Encontro

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-- Hye --

Me senti tão bem depois daquele abraço. Os braços de Chanyeol me acolheram, me trouxeram paz e uma sensação de bem estar. Eu ainda soluçava violentamente, porém fui parando aos poucos. O rapaz me ergueu do chão e em seguida me pôs sentada na cama, enquanto mexia em meus fios, provavelmente bagunçados.

— Eu estou com medo. E se ele aparecer novamente? — Apertei a mão no moreno. Ele estava de joelhos na minha frente, e também tinha água nos olhos. — Eu não quero que ele volte.

— Não fique assim. Eu sei que você vai conseguir superar tudo isso. Eu estarei aqui, com você. — Envolveu meu rosto com suas mãos macias e quentes. — Confie no seu oppa.

— Tudo bem. — Sorri de canto, sem ânimo algum. Chanyeol sentou-se ao meu lado. Seus dedos tiravam alguns fios rebeldes que caíam sobre meu olho esquerdo. — Obrigada.

— Não há de quê.

— Claro que há. — Deixei de encarar o chão e direcionei meu olhar para ele. O polegar do mais alto limpou meu rosto molhado. — Você está se esforçando para me ajudar, e está conseguindo. — Ele sorriu mais largo.

— Senhorita Ku...

— Me chame só de Hye. — Cortei-o. — Não gosto de formalidades.

— Então, Hye... — Corrigiu-se. — Sei muito bem como está sendo difícil superar tudo isso. Creio que receber a notícia de um casamento de uma hora para outra lhe deixou em choque. Porém, talvez, nosso casamento não dure muito tempo, tudo depende de nós dois. — Pegou em minha mão. — Se tivermos que nos casar, por que não tentamos pelo menos sermos amigos?

— Ok. Então seremos amigos? — Arqueei uma sobrancelha. Ele assentiu sorrindo sem mostrar os dentes. — Oppa, não se preocupe com nada. Eu já entendi o porquê desse casório, e pode ter certeza de que eu não vou interferir.

— Tem certeza?

— Sim. Eu tenho.

Esbanjando um sorriso sincero meu noivo se pôs de pé. Fez carícias em meu rosto e retirou-se do quarto, deixando a porta aberta. Quando ele saiu de perto, me senti mais vulnerável, mais sozinha, e um bocado com medo de que aquelas vozes aparecessem novamente. Porém nada aconteceu.

— Noona? — Um pequeno surgiu na porta. Seus cabelos pretos e lisos estavam do mesmo jeito, com um penteado famoso pela Coréia entre os homens, seus olhinhos negros se encontraram com os meus. Hyon era uma criança tão adorável. Fiquei de joelhos e esperei seu corpinho pequeno entrar em contato com o meu. — Pensei que você nunca iria voltar. — O apertei contra mim, com tanta saudade.

Meu irmãozinho tinha apenas quatro anos na época. Ele com certeza não tivera sido avisado do meu sequestro, acho que meus pais o enganaram inventando qualquer breve desculpa esfarrapada. Então resolvi não tocar no assunto do meu sumiço, já que Hyon era muito desconfiado e eu não sou a pessoa mais indicada para mentir para um ser humano tão frágil.

— Noona, eu tive medo de você não voltar mais. Eu fiz um monte de desenhos pra ti, sabia? — Sorriu assim que rompemos o aperto. Só então percebi que Chanyeol estava encostado no batente da porta, atrás de Hyon.

— Não se preocupe mais com isso, eu já estou aqui, não? — Pisquei um olho, o que fez Hyon dar uma risadinha baixa. — Me mostre seus desenhos. — Levantei e segurei sua mão gordinha.

— Tchau noivo da minha noona. — Hyon saudou Chanyeol, que sorriu com as palavras inesperadas do menino, animadamente. — Vamos, noona.

Cruzamos o corredor em direção ao quarto de meu irmão. Hyon amava fazer desenhos para mim, apesar da idade ele sabia desenhar coisas maravilhosas – na medida do possível – e que me deixavam muito orgulhosa.

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A noite já tinha caído sobre a Ásia. Estávamos no jantar. Eu não tinha feito muitas coisas durante aquele dia, na verdade tudo se baseou em brincar com Hyon o dia inteiro. O menino estava sentado a minha frente, e não parava de sorrir para mim, acho que ter sua noona novamente em casa o deixou mais energético ainda. Hyon estava eufórico.

— Senhores Ku, eu já conversei com Hye sobre nosso casamento. — Inesperadamente ele pegou em minha mão, que estava sobre a mesa, e a apertou. Meu coração acelerou, eu estava nervosa com tudo aquilo.

— Você aceita nossa decisão? — Meu pai indagou me encarando.

— Hum... — Murmurei olhando para meu prato. — Sim, eu aceito. — Sorri fitando Chanyeol. — Acho que ele será um ótimo marido, o melhor. — Eu queria até dizer com ânimo, mas minhas palavras soaram sem sentimentos, sem sinceridade, porém isso não impediu que meus pais acreditassem em mim.

— Noona vai se casar! Eba! — Hyon bateu palmas animado. Eu sabia muito bem que o safado só queria um sobrinho pra brincar com ele.

— Se os senhores nos permitirem, eu e Hye vamos ter um encontro. — Chanyeol avisou-os. Meus pais sorriram como nunca. Acho que no fundo daqueles olhares eu via orgulho.

— Podem ir. — Meu pai permitiu.

Nos despedimos de meus pais e Hyon com breves acenos. Peguei minha bolsa, que estava apoiada na cadeira, e ajustei meu vestido. A peça tinha manga longa, eu queria esconder as marcas que eu tinha nos ombros. Pode parecer doideira, mas tive que passar base em alguns hematomas. Eu me sentia feia com tantas marcas, então o melhor era tentar escondê-las de todos.

Cruzamos a sala e chegamos ao hall de entrada. Tiramos as pantufas e colocamos os sapatos para sairmos. Resolvi usar um salto não muito alto, de cor preta, básico. Meu noivo usava roupas não muito formais, estava mais despojado. Usava calça jeans, camiseta branca com alguns botões abertos, com a manga longa dobrada até os cotovelos, um tênis preto com sola branca e apenas um colar de ouro. Estava belo e cheiroso como desde a primeira vez que eu tinha o visto. E então fomos porta afora.

Na frente da casa estava um conversível preto nos esperando. Ele abriu a porta para eu entrar, e assim fiz. O rapaz deu a volta no veículo e sentou ao meu lado. Ligou o carro.

— Para onde vamos? — Perguntei.

— Surpresa. — Sorriu acelerando.

Fiz silêncio logo após. Saímos pelo grande portão de saída – sim, eram dois portões, um para sair e outro para entrar – e seguimos para um lugar que até então eu não sabia onde era.

-- Writer --

Jimin estava do mesmo jeito. Já não comia ou bebia há horas. Sua situação era deplorável. Diversas vezes ele chorava, se arrependendo de seu passado. Porém, pouco a pouco as lembranças iam embora, logo logo Jimin não lembraria nem do próprio nome. Para ser mais objetiva, Jimin já tinha chegado ao ponto em que nem lembrava que era filho de um criminoso.

— Vamos levá-lo ao laboratório. — Um homem de jaleco branco entrou na sala e ordenou aos agentes. — Vamos!

Começaram a tirar as correntes que prendiam os braços e pernas do garoto. O loiro ao ser solto caiu de cara no chão, pois já não tinha forças para ficar de pé. Os rapazes pegaram-no com violência e começaram a carregar o corpo imóvel e banhado de sangue. O asiático fechou os olhos e deixou escapar um gemido de dor arrastado. Ele franziu o rosto e sentiu seu corpo ser deslocado. Sua mente estava ficando vazia, e era um processo penoso, talvez Jimin não suportasse tanta dor e a perda de sangue.

Várias imagens passavam rápido demais na cabeça dele. Uma moça de cabelos longos e ondulados chorava, uma criança morena o chamava de "appa", Jimin via-se sendo baleado, eram coisas do passado que estavam escapando de sua memória com o passar dos segundos. Depois de dez minutos sendo carregado pelos homens, ele já tinha esquecido boa parte do que um dia vivenciou. Suas células estavam sendo substituídas e logo Jimin seria um verdadeiro gênio, dono de uma inteligência invencível.

— O processo de substituição celular já está sendo finalizado. — O grande especialista em neurologia disse enquanto anotava em sua prancheta as reações aparentes do organismo de Jimin. — Acho que amanhã ele acorda renovado por completo. — Contou ao outro médico, que assentiu.

— E se ele não suportar a ação da substância? — O médico inqueriu.

— Não poderemos fazer nada. 

Slave (Park Jimin - BTS) Onde histórias criam vida. Descubra agora