Destino

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-- Hye --

Passamos três dias viajando. Foi cansativo e entediante. Na China eu experimentei Dim sum¹, na Ucrânia pude comer Borscht² e na Itália Bruschetta³. Eu não pude sair muitas vezes do avião, e isso me deixou chateada. Pensei que eu poderia tirar mais proveito dos países. Mas Jimin insistia que eu ficasse lá dentro. O loiro resolveu sentar na minha frente. Passei a ignorar sua presença, deixando bem claro minha indiferença. Passamos por momentos tensos, turbulência e algumas vezes Jimin se irritou com o meu silêncio. Creio que fiquei boa parte da viajem dormindo e observando a paisagem pela janela. Prefiri não olhar para Park.

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| 16:23 PM | 24 de junho |

O vento colidiu com o meu corpo de imediato, assim que passei a descer as escadas laterais do pequeno transporte aéreo. A aeromoça — que me tratou muito bem — me ajudou a descer apoiando-me em seu braço. Uma chuva fraca caía sobre o território francês. Eu vi vários homens carregando as malas e pertences. O lugar era enorme, a pista estava molhada e bem conservada. No horizonte eu pude ver o prédio onde certamente os aviões eram colocados em épocas de inutilidade ou para reparação. Uma Mercedes branca estacionou há uns metros de nós. Jimin após uns minutos surgiu ao meu lado, ajeitando seu casaco preto. Ele segurou meu antebraço e seguiu até o carro me puxando impacientemente. Olhei para trás, antes de entrar no veículo, acenando para a aeromoça, que sorria também mandando um tchau.

— Vocês sabem para onde nos levar garçons⁴. — Jimin fechou a porta, dizendo aos dois homens, que eram certamente funcionários, da frente. Fiquei em uma ponta, bem longe do loiro. Minhas mãos estavam com manchinhas roxas, causadas pelo frio. Era como se meu nariz estivesse congelado, assim como as pontas dos meus dedos. Cheguei a comparar aquilo com o inverno na Coréia, que ocorria em janeiro rigorosamente. — Hoje você vai conhecer minha mãe. — Senti seu corpo ficar mais próximo, mas não o olhei. A estrada onde estávamos era feita de areia. Não dei atenção para a paisagem pouco natural. Me concentrei mais nas gostas de chuva que deslizavam pelo vidro. Cheguei a desenhar algumas coisas. — Haeun... — Jimin leu o nome que eu tinha escrito. — Um belo nome.

Um tempo depois passamos por uma encruzilhada e em seguida chegamos a uma pista. A chuva foi ficando cada vez mais fraca. Isso me deixou tranquila. Pois a água estava deixando a pista escorregadia, e uma acidente poderia acontecer. Fechei os olhos, tombando a cabeça para trás. Soltei um suspiro. O sono estava me invadindo. O carro deu uma manobra para a esquerda, me fazendo ir com tudo para o lado direito. Minha cabeça se chocou contra as coxas do rapaz, o atrito ecoou dentro do automóvel. Me levantei sem mais delongas, me recompondo. Jimin deu um riso quase imperceptível e virou seu rosto para a direção contrária. Revirei os olhos.

Após um período percebi que estávamos no centro de Paris. Imaginei que iríamos para um lugar mais afastado, escondido ou secreto. Porém tudo ocorreu incoerente ao que eu pensei. O carro foi diminuindo a velocidade e eu fiquei em alerta, praticamente grudada a janela. Depois de tantas horas finalmente estávamos no nosso destino. O portão com duas abas e com o brasão da família Park abriu-se dando passagem para o carro. Admirei o grande jardim que tinha até mesmo um lago artificial. Reparei também em gatos e cachorros correndo pela extensão do gramado. A mansão era branca, realmente muito linda. O veículo estacionou bem em frente a entrada, onde a escadaria era revelada. Outros dois carros chegaram depois de nós. Jimin saiu primeiro, seguidamente eu me retirei. O carro foi-se para outra área, assim que passamos a subir as grandes escadas principais.

— Levem as malas para o segundo andar. Quarta porta a direita. — O mais alto ordenou aos que estavam entrando na casa com as malas em mãos. Os homens assim fizeram, obedecendo-o. Jimin fechou sua mão em meu pulso conduzindo-me pelo grande hall de entrada redondo e bem decorado. Cruzamos o cômodo inicial. Eu até fiquei incomodada porque não tiramos os sapatos antes de entrar, mas como eu já não estava no meu país de origem, relevei. Quando chegamos na sala, engoli em seco. — Mãe! — A mulher alta estava escorada perto de uma janela, que ficava atrás do sofá bege. Ela se virou, olhando Jimin sorridente.

— Oh! Meu filho chegou! — Veio até nós dois, dando um abraço apertado em seu filho. Juntei as mãos em frente ao meu corpo, nervosa. Quando Sra. Park direcionou sua atenção para mim, apenas a encarei indiferente. — Então é essa a estúpida? Hmm... Parece mesmo com a mãe dela. — Analisou meu rosto.

— Sim. Ela realmente herdou a beleza dela. — Jimin se jogou no sofá atrás de si. Sra. Park parecia uma bruxa me olhando. É uma comparação digna, digamos. Ela deu dois passos até ficar bem rente ao meu corpo. Não pisquei, não hesitei em encará-la fixamente e muito menos tremi de medo. Tudo que senti foi repulsa e raiva da maldita. — Vai com calma, mulher. — Jimin se levantou e segurou a mão de sua mãe, ela insistentemente queria enfiar uma faca em meu abdômen, porém Park estava tentando impedi-la. Eu pude ver todo o ódio em seu olhar, sua mão com veias vultosas e sua tremedeira denunciar hesitação e insegurança.

— Solta. — Ela sussurrou.

— Eu mal cheguei e você já quer me matar?! — Sorri minimamente, provocando-a. — Pois bem, vejo que terei uma rivalidade com a senhora. — Oscilei o olhar entre a faca e seus olhos.

Slave (Park Jimin - BTS) Onde histórias criam vida. Descubra agora