"Você quer a verdade?"

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-- Hye --

Eu observava meu reflexo na água daquele lago. Não estava tão frio, era apenas uma brisa sutilmente gelada que tornava a noite agasalhada para alguns. Eu não tinha expressão, me mantive séria enquanto meu rosto se distorcia conforme a água se movimentava. As estrelas e a lua também eram refletidas. Era como se o lago fosse o próprio céu radiante de Paris. Umedeci meus lábios secos e fechei os olhos, discernindo o cheiro forte que as flores exalavam. Quanto tornei a abri-los, a figura se fez presente ao meu lado. Serena. Eu poderia admirar sua face pelo resto da noite. Eu poderia desejar seus lábios carnudos e tocá-los para tirar deles algum sabor. Porém, eu nem sequer tinha uma boa imagem dele. Um homem que fez barbaridades, mas que mesmo assim tinha uma beleza única.

A água tornou seu rosto mais brilhante. Sua pele alva contrastava com a água escura. Passei meus olhos pelo seu reflexo. A água era a porta de nossas encaradas. Como se não tivéssemos coragem suficiente para ficar frente a frente e fitar um ao outro. Seus cabelos loiros foram para o alto, revelando ainda mais suas feições joviais. Suspirei e uma massa de ar quente saiu de minha boca. Dei meia volta, para talvez me afastar dele. Mas meu corpo parou, congelou, no exato momento em que sua voz rebelou-se:

— Fique aqui. Não quero ficar sozinho. Eu não aguento. — Por mais que seu tom fosse inofensivo, minha confiança nele era inexistente. Dei passos, tomando mais distância. Todavia nossa proximidade foi retomada. Jimin me puxou, me abraçou e não me soltou. Uma sequência que me fez arregalar os olhos. Sua boca estava rente a minha orelha direita, e a respiração pesada me fez ter arrepios.

— Eu tô contando os segundos pra você me soltar. — Murmurei. — Larga! — Aumentei o tom de voz minimamente. Ele afrouxou o súbito abraço. Aproveitei a oportunidade para correr. Enfrentei o gramado, tentando entrar na casa. Quando já estava dentro da mansão e próxima a escada, vi Sra. Park me encarar no outro lado da sala. Subi os degraus ignorando a velha rabugenta. O tapa ardente que eu tinha dado-lhe não me pareceu o suficiente pra apagar o fogo do cu dela. Aish... Que merda!

Ao retornar ao meu quarto tranquei a porta e me joguei na cama. Eu sinceramente tinha gostado do meu novo cantinho. Não era um cômodo grande. O guarda-roupas tinha portas espelhadas e era embutido. A cama ficava centralizada, bem em frente a janela enorme de vidro. O criado mudo era pequeno e sobre ele tinha um abajur com luz amarela. As paredes eram brancas e continham quadros simples. Fitei o teto e fechei os olhos. Necessitei apenas de um belo banho, oração e observar pela janela a torre para conseguir, finalmente, adormecer.

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A madrugada tinha chegado. Certamente todos na casa dormiam. Eu tinha sede, na verdade, muita sede. Com a cara amassada e o cansaço ainda me perturbando levantei da cama. Eu estava de descalça, acabei tendo preguiça de calçar as pantufas. Destranquei a porta com medo de alguém escutar o som da chave. O ranger sutil da porta me deu um frio na barriga inesperado. De fininho andei pelo corredor. Apenas um lustre estava ligado, sua luz era fraca e amarelada, no corredor. Ao descer as escadas, passei a escutar uma gritaria intensa.

— COMO ASSIM? ESTÁ FICANDO DOIDO? — Era a voz da Sra. Park. Olhei para o lado encontrando mais um corredor, adentrei-o tendo como guia as vozes. Cheguei em uma porta com duas abas. E os gritos continuavam. — Eu vou te fazer uma pergunta... — Fiquei grudada na porta, curiosa como sempre. — Você está gostando dela? Me diga!

— Aishh... — Jimin urrou.

— RESPONDE! — Algo se espatifou no chão. A briga tava ficando feia.

Você quer a verdade? — Foi a vez de Jimin gritar. — Sim! Eu tô gostando dela! A menina que desde seu nascimento fez de nossas vidas uma tempestade. Aquela maldita me conquistou! — Ele parecia irritado com as próprias confissões amorosas.

— Imprestável! — Levei um susto quando algo se chocou contra a madeira. — Eu te avisei! Eu te disse! Agora não há mais volta! — Sra. Park foi diminuindo o tom. — Só quero... Uma coisa! — Escutei passos pelo corredor.

— Diga!

— Não desista do nosso plano por causa dessa paixãozinha...

— ... — Ele riu. — Querida, quando eu tiver aquele dinheiro, eu vou dar o fora com o meu filho e com a minha garota... Tô cagando pra você!

— Se a ama tanto, por que a estuprou? — Ah! Belo questionamento.

— Naquela época eu era um babaca, cego. Mas... Depois de tudo que aconteceu... Parece que o brilho dos olhos dela é a minha fonte de felicidade. — Franzi o cenho após a frase ser dita. A mulher riu alto. Como se aquilo fosse a coisa mais engraçada de se ouvir.

— Um moleque que nunca amou uma mulher... Dizendo isso? Hye te odeia, acha mesmo que vai conseguir ficar com ela e o bebê?

— Ah! Vai se fuder! — A porta foi aberta abruptamente. — Hye?! 

Slave (Park Jimin - BTS) Onde histórias criam vida. Descubra agora