Capítulo 135

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Fecho os olhos com força - mais força do que o necessário - e levo uma das mãos até a testa. A dor faz com que cada pedaço da minha cabeça pareça que a qualquer momento vai explodir, se estilhaçar em mil pedaços e se juntar da forma mais dolorosa possível. Sinto um peso em meu abdômen e abro os olhos, logo me arrependendo ao quase gritar por conta da claridade ter atingido minhas pupilas tão rápido quanto uma bala que acabou de ser disparada. Mordo a língua ao sentir a dor amenizar e tento abrir os olhos novamente, mas com cuidado e calma. Paredes em um tom de creme suave, móveis brancos e várias almofadas pretas e beges espalhadas pelo chão de madeira escura. O peso em meu abdômen faz com que meu estômago esteja pressionado, me fazendo desejar nunca ter bebido tanta tequila do inferno. Os cabelos castanhos de Sam estão bagunçados sobre o tecido de uma camisa preta, na qual eu não me lembro de ter vestido.
- Sam ! - toco sua testa, massageando as têmporas com as pontas dos dedos.- Sammy, acorda. Anda !
- não, eu quero dormir. - seu resmungo é quase inaudível, o que me fez levantar um pouco o pescoço para conseguir o escutar direito.
- mas eu quero me levantar, então por favor, saia de cima de mim e me mostre aonde estão os analgésicos.
- okay.
Com algum esforço ele se joga para o lado, ocupando o lado direito da cama, que mesmo dormindo nela, continuou com os lençóis esticados e o edredom preto perfeitamente arrumado. Estico as pernas, tendo a total certeza de que meus vasos sanguíneos ainda estão funcionando corretamente depois da noite passada.
Acho que nunca mais vou beber desse jeito.
Me sento na cama, colocando os pés no piso gelado e finalmente acordando por completo, em cima do criado mudo de madeira branca apanho meu celular, vendo que já são quase dez da manhã e percebendo que há mensagens não visualizadas. Todas elas se Andrew.

Posso encontrar vocês no Mark's ?
Andrew ❤️.

Hey, fui no Mark's com o Brandon e acabou que aquela sua amiga disse que vocês nem foram lá. 
Andrew ❤️.

Achei que não iriam existir mais segredos entre nós.
Andrew ❤️.

Mia, aonde você está ?
Andrew ❤️.

Hey, da próxima pelo menos fala aonde você vai, não saber aonde você está é angustiante. Estou preocupado com você ! Me liga quando der.
Andrew ❤️.

Merda !
Mil vezes merda !
Dígito várias mensagens rápidas, respondendo todos os questionamentos desde a segunda mensagem que ele mandou. Meus dedos tremem, talvez seja um efeito da ressaca que vá além da dor latejante em minha cabeça.

Desculpe, Sam me convenceu a ir em uma balada nova de um amigo e eu não pude negar isso a ele.
M.

Nós íamos no Mark's, mas acabou que achamos melhor irmos para a Dionysius logo.
M.

Não existem segredos entre nós amor, eu apenas estava tão concentrada em garantir que a noite de Sam fosse tão divertida quanto ele queria. Me desculpe por não avisar, mas eu não fiz por mal.
M.

Estou indo para casa, só vou tomar um remédio e garantir que Sammy tome um também. Se quiser pode me encontrar as uma da tarde, podemos passar a tarde juntos.
M.

Largo o celular sobre a cama e apanho meu vestido e as meias, que estavam em cima do pequeno sofá capitonê cinza, e corro para o banheiro.

" "

Assim que me encontro com a minha cama sinto um alívio imediato se espalhar pelo meu corpo, o analgésico que tomei na casa de Sam não fez efeito e no momento, eu só quero dormir.
- como foi a noite ? - a voz de meu avô me faz virar o rosto em direção a porta para olhar em seus olhos.
- foi divertida. - rio sozinha ao me lembrar de Sammy brigando com a moça do bar para lhe fornecer mais tequila.
- tão divertida ao ponto do Grayson vir aqui as dez horas da noite para perguntar se eu sabia aonde você e Sam haviam se metido ? - ele cruza os braços, o suéter cinza com as mangas dobradas na altura dos cotovelos. - não avisou a ele que iria sair ?
- avisei, mas houve um problema de comunicação entre mim e Andrew, eu esqueci de mencionar que não iria mais ao Mark's e acabou que ele foi até lá e não me encontrou. - me sento, puxando o zíper das botas para baixo.
- não levou seu celular ? - vovô arqueia as sobrancelhas, o que me fez entender que está decepcionado com a escassez de informações que lhes foram dadas.
- levei, mas acabei perdendo a noção do tempo naquela boate. - arranco a bota esquerda e em seguida a direita, o ar gelado agindo como uma anestesia em meus pés doloridos. - me desculpe se deixei o senhor preocupado.
- eu não fiquei preocupado, confio no modo que criei você e não acho que iria fazer alguma besteira que pudesse colocar sua vida ou a de Sam em risco. - em poucos passos, ele de aproxima da cama, se sentado ao meu lado e colocando as mãos sobre as coxas. - mas pude ver que Andrew se importa com você e ficou preocupado com esse erro de comunicação, como você mesma colocou.
- fico feliz que confie em mim vovô, mas eu afirmo que não queria preocupar ninguém. Eu só queria dar a Sam a noite que ele merece, ele quase me implorou para acompanhá-lo e eu não poderia dizer não.
- eu sei Mia, sei que suas intenções foram as melhores. Só tente, da próxima vez, combinar tudo certinho com Sam e com seu namorado para que não haja mais esses erros de comunicação.
- tudo bem.
Uma de suas mãos fazem um carinho em meu braço esquerdo antes dele se levantar e se dirigir a porta, a fechando ao sair. Mordo meu lábio inferior internamente e meus pelos se arrepiam ao sentir o vento gelado entrando pela janela, tudo bem, está sol, mas não quente o suficiente para tornar esse vento refrescante. Me levanto sem muita vontade e jogo os cabelos para trás, dando poucos passos até a janela e esticando os braços para alcançar as partes que ficam para fora. Acabo direcionando meu olhar para a casa de Andrew, vendo Anthony Grayson e toda a sua postura de Bad Boy se sentarem em cima da Harley com uma camisa xadrez vermelha amarrada nos quadris e darem partida, sem nem ao menos olhar para os lados.
Subo o olhar até a janela de Andrew, sentindo uma pontada no peito ao ver as cortinas fechadas. Fecho a janela, trancando a em seguida e me agachando para pegar as botas. O celular toca em cima da cama, o toque é até acolhedor. Largo as botas em cima do tapete felpudo e alcanço o telefone, atendendo sem mesmo olhar quem é.

- alô ?
- ruiva, já chegou na sua casa ?
- claro, já faz uns cinco minutos. - enfio a mão esquerda no meio dos fios avermelhados, sentindo os nós se desfazendo a cada vez que os dedos deslizam para baixo.
- tudo bem se eu ir aí ?
- tudo bem, pode vir. Eu só vou tomar um banho rápido, pode me esperar na sala, vovô está lá embaixo.
- já estou indo então, até breve.
- até.

Ele encerra a ligação rápido demais, o que de certa forma, causa um pequeno formigamento em minhas entranhas.
Será que ele está bravo ?
Ou decepcionado ?
Largo o celular sobre o edredom rosa e pego as botas novamente, indo até o closet e as guardando de volta na última prateleira de sapatos, as deixando deitadas para não marcar o tecido grosso e longo. Nas prateleiras de roupas, pego uma camisa preta de mangas compridas lisa, um short jeans escuro e uma lingerie de renda preta. Deixo as peças sobre a cama e corro para o banheiro, no intuito de não demorar para não deixar Andrew esperando por muito tempo.

Desço a escada rápido, já vendo meu avô trocar algumas palavras com o rapaz sentado no outro sofá. Quando ambos escutam meus passos logo se viram para me olhar, causando o queimar de minhas bochechas.
- espero não ter demorado. - acelero os passos até o sofá de dois lugares.
- não, está tudo bem. - sua voz está baixa, diria que ele parece tranquilo.
As pernas longas escondidas dentro de um jeans escuro, uma camisa azul marinho com as mangas dobradas até os cotovelos e o Nike nos pés.
Ele fica tão lindo usando coisas básicas.
- vou na casa de John Mia, parece que o Chevrolet deu problema em dar a partida novamente. - meu avô se levanta, batendo as palmas das mãos nos bolsos da calça jeans surrada. - deixei o almoço feito no forno e é o suficiente para vocês dois.
- o senhor vai almoçar lá ? - pergunto, encolhendo as pernas no sofá.
- sim, sabe que não resisto a comida de Margareth.
- tudo bem.
- não aprontem nada.
Rio baixo e Andrew apenas confirma com a cabeça, meu avô se coloca a caminho da porta e nos deixa ali.
Sozinhos com nosso discutível problema de comunicação.

GraysonOnde histórias criam vida. Descubra agora