Grayson

Capítulo 127

O som dos trovões do lado de fora chega alto aos meus ouvidos, mesmo, eles cobertos pela camada fina do tecido da manta. Afundo mais a cabeça no travesseiro, tendo o cuidado de respirar devagar e aproveitar cada partícula do perfume que Andrew deixou em sua última visita. Em algum lugar da cama o celular toca, faço minha mão esquerda o encontrar e abro os olhos para ver do que se trata.

Acho melhor você dar um pulo aqui em casa, o babaca do Andrew previsa de ajuda.
Número desconhecido.

Pelo contexto da mensagem, ela só pode ter vindo do celular de Anthony. Um alívio percorre meu peito ao saber que Andrew está em casa.
Mas por que ele precisaria de uma ajuda ?
Me levanto depressa, arrancando o pijama de meu corpo e o jogando no chão pelo caminho até o closet, apanho uma camiseta justa branca e um suéter rosa, enfiando as pernas em uma calça jeans azul e calçando meu vans preto. Ajeito os cabelos, agora lavados e secos, em uma trança lateral e apago a luz após sair. Deixo o quarto com o celular mas mãos e os óculos quase caindo do rosto, tendo que os arrumar enquanto desço a escada. Ainda bem que John pediu uma ajuda ao meu com o velho Chevrolet em sua garagem, o que me faz ter mais tempo para apanhar um guarda chuva ao invés de explicar a situação. Pego o celular e digito uma mensagem para Anthony.

Deixe a porta aberta.
M.

Antes que eu possa fechar a porta de casa a resposta dele chega.

Tudo bem, só venha logo.
Anthony Grayson.

A rua está vazia, a chuva sempre costuma afastar quase a vizinhança inteira das ruas quando está muito forte. Tomo cuidado para andar sem molhar os pés e fico aliviada ao tocar o quintal dos Grayson's, correndo até a porta e batendo devagar.
Me enfio debaixo da pequena proteção acima da porta e fecho o guarda chuva, sendo surpreendida ao perceber a porta aberta. Entro, deixando o guarda chuva molhado escondido entre os vasos no jardim e olho em volta, não encontrando nenhum dos empregados e muito menos Anthony ou Andrew. Caminho até a sala de estar e encontro Anthony andando de um lado para o outro, com as mãos enfiadas nos bolsos frontais do jeans escuro e fitando o teto.
- cadê ele ? - minha voz parece o retirar de seu transe, fazendo os olhos azuis me encararem logo.
- lá em cima e confesso, está bêbado como um animalzinho assustado.
A voz exalando nojo, receio e talvez, um pouco de preocupação. Ele anda até mim e me pega pelo pulso esquerdo, me puxando para o andar de cima e atravessando o corredor até chegar na porta do quarto do irmão caçula. Anthony empurra a porta com o pé e se enfia para dentro do quarto, me levando junto consigo. Me solto dele e corro até Andrew, que está largado em sua cama com uma poça de vômito em seu edredom azul próximo aonde seu corpo está deitado. Anthony se aproxima e segura o irmão pelos braços, o puxando para deixá-lo de pé.
- vem, tira a roupa dele. - o comando é calmo.
Diria até que a voz de Anthony se tornou mais séria e sem nenhum resquício da típica zombaria que sempre a acompanha. Me abaixo no chão, quando já próxima das pernas de Andrew, e arranco seus tênis, subindo agora para desabotoar a calça e a puxar para baixo. Em nenhum momento o garoto de olhos verdes amendoados disse alguma palavra, seus olhos estão vazios e sem qualquer tipo de brilho.
Ao ir remover a camisa de seu corpo dei um pulo ao ver Anthony a rasgar com a maior facilidade do mundo, transformando o tecido em apenas meros trapos e os deixando cair sobre o tapete claro.
- vou enfiar ele embaixo do chuveiro e dar um banho, depois disso, ele é todo seu.
Palavras me faltaram e apenas um acendo com minha cabeça foi feito.
Aonde está aquele Anthony desprezível ?
Quando as pernas de Andrew se movem com a ajuda do irmão, eles caminham devagar até o banheiro, os braços de Anthony segurando o tórax do caçula para ajudá-lo a entrar dentro do box. Me viro rápido e retiro o edredom sujo da cama, o jogando para fora do quarto e procurando no closet uma manta mais grossa para cobrir Andrew após o banho. Apanho a roupa e os restos da camisa do tapete e as levo junto com o edredom sujo para o andar debaixo, procurando entre algumas portas a lavanderia e a encontrando próxima a cozinha. Aproveitando que aqui já estou, preparo um café forte e sem açúcar, o depositando em uma xícara média e subindo de volta para o quarto de Andrew.
Pela fresta da porta vejo Anthony deixar o irmão sentado na ponta da cama com um toalha em volta do corpo enquanto ele mesmo retira a camisa cinza branca que estava usando por ela estar totalmente molhada na frente, abro a porta e ele me olha por cima, os olhos azuis desviando entre mim e a xícara amarela em minhas mãos.
- achei que um café forte iria fazer bem a ele. - digo baixo.
- e vai, só coloque uma roupa nele antes de fazer esse idiota beber isso.
Confirmo com a cabeça e ele deixa o quarto, jogando a camisa molhada por cima do ombro antes de fechar a porta e me deixar a sós com Andrew e seu silêncio ensurdecedor. Deixo a xícara sobre o criado mudo e pego no closet um conjunto moletom e uma cueca para vestir Andrew, com as peças mais mãos me aproximo devagar, percebendo o quanto seu olhar está perdido e focado no nada. Eu nunca tinha visto ele assim, calado, os olhos tristes e sem vida.
Deixo as peças ao seu lado e pego uma das toalhas seu Anthony deixou sobre a cama, desdobrando a peça branca e longa para secar os cabelos escuros do meu Andrew. O tecido toca sua face, removendo cada traço da água gelada que ali escorreu e lavou.
Andrew parece totalmente absorto em seus pensamentos.