Capítulo 100

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Escuto um barulho vinda da sala e me levanto alerta da cama, meu avô nunca faz barulho ao entrar e isso já torna a situação esquisita. Corro até o quarto de vovô e me agacho perto de sua cama, jogando a ponta do edredom verde escuro para cima e quase tocando a orelha do chão, vasculho o piso de madeira escura e comemoro quando encontro o bastão. O puxo rápido para mim e saio do quarto devagar, sentindo a madeira gelada tocar meus pés desprotegidos e descalços enquanto avanço pelo corredor. O barulho continua, como se botas pesadas tocassem o chão a todo o momento, na beira da escada, já prestes a descer encontro a luz da sala ainda apagada. Engulo a bile que estava presa na garganta e começo a descer a escada, com o taco nas mãos pronta para acertar quem quer que seja, a porta está escancarada e por enquanto ainda não vejo ninguém. No último degrau escuto novamente o barulho das botas e corro, me abaixando na parede da copa da cozinha. O barulho parece chegar cada vez mais perto e fecho os olhos.
Está na cozinha !
Meu pulso dispara e acerto algo ao inclinar o taco para a entrada da cozinha, o barulho abafado de algo caindo no chão é ouvido e eu abro os olhos rápido, tocando os joelhos no chão e olhando devagar para dentro da cozinha.
- mas que merda Mia !
Me levanto rápido e acendo a luz, bufando de raiva ao ver Josh estatelado no chão da minha cozinha com as mãos envolta da panturrilha esquerda.
- quem te deu a porra da chave Josh ?
Jogo o taco no chão e ofereço a mão para ajudá-lo a levantar, ele se apoia na bancada de madeira e me olha furioso.
- droga Mia, não sabia que você batia tão forte. - e lá está o sarcasmo maldito de volta.
Josh se senta em uma das banquetas e ainda faz uma careta de dor, os olhos fixos em um ponto desconhecido por mim e me vejo obrigada a olhar na mesma direção que ele.
Merda !
Nem sequer pensei em colocar o robe quando ouvi o barulho e já desci de camisola, a minha sorte é que optei pelo algodão azul escuro ao invés da seda preta.
- como entrou na minha casa ? - cruzo os braços para tentar esconder meus seios.
- seu avô telefonou para Natan, mas como ele estava no banho eu atendi. Ele não pode vir hoje por que parece que uma tal de Megan piorou, mas disse que amanhã estará de volta antes de você chegar da escola. Parece que o seu celular estava fora de área quando ele ligou.
- e por que ele não tentou o telefone da cozinha ?
- não sei, por que não pergunta a ele amanhã.
- e o que estava fazendo na minha cozinha ?
- eu fiquei com sede. - ele solta um de seus sorrisos falsos.
- e ele te falou aonde a chave ficava escondida ? - ergo uma sobrancelha.
- sim, peguei a que estava debaixo do vaso de flores perto da garagem.
- agora que já deu seu aviso e um susto em mim, já pode ir. - pego o taco do chão e o deixo sobre a bancada de mármore.
- eu estou bem Mia, muito obrigada por perguntar. - ele debocha, me encarando profundamente com os olhos castanhos.
- ótimo saber disso, agora se me der licença eu tenho que preparar o meu jantar.
- eu quero me desculpar pelo que fiz no jantar, não foi correto o que eu fiz e meu pai está me enchendo o saco por isso.
- desculpado, agora fora.
- é sério Mia, foi mal tá, eu só queria irritar aquele bastardo do seu namoradinho rico.
Rolo os olhos com toda a força do mundo e contando até dez mentalmente para não acertá-lo de novo, mas agora na cabeça.
- sua opinião não importa Josh, agora por favor, vai embora.
Ele se levanta como se a panturrilha acertada não estivesse doendo mais e se aproxima devagar, permaneço em meu lugar e aperto os dedos ao redor dos braços. Os olhos castanhos com uma áurea negra, diria que até irritada e descrente da forma com que eu o tratei.
- ainda posso ir na sua exposição ? - a voz carregada de desdém.
- claro, só não apronte nada. - digo calma.
Pelo menos por fora !
- então até mais. Você fica linda de azul, deveria usar mais vezes.
Antes que eu possa dizer algo Josh sai da minha frente e da um passo para o lado, se colocando a caminho da porta ainda aberta. Respiro aliviada quando escuto o barulho da porta sendo fechada e deixo com que meus braços caiam nas laterais do corpo, meu estimado ronca e pela primeira vez no dia me sinto sozinha. Seria injusto da minha parte ligar para Andrew ou Sammy depois de termos passado o fim de semana juntos, então resolvo ir até algum dos armários debaixo começar minha procura por um bom e velho macarrão instantâneo.

" "

Sentada na poltrona em frente a penteadeira deslizo a escova oval pelos cabelos de forma lenta, observando como as mechas vermelhas alaranjadas deslizam pelos dentes macios. Meu cabelo anda crescendo rápido demais, eu os cortei a dois meses na linha do umbigo e agora já estão quase tocando minha bunda. Abro a gaveta da penteadeira e pego um hidratante labial, espalhando suavemente sobre os lábios e o guardando de volta depois de alguns segundos.
A reação de Josh ainda paira em minha mente, o ódio repentino por alguém que não conhece é o que me deixa mais confusa. Natan só me importunava por influência do irmão dois minutos mais velho e Josh sempre gostou de me ver por baixo, parecia que algo em meu sofrimento o deixava forte, mesmo tendo cinco anos a mais, ele era como uma criança que estava aprendendo a ouvir a palavra não, o que com certeza lhe rendeu algumas boas surras na adolescência. Mas existe algo em Andrew que faz Josh se sentir diferente, algo que o incomode o suficiente para causar problemas depois de anos tranquilos com os próprios pais e sinceramente, eu espero que ele não apronte nada durante a exposição, afinal, Andrew não pensaria duas vezes antes de tentar quebrar seus dentes perfeitos.

GraysonOnde histórias criam vida. Descubra agora