Capítulo 112

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Anthony Grayson está parado um pouco mais a frente do meu carro, os olhos em um azul gritante chamam mais atenção do que a Harley Davidson 883 em que se encontra encostado. Os cabelos negros como os de Andrew e o porte físico atlético, denunciam a semelhança entre os irmãos e o ar começa a ficar mais denso. O jeans azul escuro apertado mostra as pernas definidas e longas, a camisa branca um pouco amarrotada e a jaqueta de couro preta justa em seus braços, o coturno preto nos pés.
Anthony é a versão mais velha e debochada do irmão caçula.
Ajeito meus óculos e me coloco ao lado de Andrew, que ainda permanece estático e com raiva, muita raiva do irmão mais velho.
- eu deveria te dar as boas vindas ? - a voz de Andrew sai ríspida, pego em seu pulso direito e sinto em uma das veias o quanto seu coração está disparado.
- é o mínimo depois de quatro anos sem me ver, não acha pivete ? - suas sobrancelhas grossas ficam arqueadas e os olhos azuis parecem ter ficado maiores.
- nunca mais me chame de pivete, seu merdinha. - Andrew se impulsiona para frente e eu seguro seu pulso com força.
O olhar feroz sobre o irmão chega a me dar calafrios, meus dedos em volta de seu pulso estão brancos pela força que estou fazendo para puxar seu corpo, ou o que eu conseguir mover, para trás.
- já vi que agora você tem uma namoradinha para te segurar pivete. - ele deixa de encostar a moto e se levanta, cruzando os braços. - posso me apresentar para a minha linda cunhadinha ?
- nem pense em chegar perto dela seu bosta, ou eu vou fazer questão de quebrar essa sua carinha arrogante. - puxo mais o pulso de Andrew, o que não adianta muito, pois ele ainda continua fuzilando o irmão com o olhar.
- desde quando você ficou tão agressivo Andrew ? Ainda consigo me lembrar de quando brigávamos na infância e você sempre ia chorando para Susan, aquela velha ainda trabalha lá em casa ? - Anthony sabe usar sua ironia para tirar Andrew só sério.
- cala a porra da sua boca Anthony, veio aqui só para me irritar ? Pronto, considere seu objetivo atingido.
- eu vim dar uma olhada na região e por acaso, acabei vendo você e decidi te fazer uma surpresa. - ele sorri abertamente e eu mesma já começo a me irritar com seu jeito irônico de ser.
Andrew apenas respira fundo e se vira para me olhar, me puxando para perto e encostando a boca em meu ouvido esquerdo.
- entre no carro e não diga nada, eu te ligo depois.
Não consigo dizer nada, então resolvo acenar positivo com a cabeça e quando Andrew me olha nos olhos, aproximo os lábios dos seus, lhe dando um selinho rápido. Solto seu pulso e abro a porta do carro, tentando ignorar o olhar de Anthony em mim e dando a partida assim que fecho a porta.
- A presto, sorellina. ( Nos vemos em breve, cunhadinha.)

" "

Mordo meu lábio e deixo a toalha pendurada no gancho da porta do banheiro, apanhado meu óculos que estavam em cima da cômoda e os colocando antes que tropece em algo. Alguns fios molhados caem em meus olhos e com a ponta dos dedos os coloco para trás das orelhas, a janela de Andrew está aberta e o quarto, pelo que parece, vazio. Pego meu celular em cima da cama e ligo para Sam, o telefone toca e cai direto na caixa postal, pragueijei baixo e tento mais uma vez.
Caixa postal.
Passo as mãos, nervosa, pelo vestido florido simples e olhando a lista de contatos resolvo ligar para Brandon. O telefone toca duas vezes e no terceiro toque ele é desligado.
Claro que eles estão ocupados !!!
Jogo o celular novamente na cama e coço a nuca com a mão direita, a única coisa que consigo pensar durante as duas horas desde que cheguei em casa é que definitivamente, Anthony e Andrew devem ter se matado quando eu os deixei naquele estacionamento.
Avanço pelo quarto e paro em frente a janela, os cotovelos apoiados no batente de madeira e os olhos no BMW de Andrew estacionado na vaga de sempre, a janela do quarto fechada e meu coração apertado.
Pego as partes dobráveis de madeira e as puxo para mim, as fazendo se encontram e fechando o trinco. Fecho a parte de dentro também, evitando que o vento entre pelas brechas e decido descer para preparar o jantar.
Com os pés protegidos apenas por uma meia fina branca, caminho pelo corredor, sorrindo a cada vez que meus olhos encontram os porta retratos pendurados na parede. Fotos de mim enquanto era um bebê,  das viagens que eu, vovô e Sam costumávamos fazer todos os anos, até das nossas aventuras nos parques, museus, aquários e cinemas.
Mas nenhuma foto dos meus pais.
Desço a escada e começo a olhar ao redor da sala, tudo está organizando e nada da bolinha de pelos do Charlie estar em algum canto. Acendo a luz da cozinha e logo me abaixo para apanhar duas panelas no armário da esquerda, deixo elas sobre a bancada de madeira para pegar os ingredientes para fazer um ótimo capeletti in brodo ( Sopa de capeletti).
Encho uma das panelas com água corrente e a coloco no fogo para ferver, retiro da geladeira uma embalagem do macarrão recheado e a deixo em cima da pia, indo até uma das gavetas e pegando uma faca pequena.
Coloco um pouco de ração no pote de Charlie e, mesmo com o barulho que consegui fazer ainda não vi meu gatinho. Já faz algum tempo que terminei o jantar é só estou esperando vovô chegar para podemos comer juntos, a campainha toca e eu me levanto rápido. Ajeito o vestido, agora um pouco amassado, e tento arrumar os cabelos um pouco desgrenhados por conta da trança lateral mal feita.
Giro a chave e o ar escapa de meus pulmões ao ver a figura mal intencionada segurando meu gato nos braços, os olhos azuis curiosos por uma reação rápida. A bile se prende em minha laringe e sinto como se meu coração parasse por um momento, me deixando travada e sendo obrigada a encarar o Grayson indesejado me olhar de forma estranha.
- Penso che questo gattino sia tuo, vero Mia? ? ( acho que esse gatinho é seu, não é Mia ? ) 

GraysonOnde histórias criam vida. Descubra agora