Capítulo 52

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Deixo a temperatura da água regulada no quente e entro debaixo do chuveiro, as gotas quentes caindo sem parar no topo de minha cabeça levam os pensamentos ruins embora, lavo meus cabelos e meu corpo e me deixo deliciar com a água aquecendo minha pele. Saio do chuveiro e visto meu roupão felpudo e macio, enrolo uma toalha média no cabelo e passo para o closet, pegando uma lingerie cinza e um conjunto de short e camiseta de algodão rosa com desenhos de nuvens em toda a sua extensão. Desço para a sala e encontro vovô cantando alguma música antiga na cozinha, o cheiro de molho e almôndegas no ar é delicioso. A música é animada, talvez dos anos oitenta ou noventa, me apoio no mármore da bancada e observo sua dança engraçada. Rio baixinho e finalmente ele me olha com um sorriso no rosto.
- eu e sua avó costumávamos dançar essa música quando jovens.
- é muito boa vô, devia ser divertido.
- e era, sua avó adorava ser o centro das atenções, sempre bem vestida, bem arrumada e bem perfumada, fora que dançava muito bem. - ele para e analisa o molho. - e eu amava cada detalhe que a fazia ser única perante as outras, ela era especial.
- com certeza ela também amava esse seu jeito desengonçado de dançar, seu talento na cozinha e ... o jeito que o senhor a fazia se sentir a pessoa mais especial desse mundo. Eu vi o amor de vocês vovô, por pouco tempo, mas eu vi e era lindo, ainda é.
- esse tipo de coisa minha neta, só acontece uma vez na vida. - ele desliga o fogo das almôndegas e se vira pra mim. - então quando tiver certeza que o encontrou, não deixo o escapar.
- eu tenho certeza de que não vou deixar vovô.
- agora coloque a mesa para nós jantarmos uma adorável macarronada ao molho com almôndegas.

" "
O vento forte e gelado bate forte em meu rosto, meus cabelos agem como chicotes em minha face, batendo e cortando de leve a pele macia e agora frágil. Os pés descalços se machucam e me fazer gemer de dor a cada passo dado em direção ao vazio, estremeço ao ouvir uma risada melancólica e corro o mais depressa que posso, sem ligar para os cortes em meus pés causados pelas pedras perfurantes no caminho.
O riso cessa e eu diminuo a velocidade, cruzo os braços na tentativa falha de me aquecer e observo em volta. Árvores e mais árvores tenebrosas, a névoa cobre o chão até um pouco mais do meu calcanhar e não a vestígio de que alguém possa estar me seguindo.
- volte pra mim. - sussurram em meu ouvido.
- quem ... Quem é você ? - digo sem coragem para me virar.
- eu não queria ter feito aquilo. - a voz triste sussurra em resposta.
- o que você fez ? - digo.
- me perdoe, eu não queria ter feito aquilo.
Me viro com os olhos fechados e dedos encostam em meu queixo, com as pálpebras tremendo abro os olhos devagar estremeço ao encontrar...
Um par de olhos verdes amendoados.
- me perdoe por ter quebrar.
Acordo em um sobressalto com a respiração desregulada e os cabelo grudados no rosto por conta do suor.
Que merda foi essa ?
Passo a mão esquerda na testa e retiro alguns fios que ali estavam, jogo o edredom para o lado e olho o relógio no celular.
Seis e meia.
Vinte minutos antes do esperado, me levanto e nem mesmo calço as pantufas felpudas ou o chinelo durante o caminho para o banheiro. Retiro o pijama suado e o jogo no cesto de roupa suja, encarando meu reflexo no grande espelho do banheiro olho atentamente os sinais da noite mal dormida.
Olhos cansados, o dourado não tão brilhante, o rosto pálido e gélido, a boca sem cor e os cabelos grudados e bagunçados. Me enfio debaixo do chuveiro quente e tento retirar cada traço de cansaço ou tristeza.
Que merda de sonho foi aquele ?
Talvez o medo de Andrew me machucar esteja mexendo com a minha mente e o fato de Raven estar determinada a conseguir um beijo ou até mais do meu namorado me deixa frustrada, sei que Andrew cumprirá a promessa que me fez mas e se Raven for mais esperta do que aparenta e acabar conseguindo o que deseja ?
Andrew não terá nem chance de terminar comigo antes de o estrega já estar feito.
Saio do banho e durante a secagem de minha pele percebo o pequeno fio vermelho descendo por minha perna direita. Suspiro pesado e abro uma das pequenas gavetas que ficam embaixo da pia, pego um absorvente externo e volto ao chuveiro para lavar o sangue que escorreu. Indo até o closet correndo pego uma lingerie preta e coloco o absorvente na calcinha, me sentindo mais segura quando sinto o algodão tocando minha parte íntima. Visto uma calça jeans escura, uma camisa de manga comprida preta estampada com pequenos e discretos donuts em apenas riscos, meu vans preto e coloco um colar rente ao pescoço com pingente de lua crescente. Faço uma maquiagem com apenas rímel e batom e coloco meus óculos, arrumo os materiais da escola, jogando dois absorventes em um dos bolsos frontais e antes de sair vou até a janela para abrir a mesma, destranco a fechadura e quando a luz do sol entra quarto a dentro jogo minha mochila sobre o ombro e ponho o celular no bolso traseiro da calça, deixando meu quarto bagunçado e o sonho inquieto para trás.

GraysonOnde histórias criam vida. Descubra agora