"Eu posso até te amar..."

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-- Hye --

Mergulhei e fui movimentando as pernas e braços lentamente, enquanto me deslocava em uma direção qualquer. Só sei que quanto mais eu nadava, mais eu afundava. Por dentro, a água tinha uma coloração um pouco esverdeada. Era incrívelmente lindo. Os raios solares fracos ficavam mais radiantes ainda, e iluminavam o fundo do rio. Voltei a superfície, recuperando o fôlego e voltando a boiar com meus pensamentos confusos. O sol já estava menos agressivo, acho que o fim de tarde se manifestava aos poucos conforme a escuridão dominava a área.

— HYE! — Virei meu rosto bruscamente. Encontrei então o rapaz na beira do rio. Me assustei com seu grito, contudo fiquei ainda mais apreensiva quando vi sua expressão não muito confiável. Jimin tirou sua camisa, revelando seu peitoral esbelto em pouquíssimo tempo. Quando ele entrou na água, meu coração disparou inevitavelmente. Engoli em seco, enquanto minha mente tentava raciocinar uma maneira de sair do local e escapar da surra que eu levaria, mas a aproximação dele me deixou nervosa e eu mal conseguia pensar. Fui recuando, enquanto Park ficava mais perto. Estávamos quase no meio do rio, uma área com pedras e consideravelmente mais funda. — Por que saiu de casa?

— Fica longe... — Quase escorreguei em uma pedra, mas por sorte consegui me manter firme na superfície. — Jimin, não ouse se aproximar... — Olhei para baixo, podendo ver as pernas do garoto se preparando para nadar mais rápido. Tornei a olhar em seus olhos. — Jimin... — Dei um impulso para trás, mas infelizmente ele foi mais rápido e conseguiu me alcançar. Enlaçou seus braços em minha cintura e conseguiu unir nossos corpos agilmente. Minhas mãos, por instinto, foram até seus bíceps. Ele estava sério, coisa que me deixou mais assustada. Pensei em inúmeras maneiras de me livrar da posição, mas me encontrava voando em sensações inexplicáveis. Aquelas esferas negras me prendiam, e eu não conseguia parar de encarar o rosto dele. Senti que nem ele sabia o fazer, ou falar. Assim como eu, Jimin estava intacto. Sem reação.

Quando retornei ao meu estado de pânico, passei a dar socos fortes na parte superior do tronco do rapaz, me debati e talvez eu me metesse em uma encrenca após aquilo, mas não me importei. Jimin me imobilizou.

— Vamos sair daqui. — Me obrigou a enlaçar minhas pernas em seu quadril. Segurou firmemente minhas coxas. — Segure-se em mim, vai ser melhor pra você. — Virei meu rosto, não querendo manter um contato visual tão intimidador com ele. Durante nossa ida até a saída do rio, a respiração ofegante do garoto me deixou tensa. Seus músculos estavam contraídos, fazendo com que eu pudesse vez sua dobras musculares em sua clavícula e ombros. Meu Deus... Ele era forte demais.

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Entramos na casa novamente. Ele me carregava rapidamente entre os corredores. Seus cabelos pingavam ainda, seu peito subia e descia com rapidez, provavelmente por conta do esforço tão extremo que estava fazendo para me carregar. Não era a primeira vez que eu era carregada por ele, mas eu sempre sentia um frio na barriga. Talvez medo que ele fizesse algo de ruim. Entrou no quarto e deu os pequenos passos até me jogar no cama. Soltei um ganido manhoso, já que minha cabeça se chocou contra a cabeceira da cama. O loiro ficou andando de um lado ao outro, bem ao meu lado. Pôs seu cabelo molhado para trás. Desviei o olhar assim que pude, já que... Aishh... Por que homens com abdômen definido nos deixam tão tensas? São só músculos.

— Você me dá cada problema! — Bufou, parando de andar. De canto pude vê-lo me encarar. — Por que saiu? Sabe que aquele matagal é cheio de campos de treinamento com armas, não?

— Não. — Cruzei os braços e respondi baixinho. Eu apenas fitava a porta do banheiro, que ficava de frente para o pé da cama. — Eu soube da morte do meu pai. — Tentei manter a voz firme o suficiente. — E agora todos pensam que estou morta... — Escutei um riso contido, que me fez franzir o cenho e tornar a olhar o descarado. — Está rindo de quê? Seu estúpido! — Peguei uma almofada e joguei contra seu rosto. — Aish... — Levantei. Eu iria até o banheiro, porém não pude. Já que Jimin me impediu. Acho que eu iria perder meu braço, de tanto que ele gostava de apertá-lo.

— Eu também perdi meu pai, Hye. — Meus olhos se encheram de lágrimas. — Sei o que sente. Mas não adianta tentar fugir de mim. — Senti tanta raiva de suas palavras vazias. Ele não depositava sinceridade em nada que dizia. — Eu sinto muito... — Eu não deixei mais nenhuma palavra sair da boca do maldito. Me descontrolei de uma hora para outra, e desferi um golpe certeiro na face impecável do mais velho. Dei-lhe outro soco, porém naquela vez foi no peito. Passei a agredir toda a parte possível. Enquanto chorava raivosa e ressentida. Como se a cada imagem de meu pai, minha força aumentasse e eu quisesse gastá-la em Jimin. Ele cambaleava para trás, não tendo um minuto de sossego, pois eu não parava. Eu dizia coisas desconexas, o xingava vez ou outra. Mas não deixava de culpar Park pela morte do meu pai.

— JÁ CHEGA! — Gritou segurando meus pulsos e me impedindo de continuar as agressões. Cheguei ao ponto de pôr o mais alto contra a parede, ao lado da porta. — Ficou louca? De onde tirou essa ideia de que sou o culpado da morte do seu pai?

— Não seja cínico! Panaca! — Consegui dar mais um tapa. — Você não tem ideia do quanto tenho vontade de te matar, ou de... Esfregar seu rosto na lama e te fazer pagar por tudo! — Ele inverteu a posição, me pondo contra a porta. — Por que ainda tenta me enganar fingindo ser outro? Por que ainda mente? Não é mais fácil me matar? Para de ser tão cínico! — Passei a derramar mais lágrimas. O quarto estava mal iluminado, logo eu não podia ver nitidamente o rosto dele, mas sabia que suas feições eram bravas. Sua respiração era semelhante a de um touro. Jimin estava extremamente enraivecido. — Jimin! Fala alguma coisa! Vai continuar fingindo ser o bonzinho?

— Hye... Não pense que sou um monstro... — Murmurou. Ri fraco debochando da frase contraditória.

— Eu já comprovei o quanto você é um lixo... Acho que sua própria mãe tem desgosto de você. Você é um monstro! — Dei ênfase na última palavra.

— Eu só quero JUSTIÇA! — Me chacoalhou ao dizer o fim da frase, minhas costas se chocaram mais uma vez contra a madeira, doeu. — A vida toda eu fui preparado pra enfrentar sua família, fui treinado pelos melhores fuzileiros... Sou especialista em táticas e sei exatamente o que fazer para conquistar o meu dinheiro. Eu sou um homem como quaisquer outros, quero me casar, ter filhos... — Ele acha mesmo que isso o faz ser um homem? — Mas antes de tudo, quero destruir sua família... Você, seu irmão... Tudo!

— Não! Na minha família e nem no meu filho você não toca! — Vociferei.

— Seu filho? — Sorriu maléfico. — Essa criança tem o meu sangue, e não duvide que ela também irá ser como eu.

— Não! Este bebê é só meu! E não vou deixar que seja um... Vagabundo como você! — Fiz uma expressão desdenhosa ao me referir a Jimin.

— Escute bem... Eu não sou uma pessoa muito paciente, e você sabe disso. Então, na próxima vez que você sair sem minha permissão, já sabe... Eu não vou ter piedade, nem na cama, nem na banheira, nem no balcão da cozinha, muito menos no chão. — Elevou ainda mais seu tom, me assustando.

— Por que você nunca aprende? Não percebe que isso só vai te levar a cadeia, a decadência mental?

— Hye... Eu posso até te amar... Mas eu sempre serei o mesmo.

— Você nunca amou alguém?

— As que amei, morreram. Todas elas foram vítimas de mortes dolorosas. Elas não eram compreensíveis, elas não tinham o que você tem...

— E o que eu tenho?

— Você tem meu sangue. Você tem meus traços, você tem... Aishh... Eu só te quero perto de mim, Hye. 

Slave (Park Jimin - BTS) Onde histórias criam vida. Descubra agora