Capítulo 128

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Estico as mangas do moletom e as enfio pelas mãos de Andrew, o fazendo levantar os braços para o moletom cobrir a pele de seu tronco gelado. Assim que ele já está todo vestido me certifico de o fazer tomar o café, limpando seus ferimentos no supercílio e no canto dos lábios com algodão e álcool.
- vamos Andrew, tome tudo, vai lhe fazer bem.
Entre um gole e outro ele me olha, talvez a raiva tenha diminuído ou a bebida tenha diminuído o efeito e ter causado o desmanchar da névoa que cobria o brilho de seus olhos. Estico a coberta na cama enquanto ouvia com atenção cada som que ele emite quando engole o café sem graça, mas necessário para sua recuperação.
Nenhuma palavra !
Desde que Anthony nos deixou nesse quarto Andrew não me disse uma palavra, mesmo estando um pouco ciente do que está acontecendo. Trato de engolir o choro e pego a xícara vazia de suas mãos, a deixando no chão enquanto o vejo se arrastar deliberadamente devagar para o meio da cama, se enfiando debaixo da coberta e virando de costas para mim.
Não me ignore desse jeito !
Molho os lábios e me aproximo sorrateiramente, lhe dando um beijo casto na bochecha direita e em seguida na testa.
- tem todo o direito de ficar bravo comigo, só não faça isso por tanto tempo, pode ser que eu não aguente. - saio de cima da cama. - e muito menos você.

" "

Andrew passou mal e seu irmão me pediu ajuda para cuidar dele, estarei em casa em pouco tempo.
M.

Guardo o celular no bolso traseiro da calça, abandono a xícara na pia da cozinha e apago as luzes antes de sair com um copo de chá nas mãos, subo as escadas novamente e entro no quarto de Andrew, o encontrando em um sono profundo. As pernas esticadas e a blusa de moletom totalmente fora de seu corpo, jogada no chão. O peito coberto até a metade pela coberta, os cabelos em sua bagunça matinal e os lábios entreabertos, facilitando a respiração. Mordo o lábio inferior internamente e me apoio no batente da porta, observando a chuva cair pela janela e levando o copo até meus lábios. Sopro o conteúdo e tomo um gole, sentindo o líquido quente descendo pela minha garganta e queimando alguns pontos dela.
- o que aconteceu entre vocês para fazer ele beber tanto assim ? - a voz me faz fechar os olhos por um momento e afastar o copo dos lábios antes de os abrir novamente.
- eu escondi algo dele, um segredo que não era meu. - me viro devagar para olhar para ele.
Os olhos azuis desviando entre meu rosto e o copo em minhas mãos. Agora, com uma camisa preta de mangas compridas cobrindo o tronco másculo.
- ele descobriu, brigou, apanhou, bateu e nós discutimos no fim. - suspirei ao ver seu olhar vacilar para dentro do quarto do irmão. - Andrew saiu com o carro e me deixou sozinha com meus pensamentos no estacionamento da escola e então eu vim pra casa e fiquei pensando no que aconteceu, então você me mandou aquela mensagem dizendo que ele precisava de ajuda, e eu vim.
- que segredo era esse ?
- Daniel gosta de mim, não só gosta como tinha vários desenhos meus em um caderno, eu não sabia dos desenhos, mas sabia de seus sentimentos e mesmo assim, não o afastei de mim e não contei ao Andrew com medo de tudo acabar do jeito que acabou hoje. Eu só queria evitar que a situação entre os dois piorasse, mas só se agravou mais com a minha decisão de guardar isso só para mim.
- você é uma caixinha de surpresas recheada de problemas Piccola (pequena), não me admira que Andrew não saiba lidar com seu temperamento quando se trata de você. - Anthony cruza os braços, me fazendo perceber que a semelhança entre eles é terrivelmente assustadora.
Se não fossem esses olhos azuis...
- mas admito que escondeu algo sério dele, eu gostaria de estar prevenido em uma situação dessas e, dúvido se Andrew não pensou duas vezes em jogar isso na sua cara.
- ele fez muito mais do que jogar coisas na minha cara. - digo baixo, perdida em meio aos pensamentos confusos.
Eu sempre estarei confusa quando se trata de entender Andrew Grayson.
- não machucou você ? Certo ? - seu tom muda, o que me faz retirar os olhos do chá e encarar sua expressão séria.
- não, não machucou. Mas eu machuquei ele, machuquei seu ego e sua confiança em mim.
- não faça tanto drama Piccola (pequena), de um tempo a esse merdinha do meu irmão, ele precisa pensar e confesso, isso é muito difícil quando você está envolvida.
Seus braços caem ao lado do corpo e um deles se levanta em direção ao meu rosto, os dedos claros e compridos de Anthony se aproximam de minha face, próximo a tocar minha bochecha esquerda, mas desviam o caminho e o indicador se estica para tocar o centro dos meus óculos, o empurrando para trás, ajeitando o ao meu rosto.
- Andrew não vai deixar você escapar Mia, ele sabe que se perder você uma vez, não a terá novamente. - a mão de abaixa e retira uma mecha solta da minha transa mal feita de cima do meu ombro direito, jogando a para trás. - agora, se quiser ir embora fique a vontade, o beberrão não vai acordar tão cedo.
- sim, eu já vou. - desvio os olhos dos seus, encabulada de estar conhecendo um Anthony Grayson atencioso. - só vou deixar isso na cozinha.
- posso te levar até a porta, se quiser ?
Pego na maçaneta da porta do quarto de Andrew e a fecho devagar, ouvindo o barulho da fechadura e me virando para Anthony.
- claro. - sorrio tímida.
Giro os calcanhares e sigo até a escada, descendo com cuidado e saindo em frente a porta de entrada. Anthony me segue silencioso enquanto eu vou até a cozinha e deixo o copo, ainda com metade do chá dentro, sobre a pia de granito escuro. A chuva ainda é um pouco forte, mas nada que meu guarda chuva não aguente por dois minutos até a minha entrada em casa. Anthony abre a porta e me cede passagem, me abaixo para apanhar o guarda chuva no chão e me viro para me despedir.
- orbigada por me avisar que ele já estava em casa.
- não ia cuidar dele sozinho, não curto muito bancar a babá. - um sorriso divertido aparece em seus lábios e sorrio fraco.
- okay, até mais.
- até mais Piccola (pequena).
Ele fecha a porta logo que eu abro o guarda chuva preto e eu respiro fundo o ar gelado antes de começar a andar.
Definitivamente, o dia foi uma perfeita armadilha do destino.

GraysonOnde histórias criam vida. Descubra agora