imaginava que não. - ele solta um riso fraco.
- então me explica, por favor. - deixo o resto do pudim de lado e coloco as mãos sobre as coxas.
- Ele cantou você na minha frente, por isso o tapa na nuca daquele desgraçado, se bem que eu queria mesmo arrancar cada dente dele no soco.
Que ?
- mas ele é seu amigo Andrew, não teria tanta cara de pau assim !
Não ! Kevin não poderia ter feito isso, ele e Andrew são amigos a anos, certamente Kevin até diminuiu suas palavras com Daniel ao ver Andrew se afastando do garoto de olhos azuis.
- eu e Kevin costumávamos revezar as garotas com quem ficávamos, eu pegava e alguns dias depois deixava que ele tomasse a frente. - ele rola os olhos. - mas eu deixei bem claro de que você era minha, só minha.
- olha, eu realmente não acho legal ficar revezando as garotas como se fossem troféus que ficassem a cada dia em uma casa diferente, mas se elas mesmas se sujeitam a isso para ficar com vocês é por que elas não se dão o devido valor. Mas não vou julgar elas e muito menos vocês por terem feito isso, cada um tem seus escrúpulos e caráter próprio para decidir o que querem. - suspiro pesado e com o polegar direito começo a acariciar minha coxa esquerda. - só deixe claro para Kevin que eu não sou um troféu para ficar passando de mão em mão, por favor Andrew, não quero me sujeitar a passar mais vezes por situações assim, é constrangedor para mim e com certeza, para você também, já que possui esse espírito possessivo e raivoso.
- vou conversar com o ele ruiva, prometo que isso não vai acontecer de novo. - Andrew eleva uma de suas mãos e toca meu rosto de leve, os dedos ainda gelados.
- tudo bem, agora coma, essa pizza pode ficar extremamente nojenta quando esfria.
- acho que já está fria. - com o garfo ele cutuca a parte recheada com queijo e tomate.
- então não coma, isso vai te fazer mal.
- a única coisa que vai me fazer mal ruiva, é ser preso por agressão depois de arrebentar os ossos de quem te fazer sentir um objeto de novo.
- como eu disse, possessivo e raivoso.
- quando se trata de você, eu posso ser qualquer coisa Mia." "
O senhor Scott anda de uma lado para o outro enquanto explica sua matéria, sua voz sai calma e confiante, aonde ele faz questão de demonstrar seu amor pela matéria e pela profissão escolhida.
- a arte da pintura é muito mais do que apenas passar para a tela a imagem que nossos olhos vêem, muito mais do que apenas um desenho sem nexo ou colorido. A pintura é quando deixamos o coração e a mente se fundirem ao ponto de transmitirem os sentimentos e o que vemos em nosso interior para formar uma imagem sólida, abstrata ou sem entendimento, algo que cause estranhamento em quem vê.- ele se senta na ponta da mesa, deixando uma perna apoiada na mesa e outra como apoio no chão . - As obras de arte mais belas são aquelas que refletem o que o pintor sentiu ao fazê-las, sendo raiva, ódio, amor, medo, sofrimentos, alegria, felicidade, êxtase, pudor, atração, fé, rebeldia, entre outros.
- então o senhor quer dizer que arte não é só quando pintamos frutas por dever, mas sim quando pintamos as frutas com sentimento ? - Sindy, uma garota gótica que senta no fundo perguntou como se não tivesse entendido a linha de raciocínio do professor.
- sim, nada que fazemos por obrigação é bom, nem mesmo a arte. O sentimento é o melhor combustível para quem quer queimar, ao invés de ser queimado. E quando se trata de pintar, você simplesmente tem que passar para a tela, o que se passa dentro de você.
- então queimar seria transmitir o que sentimos para a tela e ser queimado seria deixar tudo se acumular dentro de nós ? - a voz não me é estranha e ao me virar devagar para ver quem é, não deixo de esconder a surpresa de ver Daniel sentando em uma das carteiras do fundo.
- exatamente, o sentido de queimar na pintura é não deixar os sentimentos te dominarem e evitar a explosão e o de ser queimado é se deixar ganhar, se deixar sem levado ao fundo do poço e explodir no final. - as sobrancelhas loiras do senhor Scott ficam arqueadas enquanto ele explica o sentido das coisas, os lábios se curvam em um sorriso pequeno quando a expressão de Daniel pareceu não estar mais confusa.
Era esse o objetivo do trabalho !
Scott queria nos fazer transmitir os sentimentos uns pelos outros sem que nos déssemos conta disso, o espelho fosco que deveríamos refletir a imagem do parceiro era uma forma de mudarmos a percepção de caráter e evitarmos de explodir quando fossemos questionados em relação a aversão pelo outro. A idéia de sorteio pode ter sido fraudada por ele para que cada aluno caísse com aquele que ele escolheu, a dupla ser intransferível nos fez nos aproximamos para realizar o trabalho e talvez nós conhecermos melhor, não através de conversa, mas sim com a transmissão dos sentimentos através da pintura.
O desgraçado é um gênio !
- alguma dúvida senhorita Collins ? - levanto o olhar que estava perdido em meu caderno e encontro o par de olhos verdes me encarando divertido.
Ele sabe que eu descobri sua jogada.
- não. - minha voz sai falha ao percentual o olhar de toda a sala sobre mim.
- achei que não teria.
Filho da mãe.
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Grayson
RomanceEnquanto ele me encarava pude notar todos os detalhes de seu lindo rosto que eu queria memorizar. As sobrancelhas grossas na cor de um preto exuberante e incrivelmente bem desenhadas, os cílios volumosos e finos protegendo os olhos verdes amendoados...