Capítulo 147

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Uma sexta feira nunca foi tão aguardada pelo meu gentil coração, pensar que hoje é o dia da exposição criada pelo senhor Scott é o que me deixa mais afoita para escolher a roupa que usarei. As aulas foram suspensas para a montagem do evento e após ter voltado da escola depois te ter ido entregar minha tela não consegui sair de dentro do closet.
Calça ? Saia ? Vestido ? Jardineira ?
Bota ? Tênis ? Salto alto ? Rasteira ?
Cabelo preso ou amarrado ?
São tantas e tantas dúvidas que o pensamento de ligar para Sam e pedir sua ajuda está rodando constantemente em minha mente. Me sento sobre a mesa expositora e trago os joelhos para perto dos seios, virando o rosto para a esquerda e direita na tentativa de talvez, ver algo escondido na arara ou nas prateleiras que eu ainda não tenha usado e que talvez, seja perfeito para esse dia especial. Apanho meu celular no bolso frontal do moletom azul marinho e ligo para Sammy, que me atende logo no primeiro toque.

- Sam, preciso da sua ajuda.
- deixa eu adivinhar, você não sabe qual roupa usar ?
- exatamente.
- eu tenho uma em mente, só estou em dúvida dos sapatos.
- qual seria a roupa ? - desço da mesa, já pressionando o celular entre a orelha e o ombro direito para mexer na arara.
- saia rodada bordô, um cardigã fechado de manga três quartos creme. - entre as saias encontro a de tom bordô e a coloco sobre a mesa, me virando para ir para o lado direito a procura do cardigã creme.
- já pensou nos sapatos ? - pego o cabide com a peça e o deixo ao lado da saia, já montando o look em cima do vidro.
- estou em dúvida entre um coturno e sua bota de cano curto.
- acho que a bota iria ficar melhor.
- eu também.
- você não tem noção do quanto me salva nessas situações Sam. - passo a mão pela testa, voltando a pegar o celular e aliviando a tensão que se formou em meu pescoço.
- acredite Mia, eu sei. - ele ri baixo e escuto um resmungo um pouco abafado.
- manda um oi para o Brandon. - rio, imaginado como as bochechas dele costumam ficar vermelhas quando Sammy diz algo impróprio.
- ele ouviu e está vermelho como um tomate.
- obrigada pela ajuda Sam, te vejo na escola ?
- não precisa agradecer meu amor, nos vemos lá. Até mais.
- até.

Encerro a ligação e largo o celular ao lado do cardigã, andando até o lado esquerdo do closet para olhar entre as prateleiras de sapatos e encontrar minha bota. Deixo a sobre a mesa também, examinando o look que meu amigo montou.
Com toda a certeza Sam vai entrar para a Parsons The New School of Fashion !
Deixo o closet, caminhando até o banheiro para tomar uma ducha morna antes que dê o horário do evento. Retiro o moletom e as calças, notando que deixei o ar condicionado do quarto mais frio do que o necessário. Pela janela do banheiro raios de sol se transformam em um lindo e pequeno arco íris refletido no meu box, largo a lingerie usada no cesto de roupa suja e entro debaixo da água. As gotas caindo suavemente pelo topo da minha cabeça e chegando as costas em um pequeno movimento do meu corpo. Ainda a marcas dos dedos de Andrew em meus quadris, alguns chupões em minha barriga e para a minha vergonha, mordidas em meus seios. Relembrar o que aconteceu ontem a noite depois da festa de Kevin faz meu sangue fluir com mais força pelas minhas veias, o coração acelera ao ponto das sensações voltarem e sentindo o toque da água, é como se estivesse acontecendo tudo de novo.
Os toques...
Os beijos...
As palavras sensuais...
Até mesmo, os gemidos roucos que escapavam de sua boca.
Tudo me faz lembrar de Andrew Grayson, o que me faz me sentir mais boba ainda.
E até mais apaixonada.

" "

Por causa da quase falta de vagas livres no estacionamento demoro cerca de dois minutos para encontrar um lugar para deixar o carro. Pego minha bolsa tiracolo preta e a penduro no ombro esquerdo ao deixar o veículo, tranco o carro e jogo a chave e o celular dentro da bolsa. O fluxo de pessoas ainda pode ser considerado normal para um evento aberto ao público. Escuto um assovio alto e me viro para trás.
Só começo uma pessoa que faça esse tipo de assovio.
Sorrio ao ver vovô deixando fechando a porta de seu carro e caminhando até a porta do passageiro.
Será que ele trouxe a Verônica ?
Aperto a bolsa em sinal de nervosismo e dou mais uns passos até a escada, me apoiando no corrimão de ferro antes de me virar agora confirmar minhas dúvidas. Uma mulher de mais ou menos cinquenta anos sai do carro e pega em uma das mãos só meu avô. Cabelos negros e lisos com a presença de alguns fios brancos, pele branca, olhos castanhos e uma estatura boa. Ela é bonita.
Meu avô sorri para a mulher ao seu lado, trancando o carro e passando o braço por sua cintura para caminharem até mim. Sorrio fraco, percebendo que Verônica realmente está fazendo bem ao meu avô. Eles se aproximam devagar, tomando cuidado com o extremo movimento de carros pelo local. Quando se aproximam ele a coloca em seu frente e apoia as mãos em seus ombros, exibindo um sorriso sincero.
- Mia, essa é Verônica Sanchez. Verônica, essa é minha neta Mia.
Ela sorri e eu logo solto a bolsa para lhe estender a mão com um dos mais belos sorrisos nos lábios.
- é um prazer Senhora Sanchez. - para a minha surpresa, ela me puxa para um abraço.
- você é tão linda e acredite, o prazer é totalmente meu. - aos poucos retribuo seu abraço, encarando meu avô e percebendo sua animação.
- por que não me contou que iria trazer ela vovô ? - pergunto a ele quando Verônica me solta.
O perfume dela preenchendo minhas narinas com um cheiro doce meio cítrico.
- era uma surpresa Mia, queria mostrar a Verônica como você pinta bem e aproveitar a situação para apresentar vocês. - ele volta a pegar em sua mão, atraindo um olhar envergonhado para si.
- tudo bem, só espero não a decepcionar. - rio baixo.
- não se preocupe com isso querida, se for tão talentosa quanto Conrad eu não tenho dúvidas de que seu quadro ficou maravilhoso.
- espero.
Quando vovô e ela começam a subir os degraus da pequena escada de acesso as portas duplas da entrada principal da escola vejo, um pouco mais afastado, Sam e Brandon vindo em nossa direção. Sammy está com uma jardineira preta e uma camisa branca. Brandon, como sempre, está vestido de maneira discreta, camisa de mangas compridas azul marinho e uma calça jeans preta. Vovô e Verônica param no alto da escada enquanto o casal se aproxima.
- meu amor, a roupa ficou melhor do que eu imaginava. - ele larga a mão do namorado para me abraçar.
- para você ver. - retribuo o abraço, esticando o pescoço sobre o ombro dele para cumprimentar Brandon. - oi Brandon, como vai ?
- vou bem Mia, está nervosa com a exposição ? - ele sorri lindamente, acho que está aí um dos porquês de Sam ser tão louco por ele.
- um pouco, mas está tudo bem.
Nos soltamos e Sammy volta a pegar na mão de Brandon, ambos olhando curiosamente para a mulher ao lado do meu avô.
- Sam, essa é Verônica, minha namorada. Verônica, esse é Samuel, meu neto de coração e ao seu lado está Brandon, seu namorado. - vovô diz ao perceber o olhar de meu amigo sobre a mulher.
- é um prazer Verônica.
- o prazer é todo meu Samuel.
- só Sam, por favor.
- Brandon. - ela diz tímida, ainda agarrada ao meu avô.
- okay, vamos entrar antes que dê o horário.

O refeitório, agora sem as mesas, bancos e máquinas de refrigerante, doces e salgadinhos, está com uma aparência diferente. Os trinta cavaletes com as telas cobertas em panos dourados e vermelhos estão espalhados pelo local, dando espaço o suficiente para que a movimentação das pessoas não destrua as obras e nem as danifiquem. Na parede do fundo do refeitório, estão algumas mesas com faixas de primeiro, segundo e terceiro lugar além do que me parece ser uma cesta com envelopes.
O que será ?
Vovô se deu a liberdade de ir passear com Verônica pela escola, lhe mostrar um pouco do prédio e disse que logo, logo estaria de volta. A dúvida de que meu avô não se envolveu afetivamente com ninguém antes por talvez, pensar que eu não aceitaria começa a martelar em meu crânio, causando um leve aperto no meu peito. A decoração ficou diferente quando noto as fitas de cetim coloridas penduradas no teto, algumas delas vão até o chão e outras são de diversos tamanhos. Nas quatro colunas centrais do refeitório foram penduradas quatro telas, cada uma em uma coluna.
Uma rosa em chamas.
Uma noite estrelada.
Um campo florido.
E um encontro de luz e sombras.
Mãos tocam meus ombros, o perfume amadeirado chega ao meu nariz e mordo o lábio por um instante ao me virar. Com os cabelos perfeitamente arrumados em uma bagunça que pertence totalmente a ele, a camisa preta com alguns botões abertos e uma calça jeans preta.
Fora o sorriso sacana nos lábios avermelhados.
- você está linda ruiva.
- posso dizer o mesmo de você amor.
Passo os braços ao redor de seu pescoço, sentindo as mãos dele largarem meus ombros e pousarem sobre meu quadril, os dedos apertando levemente o local.
- fiquei surpreso com você ontem a noite, eu jurava que você não sabia fazer aquele tipo de coisa.
- e eu não sabia, apenas segui minha intuição e subi em cima de você.
- e por causa disso eu perdi o controle.- o sorriso morre e ele me olha sério. - eu te machuquei Mia ?
- não, não machucou. Só deixou algumas marcas, mas eu gostei.
- gostou de ficar marcada ? Sério ?
- amor, eu gostei da sensação de você marcar suas impressões digitais em mim. Sabe como é excitante olhar meu corpo e ver que você deixou um pedaço daquele momento comigo ?
- não sabia que você via as coisas desse jeito.
- você só iria saber se perguntasse amor.
Sorrio abertamente, me aproximando para lhe dar um beijo casto no canto esquerdo da boca.
- sabe como as coisas vão rolar aqui ?
- o senhor Scott vai dar as instruções em pouco tempo.
- quer ir dar uma volta ? - e como se o tempo tivesse parado, ele volta a sorrir.
As íris verdes amêndoadas me encarando com desejo, um desejo no qual eu vi em todas as vezes em que nos tornamos um só.
- não Grayson, meu avô está aqui com a namorada e eu tenho que esperar eles aqui. Não posso sair.
- namorada ? E desde quando seu avô namora ?
- desde quando eu não sei, mas ele me contou ontem e a trouxe hoje para nos conhecemos. - dou um selinho em seus lábios ao notar que eles estavam entreabertos. - se quiser, quando ela voltar eu te apresento.
- tudo bem.
Ao olhar para as portas do refeitório sorrio ao ver vovô e Verônica entrando, ambos olhando a decoração e conversando sobre o lugar. Retiro meus braços do pescoço de Andrew e ajeito a gola de sua camisa.
- senhor Collins. - Andrew o cumprimenta, sorrindo para meu avô.
- Grayson. - ele se vira para a morena ao seu lado. - Verônica, esse é Andrew Grayson, é o namorado da Mia.
- é um prazer Andrew.
- igualmente. - ambos apertam as mãos.
- vocês foram um casal tão bonito, adoraria convidá-los para ir algum dia tomar um café ou comerem Donuts na minha livraria.
- ah, nós vamos sim, obrigada. - digo a ela, agradecendo internamente por ela ser dona de algo que tenha relação com as duas coisas que eu mais gosto : livros e doces.
O senhor Scott entra no refeitório trajado com um belo terno cinza, o paletó dobrado em suas mãos e um sapato preto perfeitamente limpo nos pés. Eu diria que ele é um colírio para os olhos das mães divorciadas e solteiras, mas até mesmo as casadas não conseguem desviar os olhos do loiro de olhos verdes. Andrew deixa uma das mãos em minha cintura, enfiando a outra no bolso frontal da calça enquanto responde a algumas perguntas feitas por Verônica. Scott cumprimenta algumas pessoas até chegar nas mesas no fundo do refeitório, andando sobre o tapete vermelho e largando o paletó ao lado da cesta. Ele olha ao redor por um segundo e sorri ao ver o número de pessoas interessadas em descobrir o que a por baixo dos tecidos. Um microfone é trazido pela senhorita Tunner e entregue ao jovem professor, que o testa com algumas batidas da dedos sobre a cabeça do aparelho, atraindo toda a atenção para si.
- sejam todos bem vindos a Primeira Exposição de arte da Jacksonville Hihg School, eu queria desejar a todos uma boa tarde e antes de tudo, agradecer por tornar essa exposição de trabalhos dos alunos um evento muito maior do que o esperado.

GraysonOnde histórias criam vida. Descubra agora