Capítulo 144

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Com um pedaço de maçã na boca, tento não rir enquanto Sam e Brandon discutem sobre ir ou não em uma limosine para o baile. Andrew está apenas observando, os dedos acariciando minha nuca de forma lenta, como uma massagem.
- Sam, eu tenho dois carros, não vou alugar uma limousine. - Brandon diz calmo, analisando o semblante entediado do meu amigo.
- você pode ter dois carros, mas nenhum deles é uma limousine, entenda ! - Sammy rola os olhos.
- por que quer tanto ir em uma limousine ? - Andrew pergunta, dizendo algo pela primeira vez desde que a discussão começou.
- é o primeiro baile no qual eu e Mia não estamos solteiros e então por favor, tratem de contratar uma limousine ainda hoje.
- você faz tanta questão assim de ser esse tipo de carro ? - Brandon suspira, colocando a mão na coxa esquerda de Sam.
- faço, quero que o primeiro baile do último ano do ensino médio seja perfeito.
- okay, eu alugo a limousine. - Brandon cede e Sammy bate duas palmas em comemoração.
- obrigada, você é um ótimo namorado.
Andrew sorri para mim, acho que ele também percebeu que Sam tem um certo pode de convencimento sobre os outros. Deixo o resto da maçã em cima da bandeja vermelha e coloco os cotovelos sobre a mesa.
- agora que a questão da limousine está encerrada, o que vamos fazer depois do baile ? - pergunto a eles.
- podemos ir ao Mark's tomar milkshakes e depois irmos a praia ver o sol nascer. - Andrew diz ao retirar lá dedos da minha nuca e descer a mão para agarrar minhas costelas do lado esquerdo.
- ou podemos ir para a minha casa, meus pais vão viajar essa sexta e nos temos uma sala de jogos legal. - Brandon diz ainda com a mão na coxa do meu amigo.
- para mim tanto faz. - Sammy quase ignora a ideia de sairmos após o baile, aposto que pensamentos pervertidos envolvendo Brandon e as horas seguintes após o baile ronda sua cabeça.
- okay, pensamos melhor nisso na sexta feira depois da exposição.

" "

Com os olhos cansados me jogo na cama, a cabeça doendo depois de sair da aula de economia e em seguida ir para biologia. Bocejo ao tentar esticar os dedos dos pés, uma fisgada dolorida é sentida em minhas panturrilhas e eu penso que não tem como o dia ficar pior. O celular vibra, me fazendo levantar a cabeça do travesseiro e fitar o aparelho como se pudesse o explodir com o olhar. O apanho rápido, querendo saber o que me tirou do meu momento de relaxamento.

- alô ?
- Mia, sou eu, Natan.
- ah sim, está tudo bem ?
- claro, eu só queria saber se você poderia dar um pulinho aqui em casa, tipo, agora.
- posso saber por quê ?
- Ethan, nosso conhecido do projeto de caridade, está aqui e queria conhecer você. - vozes masculinas são ouvidas no fundo e uma delas é desconhecida por mim.
- chego aí em cinco minutos.
- tudo bem então, até mais.
- até Nate.

Ele desliga, me dando o tempo que eu preciso para retirar a roupa que usei para ir a escola e quem sabe passar alguma coisa no rosto para esconder minha cara de sono.
Largo o celular sobre a cama, andando até o closet e vasculhando a arara para encontrar algo decente e que me deixe com uma boa aparência. Visto uma saia vermelha e uma camiseta de mangas longas preta, calço minhas botas over knee e me apoio na mesa expositora, escolhendo um colar ou qualquer outro acessório que possa usar. Apanho um colar com pingente de lua crescente, amarrando a fita na nuca e pegando uma base corretora para passar abaixo dos olhos. Deixo o pequeno cômodo, pegando o celular e saindo do meu quarto. Desço as escadas rapidamente, sorrindo ao ver Charlie lamber sua pata direita em cima do sofá de dois lugares.
Tão fofo.
Molho os lábios com a língua, sentindo o gosto de melancia do gloss se espalhar pela minha boca. Abro a porta, me colocando para fora antes que Josh repita o que fez na noite em que meu avô estava fora e resolva invadir a minha casa novamente. Com o celular nas mãos avanço para o quintal dos Harris, já sentindo o coração acelerar em finalmente dar ao Fufu um destino diferente do ferro velho. Subo os dois degraus da pequena escada e bato na porta, aguardando que me atendam antes que o vento comece a soprar forte e gelado. No momento em que a porta se abriu eu quase caí por conta de ter deixado o peso do corpo sobre o pé esquerdo, Natan está de calça jeans escura e uma camisa cinza.
Acho que ele não sente muito frio.
- desculpa pela demora. - ele abriu um breve sorriso.
- não tem problema.
- vem, entra.
Ele da um passo para trás, me cedendo passagem para dentro de sua casa. Ajeito os óculos sobre o nariz e entro, sentindo o perfume de Natan ao passar por ele. Quando entro na sala, avisto Josh e um homem jovem sentado ao seu lado, provavelmente ele seja o tão do Ethan. Cabelos escuros, pele cor de caramelo, um porte físico como os dos gêmeos e os olhos em um tom curioso de cinza.
- E aí está ela. - Josh se levanta, exagerando na maneira de me cumprimentar.
- oi Josh.
Ele me abraça, quase espremendo meus braços no ato.
- Mia, esse é Ethan Walker, o responsável pela organização que recolhe os carros e também pela distribuição do dinheiro para os orfanatos.
Ethan se levanta, os cabelos escuros caindo sobre os ombros. O jovem empresário veste roupas totalmente pretas, a não ser pela camisa verde musgo por baixo da jaqueta jeans.
- é um prazer te conhecer Mia. - ele estende a mão para mim, os olhos fixos nos meus.
- igualmente senhor Walker. - pego em sua mão brevemente, a soltando logo.
- só Ethan por favor.
- senta aí Mia.
Ethan volta ao seu lugar para se sentar ao lado de Josh e eu me viro para me sentar no mesmo sofá em que Natan se jogou.
- então o carro a ser doado é seu ? - a voz de Ethan é interessada.
- sim, eu o ganhei ano passado mas ele já tinha alguns anos de uso. Ele está em bom estado, está conservado e falhou poucas vezes.
- vai haver um leilão de carros antigos na semana que vem, quarta feira para ser mais exato. Eu gostaria de levar o seu Fusca para talvez conseguirmos um preço que valha mais a pena do que depenar o carro e vender as peças.
- e todo o valor é revertido para as crianças ?
- todo o dinheiro que eles recebem é para comprar roupas, sapatos e brinquedos. Ano passado quando consegui um velho Camaro, o dinheiro dele foi doado para a reforma de um orfanato no lado sul da Califórnia. - Josh responde, esticando as pernas longas cobertas pelo tecido jeans claro.
- se quiser posso te levar até a garagem, se ele der partida depois de uma semana parado, você pode o levar hoje.
- claro, ah, mais uma coisa. Eu convidei esses idiotas para irem ao leilão me ajudar, você gostaria de ir ? - claro, eu acompanho os garotos.
- ou nós acompanhamos você ruiva.
Rio baixo, dando um leve soco no abdômen de Natan.
- sem piadinhas sem graça Nate, eu sei me cuidar.
- ah, não tenho dúvida disso. - Josh ri, provavelmente se lembrando do dia em que eu lhe acertei com o taco de baseball.
- que tal irmos ver se o Fusca funciona ?
- vamos lá.
Me levanto e ajeito a saia, ficando com o rosto aquecido ao notar que Natan ainda não se levantou. Espero que Josh e Ethan passem pela porta para me retirar, tomando a frente ao passar para o meu gramado.
- vou pegar o controle do portão, esperem aqui.
Ambos param perto da árvore do meu quintal, Josh se apoia no tronco e os três começam a conversar. Abro a porta de casa, a deixando escancarada para pegar logo o controle da garagem e as chaves do Fufu sobre a mesa de centro e sair assim que puder.
- podem vir. - fecho a porta atrás de mim e aperto o botão vermelho do controle.
O portão começa a subir devagar, e eu me aproximo aos poucos. Um velho lençol branco está cobrindo o Fusca que eu costumava chamar de meu, quando sombras aparecem ao meu lado puxo o lençol, revelando o carro branco.
- aqui está a chave.
Entrego o objeto na mão direita de Ethan, que estica as mangas da Jaqueta jeans e da a volta para entrar no carro. Quando ele se senta no banco do motorista a lembrança do dia em que meu avô me deu esse presente voltam como um furacão em minha mente, um sorriso involuntário aparece em meus lábios e eu me pego encarando o velho carro com ternura.
- vamos ver se você ainda funciona.
A chave é girada e na hora eu simplesmente travei.
Esse traíra.
- parece que o seu carro está feliz em ir embora Mia.
Rolo os olhos diante a gracinha de Josh e me viro para respondê-lo.
- claro que ele está feliz, ele vai servir para uma causa muito maior do que esse seu carisma ridículo.
- é melhor calar a boca Josh.
A buzina do Fusca é ouvida, nos fazemos virar ao mesmo tempo para encarar Ethan.
- posso tirar o carro da garagem ?
- claro, se quiser passar por cima do Josh eu não me importo. - digo, cruzando os braços.
- assim você me machuca Mia.
- que pena de você Josh.
Deixo a garagem, sendo seguida pelos irmãos para dar espaço para Ethan retirar o carro da garagem sem arranhar meu Mini Cooper.
- hey Mia, cadê seu cão de guarda ?
Levanto o queixo, respirando profundamente para não mandar Josh se foder.
- isso não é da sua conta, e Andrew não é você para ser um cachorro, entenda !
Ele ri, recebendo um olhar irritado do irmão. Ethan sai da garagem com o som do Fusca ligado, a música não é tão alta mas seu que se trata de um rock antigo. Ele estaciona o carro na frente da casa dos Harris e sai do veículo, deixando a música ligada.
- sinceramente, esse caro está em ótimo estado. Vamos conseguir um bom dinheiro por ele.
- ótimo.
Pensar que a venda do meu antigo carro possa ajudar crianças em situação de abandono é reconfortante, a saudade que terei desse Fusca é pouca em relação a felicidade dos pequenos em receberem roupas novas, brinquedos e sapatos. E no final de tudo vou descansar tranquila durante a noite, sabendo que minha meta de ajudar as pessoas apenas se iniciou.

GraysonOnde histórias criam vida. Descubra agora