Estrelas

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-- Hye --

O percurso foi normal. Chanyeol se mantinha atento ao trânsito de Seul, por isso não conversamos tanto. Por alguns eternos – e bons – segundos fiquei a admirar a beleza daquele homem. Ele realmente me encantava até mesmo na maneira como se concentrava na movimentação dos outros veículos. Céus! Que homem!

— Está tão fissurada em minha beleza? — Ele parou o carro, pois o semáforo estava vermelho, e me olhou risonho. Não resisti àquele sorriso, tão cheio de sinceridade, e acabei por também mostrar meus dentes.

— Ah, eu só estava... — Senti uma vergonha tão grande. Chanyeol tinha me pegado no flagra. Minhas bochechas, inevitavelmente, pegaram fogo. — tudo bem, eu admito. Você é bonito. — Virei meu rosto para a direção contrária, não querendo ver a reação dele.

— Não tenha vergonha. Não estou querendo parecer convencido, mas realmente minha beleza encanta. — Acelerou quando finalmente o semáforo permitiu que ele seguisse.

— Bobo. — Murmurei.

— Sou mesmo, e com orgulho. — Escutei uma breve risadinha soprada.

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Depois de tanto esperar, por fim estávamos no tal lugar do encontro. Caminhávamos de mãos dadas em um parque. Chanyeol segurava firmemente minha mão, enquanto com a mão livre ele pusera em seu bolso. Eu sempre achei isso um charme a mais dele.

— A noite está tão linda, não? — Ele comentou olhando para o céu.

— Sim, cheia de estrelas. — Concordei. Olhei para cima, assim como ele. — Eu passei três meses sem ver as estrelas. — Pensei. Justo nos momentos mais especiais lembranças vinham ao meu encontro para atormentar-me.

— Quer comer algo? — Ele parou de andar e soltou minha mão. Fiquei de frente para ele. Mexi no cabelo.

— Humm... não seria má ideia. — Sorri. Chanyeol também acabou sorrindo. Tirou a mão no bolso e assentiu tirando de um dos bolsos traseiros sua carteira. — Ya! Posso pagar o meu, não precisa.

— Hye! Eu sou seu noivo, posso pagar sim. — Desviou a carteira de minha mão. — Já volto, fique aqui.

Assenti e o mais alto foi andando entre as pessoas. Várias crianças passavam por mim. Todas felizes e estavam a cantar cantigas infantis. Todo aquele furdunço de crianças me fez lembrar de Elisa. Eu até sentia um medo da reação dela, como seria ficar longe de mim? Eu tinha que ter paciência, ter Elisa ao meu lado demoraria. Talvez até mais que meu casamento com Chanyeol. Uma menina começou a correr ao meu redor. Sorri encantada com a felicidade dela.

— Moça! Está calor! Por que veste roupas assim? — Ela indagou.

— É o meu estilo.

— Entendi. — Correu para outra direção com outras garotas.

Espero que estas marcas sumam logo. — Só havia uma marca que nunca iria deixar de ficar de mim.

— Eu disse pra você não se mover. — Ficou sério novamente. Levantou minha camiseta e fincou o objeto em brasa na minha barriga com força, e sem hesitar ou protestar algo a mais.

Soltei o grito mais alto que já dei em toda a minha vida. Ele estava queimando a minha pele, marcando-a pelo resto da minha existência.

— Hye? Por que está chorando? — Quando me dei conta eu já estava derramando lágrimas ao lembrar do meu passando doloroso. Chanyeol tinha dois baldes de pipoca em mãos. Olhei-o limpando meu rosto. — Está lembrando dele novamente?

— É inevitável, mas eu não vou continuar chorando. Tenho que ser forte. — Funguei. — Vamos comer?

— Vamos. — A expressão de preocupação ainda estava estampada na cara dele. Sentamos em um banco.

Ele me deu um balde de pipoca. Dentro do balde, além de pipoca, tinha uma garrafinha com Coca-Cola. Eu até pensei que estaria alimentando de forma equivocada meu bebê, ele nasceria obeso. Pensamentos tão estúpidos e sem noção eu tinha.

— Nós ainda não estamos na surpresa. Fica esperando. — Ele estava parecendo um esquilo. Foi então que me veio outra lembrança.

— Eu não entendo por que Jimin não quis que comessemos na sala de jantar. Eu nem estou tão cansada. – Peguei o hashi e pus um pouco de arroz no meu prato. — Ele é estranho.

— Talvez ele ache que as meninas não são uma boa companhia para você. – Sua boca já estava cheia. Ri de sua cara, parecia um esquilo.

— É, deve ser isso.

Jessie fazia tanta falta. Eu mal sabia onde ela estava. Minha esperança de reencontrar minha amiga era viva.

— Por que você fica assim? — A voz do meu noivo tirou-me dos desvaneios. — É mania?

— Assim como?

— Olhando para o nada, como se pensasse em algo. Chora e ri para o vento. É uma mania sua? Achei estranha. — Minha lembranças são estranhas. — Tem uma explicação?

— É, é uma mania minha. — Menti. Dei um gole no refrigerante. — Você deseja ter filhos? — Encarei-o.

— Sim. E você?

Eu já tenho. — Ri fraco pensando tal coisa. — Uhum... sempre quis.

— Qual nome você daria?

— Ainda não pensei nisso. Gosto do nome Chin-hwa. — Contei.

— É um nome bonitinho. Para meninas eu gosto de ChaeYong.

Esse nome também é bonitinho.— Dei ênfase na última palavra. Chanyeol riu da minha cara. — Fala sério? Você acha que eu não ia revidar?

— Tá. Desculpa se eu pareci desprezar o nome que você disse, só não acho ele tão bonito. — Disse entre os suspiros que dava de tanto rir.

— Ok. — Tornei a comer.

Chanyeol estava sendo ele mesmo. Foi isso que mais me atraiu nele. Na maioria das vezes o garoto interpreta alguém que não é ele na frente da garota, mas Chan não fez isso. Ele foi mais espontâneo, mostrou ser alguém que sabe conversar, foi divertido, pagou comida – se você paga comida para Ku Hye, você se torna a pessoa mais legal da face da terra – para mim. Ele foi um verdadeiro rapaz dos sonhos, educado e compreensivo.

— Nossa! Você já comeu tudo? Parece que come por dois! — Riu. O meu balde de pipoca estava vazio, e eu já tinha terminado de bebericar a Coca.

— Eu estava com fome, só isso.

Jogamos os baldes e garrafas em uma caçamba que havia por lá. Voltamos a andar pelo parque. Durante a noite aquele lugar ficava todo iluminado. As pessoas costumavam chamá-lo de "luz". Simplesmente porque se você fosse lá, iria encontrar alguma coisa que lhe faltava. E em mim faltava muita luz. Jimin havia roubado minha luz interior, aquela que te traz vontade de viver, de sorrir e não desanimar.

Hye. Acho que as pessoas não estão tão felizes com a sua presença. — Era a voz de Jimin novamente dentro da minha cabeça. — Você é suja, impura, está escondendo um bebê de todos. Suja! Imunda! Vadia! Merece morrer junto com esse bebê! — Olhei para todas as pessoas ao nosso redor. Elas me olhavam com cara de pena, algumas até mesmo com desdém. — Se mate Hye! Você não merece viver! Se mate antes desse bebê nascer! Matar... matar... — Tampei minha audição não querendo escutar mais aquelas palavras.

— Hye! Vamos embora daqui! — Chanyeol segurou minha mão, porém eu a soltei e voltei a tampar meus ouvidos.

Eu voltarei, pegarei esse bebê e você irá ficar sozinha! Como sempre! — Minha cabeça latejava. Chan me abraçou de lado e fomos andando em direção a saída do parque.

— Você precisa de um psicólogo. 

Slave (Park Jimin - BTS) Onde histórias criam vida. Descubra agora