Capítulo 124

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A saliva desce seca pela minha garganta, como se eu tentasse engolir uma poção feita exclusivamente de fogo, que queima de dentro para fora. Olho de relance para Sam e vejo Brandon soltar sua mão, caminhando devagar em meio aos outros garotos do time até Daniel, que ainda se encontra no chão com uma das mãos no maxilar. Brandon o ajuda a se levantar e aí tentar levá-lo para fora do círculo Andrew se revolta e tenta avançar sobre o garoto, corro e me coloco a frente deles, encarando as esferas esverdeadas em uma irá imensa.
- sai da frente Mia. - ele diz pausadamente, arqueando as sobrancelhas grossas.
- não, já chega Andrew.
- eu ainda não terminei com esse idiota.
- terminou sim, você vai para com isso. Agora ! - tento manter a voz calma, vendo que o aglomerado de pessoas a nossa volta já está diminuindo.
- Mia...
- por favor, só para. - o corto com uma dor no peito.
Os cortes em seu rosto estão começando a sangrar, duas linhas finas em um vermelho vivo escorrendo de seus machucados como um rio.
Ai meu Deus !
- Sam, o Brandon já foi ? - pergunto, olhando o chão para não ficar no sangue no rosto de Andrew.
- já morango, relaxa.
- então pode ir. - me viro para encarar meu amigo.
- não vou deixar você aqui sozinha com ele nesse estado morango.
- por favor, só vai Sammy. - imploro.
- okay, - ele diz relutante. - qualquer coisa meu celular está na mão, é só ligar.
Suspiro pesado quando ele se vira, cruzando os braços e indo em direção a entrada da escola e me dando uma última olhada antes de empurrar as portas duplas e desaparecer da minha visão.
Giro os calcanhares e encontro Andrew me encarando friamente, os olhos tão gelados quanto o inverno e tão duros como uma rocha. Os rastros de sangue em seu rosto, já quase secos. Os punhos com pequenas escoriações nos nós dos dedos, as roupas, uma camiseta cinza com pequenos rasgos, a calça jeans clara se encontra um pouco suja e a mochila jogada logo um pouco atrás dele.
- o que aconteceu agora ? - suspiro, não conseguindo encarar seus olhos por muito tempo e focando em minhas mãos.
- o que aconteceu agora Mia ? É isso que você tem para perguntar ? - ele se distancia para pegar a mochila do chão.
- e o que você espera que eu pergunte ? O por que de você estar se enroscando no chão feito um animal com o Daniel ? - ajeito os óculos.
- animal ? Agora eu sou um animal para você ruiva ? Sério ! - estremeço quando ele puxa a alça da mochila com violência, quase rasgando o tecido com tamanha força e mal jeito.
- Andrew, só me conte o que aconteceu para eu chegar aqui e encontrar vocês dois se atacando no chão de novo. - fecho os olhos por um segundo.
- talvez o fato daquele otário ter desenhado você em um caderno, além dele gostar de você, e quer saber mais. - os passos em minha direção são rápidos, quase tão rápidos quanto os dedos tocando um dos meus pulsos. - você saber disso e não ter me contado.
- o que ? - pergunto tão baixo que nem eu mesma pude ouvir direito.
- agora você perdeu a voz querida, pois então, acha que eu não iria descobrir que a alguns dias aquele desgraçado se declarou para você e você não o afastou, e ainda por cima, escondeu isso de mim. - os dedos em meu pulso são gentis, fazendo um carinho casto com as pontas.
Ele está bravo, muito bravo.
Mas como prometeu, não vai me machucar !
- você me pediu para não te dar motivos para desconfiar de mim, e vai e me faz essa gentileza, me dando motivos para desconfiar de você Mia.
O vento bate frio, fazendo meus cabelos se mexerem e cobrirem metade do meu rosto. Os retiro com os dedos e olho para trás de Andrew, vendo um caderno de capa preta virado no chão. 
- isso não significa nada Andrew, nada do que Daniel disse teve importância para mim. Não se esqueça, eu o desculpei pela sua escolha estúpida no passado de me agarrar a força, mas isso não mostra que eu vou fazer algo com esses sentimentos que ele diz sentir por mim. - ele analisa meu rosto, encarando a boca, bochecha e enfim meus olhos.
- ruiva, o pior foi que Daniel brincou com a caminha cara quando pedi explicações, por que acha que estávamos brigando. Ele me contou que você já sabia dos sentimentos dele a algum tempo.
- explicações ?
- acha que eu não iria querer saber se ele havia conversado mais do que o necessário com você durante as malditas seções de pintura ? O desgraçado não demostrou, mas estava aflito por uma revanche depois daquele dia.
Aquele maldito dia !
Que nunca deveria ter acontecido !
- você omitiu isso de mim. Escondeu algo que poderia ter evitado toda essa merda de hoje. - ele solta meu pulso e dá um passo para trás, ajeitando a camiseta amassada. - espero que eu não tenha quebrado nenhuma parte dele ruiva, caso o contrário, considere culpa sua aquele infeliz estar com a cara remendada.
Andrew carrega a mochila pelas alças e sai andando se olhar para trás, se aproxima de seu carro e entra com pressa, arrancando com o veículo dali e me deixando sozinha no estacionamento, sem ninguém por perto. Em passos lentos me forço a caminhar até o caderno largado no chão, a uma gota de sangue bem ao lado, marcando o concreto escuro. Estico a mão direita e puxo a capa para cima, me levantando e trazendo o caderno junto comigo. Exatamente ao meio das folhas encontro uma fita vermelha marcando uma das páginas que não foram amassadas pela queda, com a ponta dos dedos a puxo para cima, abrindo na página marcada pela fita e encontrando algo bem mais estranha do que um desenho meu envolvida pelos livros.

Ticket de compra e vacinação de animais domésticos.

Vacinas : V4
Banho e tosa : banho anti - pulgas
Matéria da placa de coleira - metal simples
Idade do animal : não confirmada
Gravação no metal : Charlie

Pagamento em nome de : Daniel J. Carter

Mas que ....

GraysonOnde histórias criam vida. Descubra agora