Afaste-se

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-- Hye --

Nunca senti tanta dor na minha vida. O parto normal foi doloroso, mas ao mesmo tempo emocionante. Eu apertava os lençóis a minha volta, inclusive as mãos de Sara, que ficou ao meu lado limpando o suor da minha testa e me dando o apoio necessário. Elas pediam diversas vezes para que eu não desistisse e que colocasse toda a força que eu pudesse. Quando a cabeça da criança se pôs pra fora, eu apenas me senti aliviada, mas continuei a luta, com os olhos e meu sexo ardendo. Foram minutos que mais se pareceram com horas. Tudo a minha volta parecia se desmanchar e a dor ser a única coisa existente naquele momento. Sara pediu para que eu abrisse mais um pouco as pernas, e assim fiz sentindo uma grande quantidade de sangue sair de mim.

— Nasceu! Nasceu! — Monalisa exclamou. O choro que eu tanto fiquei ansiosa para ouvir preencheu o cômodo. Os trovões se mesclavam com os gritos da pequena menina. O bebê ainda estava envolvido com sangue e algumas partes da placenta, mas isso não foi motivo para eu não querer o pegar. Sara envolveu Haeun com uma manta verde água e aproximou-a de meu corpo. As lágrimas rolavam. Foi tão emocionante pegar o pequeno ser em meus braços e o acalentar com o meu calor e sutis carinhos em seu rostinho.

— Se chamará Haeun. — Sorri contente observando cada cantinho da face avermelhada dela. Haeun não nasceu com muitos cabelos, mas seus poucos fios eram pretos e lisos. Sua cabeça estava toda suja, logo ela precisaria de um banho. Seu corpinho tão pequeno e leve me deu medo, eu a segurava com todo o cuidado do mundo, para não lhe causar dor ou desconforto. — Shh... Omma está aqui. — Acabei sussurrando coreano pra ela. A recém nascida choramingou mais baixo, mas já não se movia com tanta aflição, como minutos antes.

— Haeun... — Escutei um sussurro, e só então percebi que Jimin estava entrando no quarto. Ele sussurrou mais algumas coisas, mas eu não dei atenção, apenas continuei segurando minha filha e dando-lhe carícias. Mas notei que a menina não se mexia, não chorava, estava petrificada.

— Por que minha bebê não se mexe mais? — Minha voz saiu um pouco falhada, com uma pontada de rouquidão. — Não se mexe... — A chacoalhei com leveza, mas nada aconteceu. Olhei para Jimin com aflição estampada na cara. Ele parecia tão surpreso quanto eu. — Jimin... Ela não se mexe! Não pode ser... — Ele se aproximou mais um pouco e tentou tocar nela, mas não deixei. — Afaste-se!

— Annie... Me dê a criança! — Estava próximo, com um de seus joelhos sobre a beira da cama. Neguei com um aceno e trouxe a pequena para mais próximo do meu peito. Sara e Monalisa olhavam a cena atentas, ao pé da cama. Intercalei meu olhar entre elas duas e Jimin. — Jagi...

— Não me chama de Jagi! — Aumentei o tom. — Deixe ela comigo... — Umedeci meus lábios secos com rapidez e tentei erguer meu tronco, mas estava fraca demais para isso. Ele bufou e mais uma vez cogitou pegar Haeun, mas eu estapeei sua mão afastando-a.

— Eu só quero o bem da nossa filha. — Murmurou. Um raio iluminou por completo o quarto e eu sobressaltei no colchão, com o coração a mil. Encarei Jimin com súplica nos olhos. Ele estendeu os braços para Haeun. — Me dê ela, eu vou a levar ao hospital. — Olhei para minha menina e fechei os olhos selando sua pele com sutileza. Escutei um resmungo de Haeun, como se ela fosse chorar novamente. — Eu prometo que ela volta bem. — Entreguei-lhe Hae e ele a acomodou em seus braços, deixando-a rente ao seu peitoral. Nunca pensei em o ver segurando uma criança daquela maneira, com zelo.

— Ela vai ficar bem! — Sara estava emocionada. Seus olhos já estavam cheios de lágrimas. Monalisa já estava higienizando minha vagina, por sorte eu não tinha sido mutilada ou algo do tipo, mas ainda sentia um incômodo naquela parte sensível. Assenti para Sara e quando olhei para o lado, Jimin já estava saindo do quarto com minha pequena. Tive vontade de gritar, eu tinha medo de perdê-la. — Você terá que ir ao hospital, assim como Haeun. Precisa de acompanhamento... — Se aproximou limpando minhas lágrimas mais recentes. Concordei engolindo em seco.

Slave (Park Jimin - BTS) Onde histórias criam vida. Descubra agora