Capítulo 70

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Seguro a prancheta com nervosismo enquanto Michael dirigi o carro vermelho o retirando do caminhão por uma rampa de metal, mordo meu lábio e uma mão toca meu ombro e eu me viro, ainda sorrindo.
- Ah, oie Daniel. - digo empolgada.
- oie Mia, por que tanta animação ? - ele joga a mochila por cima do ombro esquerdo.
- acabei de ganhar esse carro do meu avô. - aponto para o veículo que agora está entrando na minha garagem.
- é muito bonito, seu avô tem bom gosto.
- vovô é impressionante. - ajeito meus óculos.
- se quiser podemos deixar pra terminar o trabalho amanhã, aí você pode curtir seu carro.
- não, imagina, podemos terminar hoje ainda não se preocupe com isso.
Michael sai da garagem e eu pego o controle do portão no bolso traseiro do short, fazendo com que ele se abaixe e feche. O loiro vem em minha direção com as chaves do meu carro nas mãos e um olhar interrogativo para Daniel, que devolve no mesmo nível.
- aqui está senhorita Collins, espero que goste do seu presente. - ele sorri abertamente com o boné preso na alça de seu macacão.
- obrigada Michael, eu amei o carro. - ele me estende as chaves e eu lhe entrego a prancheta.
- busque os papéis no sábado na concessionária tudo bem.
- claro.
Ele se aproxima para me dar um beijo na bochecha de despedida e a mão de Daniel para em seu peito antes que seus lábios toquem minha face.
- acho que o namorado dela não ia gostar disso. - sua voz sai grave.
Michael olha a mão em seu peito e a retira devagar, saindo devagar e me dando um aceno antes de dar partida no caminhão, buzinando ao sair.
- por que fez aquilo ? - pergunto.
- aquele mané não tinha boas intenções. - ele caminha ao meu lado até a porta de casa.
- como você pode saber disso ? - deixo a chave do portão da garagem sobre a mesa de centro e volto para fechar a porta.
- o jeito que ele te olhava, parecia que se eu não tivesse chegado ele com certeza ia tentar te cantar. - Daniel para na entrada da sala de jantar e cruza os braços.
- e iria falhar, as vezes os homens confundem gentileza feminina com flerte, o que eu realmente não sei diferenciar. - caminho até ele e entro na sala de jantar, retirando os lençóis brancos de cima dos quadros.
- o que você acha que é um flerte então ? Por parte dos homens ? - dobro os lençóis e os coloco sobre a mesa.
Daniel deixa a mochila ao lado da sua banqueta e se senta para me encarar.
- ah, eu não sei o que poderia ser uma cantada.. nunca recebi uma. - abro a caixa e retiro as tintas, pincéis e as paletas.
- nunca ? Nenhuma sequer ? - ele ri baixo.
- não tem nada de engraçado nisso. - tento não rir, mas falho ao perceber o quanto o riso dele é contagiante.
- claro que tem, você deve ser a única garota bonita que nunca foi cantada.
Bonita ?
- me achava bonita antes daquela festa ? - me viro para colocar tintas nas paletas.
- sim, não vou esconder isso. Mas sempre soube que você não era pra mim, é boa demais pra alguém como eu. - lhe entrego uma das paletas e alguns pincéis.
Os olhos azuis fixos nos meus me deixam desconcertada, sorrio fraco e não me viro para olhar seu trabalho.
- se talvez, tudo não tivesse acontecido como aconteceu, a implicância desde crianças, os apelidos maldosos que eu te dei, o que eu fiz com você a duas semanas... Se eu tivesse sido legal, talvez, só talvez eu merecesse você. - ele pega a paleta com um sorriso triste nos lábios e eu mordo a parte interna do meu lábio inferior.
- Daniel, o que quer dizer com isso ? - pego minha paleta e a deixo na frente do meu trabalho.
- eu gosto de você, sempre achei que o que eu sentia era curiosidade ou até mesmo atração, eu me odiava por estragar tudo mas me odiava mais ainda por pensar que você nunca iria me olhar do jeito que eu queria. - seu corpo fica tenso na banqueta e os olhos confusos vasculham o chão.
- sabe que a insistência é uma das proezas do ser humano, se você quer, você pode conseguir, mas tudo se maneira honesta. Eu nunca odiei você, sentia raiva por me dar apelidos, mas nunca se tornou ódio. -
- não era o que parecia.- ele ri enquanto pega os aventais que estavam pendurados no mancebo ao lado da porta. - você me olhava diferente, parecia que se pudesse apagava a minha existência da face da terra.
- eu só não entendia o por que de você me zoar, achava que você se achava superior a mim e que por isso talvez, tentasse me diminuir na frente dos outros. - pego o avental que ele me estende.
- eu fui um completo idiota metade da minha vida. - me viro para ele.
- é, você foi. Mas ainda da tempo de mudar, você pode continuar sendo você, mas sem as piadinhas ruins ou o ego inflado.
- e enquanto ao que eu fiz com você naquele dia ? Acho que não foi só você que ficou marcada, meu melhor amigo me deu uma surra e não fala mais comigo.
- já passou, tanto que estamos Aqui agora. Você aprendeu sua lição e eu já te desculpei, não a mais nada que pensar ou falar, eu estou bem. Enquanto a sua amizade com Andrew, eu não sei o que dizer, você poderia dar um tempo a ele e tentar conversar depois.
- conhecendo ele como eu conheço, fazer isso só serviria para ele me bater de novo. Andrew não confia mais em mim, e eu lhe dou razão.
- que tal fazermos assim, vamos terminar esse trabalho e depois conversamos sobre isso. Acredite quando eu digo que o que estamos fazendo agora é mais importante do que rolar outro desentendimento entre vocês.
- tudo bem, só mais uma coisa : se você tivesse me olhando uma vez, só vez como olhava pro Andrew, eu teria deixado toda a pose e o ego no inferno pra ficar com você.
Vovô, aonde você está ?

GraysonOnde histórias criam vida. Descubra agora