Te Espero No Farol

Estaca Zero

Depois que Gabriela saiu do banheiro, Carolina ficou tanto tempo ali dentro que se assustou quando a porta tornou a abrir, aproximadamente dez minutos depois. Nem sabia de verdade o que esteve fazendo esse tempo todo, olhando para o próprio reflexo do espelho e vagando em cenas e mais cenas do passado. Meu Deus, será que estava enlouquecendo.

Quem entrou dessa vez foi Lívia, que fechou a porta e se virou de sobrancelhas franzidas.

- Você sumiu, véi. O que aconteceu? - Ela perguntou, se aproximando.

Peixinho suspirou e a olhou pelo reflexo do espelho. Lívia estava linda naquele vestido casual e cabelos soltos. Sabia que tinha metido-a em uma encrenca das brabas, afinal a beijou em público, logo ela quem se dizia hetero e que tentava manter as aparências por causa da filha de oito anos. Tornando a suspirar, passou a mão no rosto com força, nem se preocupando com a maquiagem que usava.

- Gab veio aqui - foi a única coisa que disse, ainda perdida em pensamentos.

- Você não tá bem, Carol. Vem aqui - Lívia a puxou pela cintura e a abraçou. - Gabriela te tira do sério, você não tá sabendo lidar com tudo que tá sentindo. Eu conheço você. Cara, você me beijou. Tem noção disso?

- Eu sei - Carolina a abraçou apertado e ficou em silêncio, segurando o choro com todas as forças.

- Você não é disso. Sabe que eu faço tudo por você né? Até te beijar no meio de todo mundo.

- O que a Bela vai pensar disso? - Uma lágrima teimosa escorreu. - Li, me desculpa...

- Pare com isso, eu não tô chateada. A gente sempre se meteu em encrenca juntas, por que seria diferente hoje, meu amor? E qual o problema de Bela saber que eu beijei uma mulher? Isso é natural e não há nada de errado, ela tem oito anos, mas tenho certeza que tem a mentalidade mais madura que de muita gente por aí.

- Mais madura que a minha - Carol choramingou e mais uma lágrima escorreu.

Dessa vez Cady riu e a apertou mais ainda.

- Você agiu como uma adolescente e eu tava até agora tomando esporro por ter te apoiado nisso - ela voltou a rir e Peixinho escondeu o rosto no tecido do vestido dela. - Você passou quatro meses tendo brigas e desavenças com Gabriela e estava decidida a seguir em frente. Aí você a vê e toda a barreira que você conseguiu armar durante um mês inteirinho caiu em segundos. Eu também teria surtado e continuaria surtando por muito tempo.

- Por que você me conhece tanto?

- Momentos desesperados exigem medidas desesperadas. Eu sei que você vai ter a mentalidade de colocar tudo em seu devido lugar. Você ama Gabriela e ela ama você.

- Mas eu não quero passar por tudo aquilo de novo, Li... - Carol chorou.

- Você não precisa passar se não quiser. Pode continuar dizendo que tá comigo, mas sem ferir os sentimentos de vocês duas. Porque quando você a ferez, acaba se ferindo também. É inevitável.

- Eu sei disso... Prometo que vou pensar no que fazer, mas antes de tudo, eu vou pedir desculpas.

- Essa é a Carolina que eu conheço e amo - Lívia disse com carinho e a afastou de seu corpo por um momento. Peixinho a observou, os olhos vermelhos por causa do choro. - Eu quero que você faça a coisa certa, mas se você fizer tudo errado, eu vou tá com você mesmo assim.

- Eu te amo, sabia? - A baixinha fungou.

- Eu que te amo.

(...)

Peixinho até queria falar com Gabriela assim que saiu do banheiro, mas quando chegou na pista, ela já não estava mais lá. De acordo com as meninas do grupo de Gafish, elas já tinha ido embora para o hotel, e Carolina ficou arrasada.