Monstro

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-- Hye --

Estiquei minhas pernas porque doíam, e eu precisava exercitá-las.

Meu corpo todo estava dolorido, principalmente as costas, que estava contra o tronco da árvore. Eu não sentia mais meus braços, isso me deixou preocupada, eu poderia perdê-los.

Comecei a espirrar sem parar, o que era agoniante, já que toda vez que eu me esforçava para espirrar meu tronco latejava dores intensas.

"Por que é tão difícil não desistir?"

Pouco a pouco o que eu sentia por Jimin ía se aprofundando, e um vasto medo camuflava esse sentimento. Isso me machucava mais e mais.

O que mais me machucava não eram os machucados ou cortes, e sim a sensação de ter sido enganada, de ser uma iludida, incapaz de fazer algo para mudar o que estava me atormentando.

Eu estava convicta de que Park não era o que eu imaginava, na verdade, seu sorriso, sua voz, suas mãos, e todo aquele jeitinho fofo, haviam me enganado, pois o verdadeiro Jimin estava de baixo no meu nariz o tempo todo, mas eu não notei.

Sede.

Minha sede era tanta, que cheguei a abrir a boca para que as últimas gotas de chuva aglomeradas nas folhas me dessem o de beber.

Choque.

Eu sempre imaginei o que fazer para sobreviver em momentos de perigo ou de extrema emergência, mas quando finalmente chega a hora de pôr o plano em prática, você trava e se sente inútil.

Nao há nada a fazer.

A frase que rodava a minha mente. Realmente, eu não tinha saída.

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Já era provavelmente umas nove e pouco da manhã, já que nesse horário os empregados íam ao jardim, cuidar das flores e da natureza que rodeava a mansão. Nenhum dos funcionários me olharam, e mesmo que me olhassem, era com um olhar desdenhoso.

— Pode me dar um pouco de água? – Pedi a uma garota, também doméstica, que passara a minha frente.

— Desculpe, Sr. Park disse que nenhum dos empregados podem lhe dar de comer ou beber. – Contou. Percebi que ela tinha a língua levemente presa.

— Tudo bem. – Não expressei reações, apenas tornei a abaixar a cabeça e lamentar pela fome e sede.

— Aguente firme. – A menina curvou-se brevemente e caminhou em direção a mansão apressadamente.

— É difícil seguir em frente, nessas condições. – Murmurei.

De uma hora pra outra uma coisa gelada começou a lambuzar meu rosto. Um lindo cão de cor caramelo lambia minha cara animadamente.

— POPÓ! – Uma voz fina fez o cachorro parar de me lamber. Uma menininha agachou-se ao lado dele, pondo uma coleira em seu pescoço. — Você sempre se solta e corre.

Encantada com a beleza daquela menina, sorri. A criança tinha os cabelos longos e castanhos, além de olhos verdes intensos, uma mestiça.

— Oi moça! – Sorriu.

Não falei nada, eu estava rouca, praticamente sem voz.

— Eu sou a Elisa. – Curvou a cabeça levemente. — E esse é meu cachorro. — Contou-me contente.

Em meio a tantos bandidos, uma criança ainda sorria inocentemente. Não sabia exatamente o porquê, mas algo nela me lembrou o Jimin.

A garota e o cão foram se afastando entre as árvores e plantas. Suspirei completamente cansada.

-- Jimin --

Depois de uma rotina matinal estressante de muitas reuniões era finalmente o momento de soltar Hye.

— Como ela está? – Perguntei a uma das minhas assistentes. Caminhávamos pelos corredores, em direção a saída para o jardim.

— Muito machucada.

— Ah, normal. – Pus as mãos nos bolsos, desinteressado. — Cuide dos outros sócios da empresa, diga a eles que o fluxo de cocaína diminuiu, e eu quero mais e mais. Fabriquem mais!

— Sim, senhor. – Ela foi para outro caminho, ao contrário do meu.

Cada vez mais que eu me aproximava de onde Hye estava, eu sentia aquele aperto, aquela hesitação em vê-la, eu não queria ver, mas eu teria que soltá-la antes que ela morresse.

De longe, do alto da varanda, eu a vi. Suspirei e tomei coragem para me aproximar mais um pouco.

A morena tinha a ponta do nariz vermelha, havia pegado chuva e isso não foi favorável para sua saúde. Sua boca estava seca, e ela tremia.

— Não encosta em mim. – Sussurrou com a voz falhada, quando eu tentei tocar seu frágil rosto.

— Hye... – Tirei as mechas que atrapalhavam sua visão. — Eu vou te tirar daqui, mas não pense que eu mudei, hum? – Peguei em meu bolso um canivete, eu sempre levo uns comigo pra todo lugar que vou.

Comecei a cortar as cordas. A cada corte, Hye puxava o ar entre os dentes, estava sendo uma tortura para ela, com certeza. Quando tirei as duas primeiras cordas, ela suspirou.

— Você é um monstro, não? – Não me olhou, apenas fitava a grama.

— Hum... – Ri fraco. — Sim, mas só com quem merece. Digamos que eu goste de ver sangue humano nas minhas mãos, é um hobby.

Ao terminar de retirar as grossas cordas, tentei não encarar o rosto sofrido de Hye, odeio ver pessoas frágeis assim. Seus braços estavam com cortes profundos, e muitos arranhões. Isso arrancou-me um sorriso.

— Vamos, levanta. – Ergui-me do chão. A menina não se moveu. — Aish! – Puxei seu braço, ela soltou um grunhido em reprovação, a tomei em meu colo rapidamente. — Eu não sou muito delicado, então se doer eu nem vou me importar, vai ser assim mesmo.

-- Jessie --

Taehyung estava mexendo no meu cabelo, enquanto eu estava com a cabeça em suas pernas.

— Hye, deve estar sentindo dores intensas nesse momento. – Comentei.

— Eu vou dar um jeito nisso. – O moreno prometeu-me.

— Você disse isso a uma semana e nada aconteceu. – Alfinetei-o.

— Desculpe, eu só não tive ideias ou brechas para ajudá-la. Esse lugar é muito vigiado, é muito complicado fugir. – Encarou-me com cara de frustração.

— Hye não merece isso. Acho que mal sabe que é a herdeira da CB. – Fitei o teto fazendo bico, eu também estava frustrada, pois eu não poderia fazer nada para ajudá-la naquele momento.

-- Hye --

A coisa fofinha entrou em contato com minhas costas. Era a cama.

Irei chamar a Jessie, ela vai cuidar de você, já que eu não tenho paciência pra isso.

— Nada pode cuidar de mim. – Deixei escapar tais coisas.

— Por quê?

Não respondi. Apenas deixei-o sair do quarto sem entender.

Decepção não se cura tão fácil.

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Jessie já havia chegado. Eu já estava bem alimentada e aconchegada.

Cuidava dos meus ferimentos com todo cuidado do mundo.

— Você tem sorte, os cortes não vão ficar marcados, fica tranquila.

— Que bom. – Não articulei com muita animação.

— Você está decepcionada, não?! Eu diria que te entendo, é muito esmagadora a sensação de ser enganada. Mas você supera. – Sorriu.

— Por que ele é assim? Tem alguma doença mental?

— Não. Ele não tem bipolaridade, nada do tipo. Nasceu entre a arte do crime, cresceu assim e se puder, morrerá assim, no mundo dos bandidos. Jimin é assim porque seu pai quis. – Terminou de limpar meu braço.

Slave (Park Jimin - BTS) Onde histórias criam vida. Descubra agora